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Armas, supremacistas e o tuíte de Trump: A equação do assalto ao Capitólio, nos EUA

Provas apontam que Trump instruiu seus fanáticos, sabendo que muitos estavam armados, a interromper a certificação do voto eleitoral em 2021
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Donald Trump convocou forças direitistas extremistas para um assalto sedicioso ao Capitólio com sua mentira de que a eleição foi “roubada”, apesar de saber que não existia evidência de fraude. Com isso, tentou, pela primeira vez na história do país, descarrilar a transmissão pacífica do poder Executivo depois de uma eleição, segundo conclusões do comitê legislativo que investiga a tentativa de golpe de Estado nos Estados Unidos (uma prova disso foram as confissões de um autor estadunidense de intentos golpistas em outros países).

Na sétima audiência pública do Comitê Seleto sobre o 6 de janeiro que investiga a tentativa de golpe de Estado que culminou com o assalto violento ao Capitólio, foram apresentadas evidências e testemunhos de como o ex-presidente convocou suas fileiras ultradireitistas, muitos deles armados, aos quais prometeu que seria um dia “selvagem” em Washington.

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Foi apresentada evidência de que Trump, em um ato premeditado, instruiu seus fanáticos, sabendo que muitos estavam armados, a interromper a certificação do voto eleitoral que se realizaria no Capitólio, com violência, como sua última tentativa para permanecer no poder depois de esgotar todas as outras tentativas – inclusive perdendo 60 de 61 casos judiciais em diversas entidades do país – para disputar o resultado das eleições presidenciais de novembro de 2020. Vários assessores e advogados e o Departamento de Justiça lhe haviam informado que não existia evidência de uma fraude massiva para justificar sua recusa aos resultados. 

Mas um grupo de assessores externos, entre eles o general retirado Michael Flynn, a advogada Sidney Powell, Rudy Giuliani e Roger Stone, lhe insistiram em que não cedesse. Vários deles tinham relações diretas com agrupamentos direitistas, incluindo forças paramilitares.

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Na audiência foi narrada, com a ajuda de testemunhos de um elenco de ex-funcionários e assessores do presidente, entre eles o advogado principal da Casa Branca, Pat Cipollone, uma reunião em 18 de dezembro de 2020 onde explodiu a gritos a disputa entre os oficiais do Executivo e o que alguns chamavam de “os loucos” externos.

Entre as propostas dos “loucos” estavam a de uma ordem executiva para ordenar que as forças armadas confiscassem as máquinas eleitorais do país e nomeassem Powell – que havia propagado alegações de que os chavistas da Venezuela e os chineses haviam ajudado a roubar a eleição – como promotor especial para investigar as acusações de fraude por parte do presidente.  

Estas ideias nunca prosperaram, mas depois de horas de discussão, o então presidente se retirou à sua residência e, na madrugada, enviou um tuite famosos – que foi qualificado por um deputado como “o tuite que mudaria o curso da história deste país” – convocando seus fiéis à manifestação em Washington, que concluiu: “estejam presentes, será selvagem”.

Esse tuite, segundo os investigadores legislativos, foi a primeira vez que Trump direta e publicamente convocou seus seguidores a acudir a Washington no dia em que o Congresso realizaria a sessão conjunta para certificar o resultado – o último passo da eleição – que confirmaria o triunfo de Joe Biden.

Provas apontam que Trump instruiu seus fanáticos, sabendo que muitos estavam armados, a interromper a certificação do voto eleitoral em 2021

Twitter | Reprodução
O deputado Jamie Raskin do Comitê, resumiu o que Trump fez nesse dia: “enviar uma chusma armada ao Capitólio para usurpar a vontade do povo”

Os “loucos” e agrupamentos extremistas

De imediato, os “loucos” e agrupamentos extremistas promoveram a manifestação de 6 de janeiro como um “apelo às armas”, junto com cidadãos comuns que apoiavam Trump. A mensagem foi difundida pelas redes sociais e amplificada pela ampla gama de meios direitistas, alguns dos quais já advertiam a violência “para salvar o país”. Grupos supremacistas difundiram mensagens dizendo que em 6 de janeiro começaria uma “segunda guerra civil”, outros falaram de uma “revolução branca como a única solução” , alguns mais falavam de assassinar democratas , e outros especulavam que Trump declararia “lei marcial”. 

Entre os agrupamentos mais destacados, estavam os Proud Boys e os Oath Keepers os quais se aliaram para participar nas ações de 6 de janeiro, com um chat privado chamado “ministério de defesa nacional”. Seus líderes enfrentam agora acusações formais de “sedição” por tentativa de derrubar o governo. Entre seus vínculos com o círculo de Trump estavam o ex-general Flynn e Stone – a ambos, seu amigo lhes outorgou perdão presidencial. 

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O deputado Jamie Raskin do Comitê, resumiu o que Trump fez nesse dia: “enviar uma chusma armada ao Capitólio para usurpar a vontade do povo”. 

Na audiência de quarta (13), também se apresentaram duas testemunhas ao vivo. Jason Van Tantenhove, que foi porta-voz dos Oath Keepers, e hoje condena seu velho agrupamento, à qual descreveu como “uma milícia perigosa”. Advertiu que “é por pura sorte que não houve muito mais sangue, porque aí está o potencial para isso… temo que sucederá na próxima eleição… tivemos um presidente que instou a uma guerra civil… o que acontecerá se for eleito outra vez se não conseguirmos que essa gente preste contas”.

Jason Ayres não era integrante de um agrupamento, mas foi convencido, como muitos de seus amigos, por Trump. Portanto, aceitou o convite para ir ao protesto e depois seguir suas instruções de subir ao Capitólio. Ayres foi preso por sua participação na ação que o presidente lhe pediu. Ele já não acredita em Trump, mas agora está preocupado porque milhões o seguem ainda. “Sou homem de família e amo meu país, mas tinha antolhos… temos que tirar os antolhos e ver o que realmente está acontecendo”. 

Ao final da audiência, Ayres se dirigiu a alguns dos policiais do Capitólio, incluindo um dos mais de 100 que foram feridos neste dia, para pedir perdão. 

Comunismo, ataques e ameaças: A mente de Trump às vésperas do assalto ao Capitólio

Tudo terminou com outra revelação explosiva: a deputada Liz Cheney do comitê seleto informou que uma testemunha cuja identidade ainda não é pública nesse processo, recém recebeu uma chamada telefônica de Trump, que não respondeu. O comitê informou ao Departamento de Justiça para investigar o que poderia ser um delito grave de tentar influenciar ou intimidar testemunhas nesse processo de investigação. 

Mas talvez o mais assombroso do dia aconteceu fora, pouco depois de concluída a audiência quando a CNN entrevistou o ex-assessor de segurança nacional de Trump. John Bolton, perguntando se podia ser qualificado como tentativa de golpe de Estado o que fez o ex-presidente. O entrevistador Jake Tapper comentou que não se requer ser brilhante para tentar um golpe de Estado e Bolton lhe respondeu: “estou em desacordo com isso. Como alguém que ajudou a planejar golpes de Estado – não aqui, mas, já sabes, em outros lugares – requer muito trabalho”.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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