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Capitólio: Motivados por Trump, extremistas defenderam enforcar vice por recusar golpe

Então presidente pressionou Mike Pence a fazer algo "que nenhum outro vice-presidente jamais havia feito": rechaçar votos e declarar Trump ganhador
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Os assaltantes do Capitólio que buscavam parar a certificação da eleição presidencial pelo Congresso em 6 de janeiro de 2021, montaram uma forca de madeira na frente do Capitólio e disseram em coro, entre outras coisas, “enforquem Mike Pence” com o endosso do presidente Donald Trump.  

O enfoque da terceira audiência pública realizada pelo Comitê Seleto sobre o 6 de janeiro na última quinta-feira (16) foi a pressão e as ameaças de Trump e sua equipe contra seu próprio vice-presidente Pence para frear e reverter os resultados da eleição presidencial de 2020

O comitê seleto está apresentando, pela primeira vez em público, as evidências e testemunhos que arrecadou ao longo de quase um ano de investigação, oferecidas através de advogados e altos funcionários da Casa Branca de Trump e Pence. Segundo os documentos, o presidente – depois de fracassar por outras vias – tentou obrigar seu vice-presidente a invalidar ou reverter os resultados da eleição.  

O deputado democrata Bennie Thompson, presidente do comitê seleto, explicou que o papel de um vice-presidente em certificar a eleição é presidir a sessão conjunta do Congresso que verifica a contagem final do voto do colégio eleitoral, processo que estava sendo levado a cabo no Capitólio em 6 de janeiro. Trump, resumiu, “queria que Mike Pence fizesse algo que nenhum outro vice-presidente jamais havia feito… rechaçar os votos eleitorais e declarar Trump como o ganhador e retornar esses votos aos estados para serem contados de novo. Pence disse que não, resistiu à pressão, sabia que era ilegal… Somos afortunados pela valentia de Pence em 6 de janeiro já que nossa democracia chegou perigosamente perto de uma catástrofe”.

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Isso pôs Pence em grande risco pessoal, indicou Thompson, assinalando que quando o vice-presidente se recusou a cumprir com os desejos de seu chefe, uma turba estava dizendo em coro ‘enforquem a Mike Pence’”. Embora a democracia tenha sobrevivido a esse dia, “o perigo não se retirou”, reiterou Thompson.

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Plu7 – Montagem
Pence foi pressionado por Trump para provocar uma crise constitucional





Trump sabia

A deputada republicana Liz Cheney, vice-presidenta do comitê seleto, agora repudiada e atacada pela cúpula e bases republicanas por atrever-se a participar nesta investigação, comentou que Trump sabia, e havia sido informado de maneira repetida, que um vice-presidente não tem autoridade legal para reverter ou rechaçar a contagem eleitoral, e que, guiado por um advogado, John Eastman junto com Rudy Giuliani, Trump buscou pressionar a Pence – sempre leal ao presidente – para fazê-lo de toda maneira. 

Um juiz federal, David Carter, emitiu uma decisão sobre o argumento legal de Eastman de que o vice-presidente tinha a autoridade de reverter o voto, afirmando que sua proposta era “um golpe [de Estado] em busca de uma teoria legal, reportou o político. Eastman, revelou o comitê, dias depois do assalto, solicitou um indulto presidencial preventivo, mas Trump nunca respondeu. 

Thompson recordou que Trump e sua equipe já haviam tentado reverter ou anular os resultados da eleição presidencial de 3 de novembro antes desta última opção; haviam apresentado 62 demandas legais, nenhuma delas prosperou e haviam buscado convencer a autoridades estaduais a invalidar o voto, e quanto tudo isso fracassou, buscaram que Pence unilateralmente declarasse seu chefe como o ganhador. 

“Creio que se Pence houvesse obedecido às ordens do presidente durante a sessão conjunta do Congresso… e declarasse Donald Trump como o próximo presidente apesar dos resultados do Colégio Eleitoral e do voto popular, essa declaração houvesse sido algo parecido a uma revolução dentro de uma crise constitucional”, e a primeira desse tipo na história de república, testificou o ex-juiz federal conservador Michael Luttig na audiência desta quinta-feira.


Uma estaca foi enterrada no coração da democracia

Em sua declaração preparada para esta audiência, Luttig escreveu que “uma estaca foi enterrada no coração da democracia estadunidense em 6 de janeiro de 2021 e nossa democracia hoje está no fio da navalha”. Concluiu advertindo que Trump e seus cúmplices continuam representando um “perigo” presente à democracia estadunidense já que agora “buscam ter êxito em 2024 onde fracassaram em 2020”. 

Por outro lado, o comitê estabeleceu, com base nas testemunhas, incluindo um assessor de Pence que estava com ele no Capitólio neste 6 de janeiro, que Trump estava sabendo que seu vice-presidente corria perigo físico durante o assalto violento de seus fanáticos quando enviou seu famoso tuíte atacando Pence, declarando que “não teve a valentia de fazer o que necessitava fazer” e com isso nutrindo a raiva da turba.

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Na audiência foram mostradas pela primeira vez em público fotos de Pence e sua equipe quando ele e todos os congressistas foram evacuados diante do assalto ao Capitólio; o vice-presidente foi levado pelo Serviço Secreto a “quartos seguros” subterrâneos dentro do complexo legislativo.  

Segundo informação em poder do Comitê, revelou-se, também por primeira vez, que em “um momento havia aproximadamente só 12 metros – isso era tudo o que havia – entre o vice-presidente e a turba” durante o assalto ao Capitólio, declarou o deputado democrata Pete Aguilar, um dos integrantes do comitê seleto, sublinhando que não há dúvida que “a vida do vice-presidente estava em perigo”. 

Enquanto procedia a audiência, Trump enviou uma mensagem aos seus seguidores declarando uma vez mais que as audiências do comitê são parte de uma “caçada de bruxas” partidária e exigiu que lhe fosse dado o mesmo tempo para “detalhar a fraude massiva do voto” – ou seja, insistindo na “grande mentira” de que perdeu por fraude, sem nenhuma prova.


Caçada

Mais de 100 candidatos republicanos a postos estaduais e federais que ganharam suas primárias no que vai do ano, expressam apoio ao argumento de Trump de que a eleição de 2020 foi marcada por fraude, reporta o Washington Post, indicando que em várias partes do país o preço de entrada para competir por postos eleitorais a candidatos republicanos é repetir a “grande mentira”. 

É por isso que integrantes do comitê seleto junto com uma ampla gama de analistas continuam advertindo que a democracia institucional dos Estados Unidos continua em perigo muito depois da tentativa de golpe de Estado de 6 de janeiro. 

Pelo menos três audiências públicas do Comitê Seleto serão realizadas proximamente.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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