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Às vésperas do segundo turno, grupo explica como o bem viver se aplica à cidade de SP

Processo para "pensar a cidade" envolvendo cerca de mil lideranças e mais de 150 entidades, apresentou propostas para levar a população mais carente da cidade
Mariane Barbosa
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Com as eleições municipais, assuntos delicados da cidade de São Paulo voltaram naturalmente à pauta cotidiana da população. Em uma disputa acirrada para o segundo turno entre o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) e o candidato Guilherme Boulos (Psol), temas como a “qualidade de vida paulistana” se tornaram essenciais no debate eleitoral.

Porém, antes mesmo das eleições e da pandemia de coronavírus, a Conferência São Paulo Sua, um processo para “pensar a cidade” envolvendo cerca de mil lideranças das camadas médias universitárias e dos setores populares de mais de 150 entidades, instituições e movimentos da sociedade civil representando setores associativos, universitários, sindicais, culturais, ambientais e religiosos se reuniram em prol do conceito de “viver bem”.

Segundo o grupo, o objetivo, divulgado através de um documento oficial no fim de setembro, é apresentar as convergências que formam o caule e as raízes para conquistar uma cidade menos desigual, mais participativa e com mais oportunidades.

Durante os encontros — de início presenciais e que devido à pandemia passaram a se adequar ao formato online —, líderes de diversos setores sociais da cidade concordaram que “a cultura do bem viver os desafia a pensar qual a cidade queremos do ponto de vista da qualidade existencial coletiva, física e espiritual, dos seus habitantes, de seus espaços e equipamentos e das comunidades da natureza à qual pertencemos”. 

Ao contrário do que Covas tem pregado durante sua campanha, o coletivo ressalta que a metrópole precisa adotar um conceito de vida que afaste seu atual modo de ser e pensar, que leve a população mais carente a experimentar uma São Paulo compartilhada e não apenas a São Paulo dominada por “elites inescrupulosas, com paradigmas colonizadores das mentes e da vida”. Afinal, “não é um destino natural o sofrimento e as misérias materiais e espirituais”.

O coletivo explica que o maior desafio é criar uma sociedade do bem viver, definido como um “viver harmonioso consigo próprio, com o outro e com o Planeta”, e que São Paulo pode mostrar o caminho para um paradigma pela vida, instaurando um novo tempo, respeitando toda e qualquer diferença. Abrir-se a todas as possibilidades de regeneração ainda pulsantes para ver brotar a vida em todas as regiões degradadas urbanas e rurais. 

“Numa cidade rica como São Paulo, distribuir, e não concentrar, é a vocação da justiça e da ética para se formarem as bases de uma nova civilização no mundo. Conhecimento, cultura e inovação rimam com trabalho, renda e bem viver.”

Processo para "pensar a cidade" envolvendo cerca de mil lideranças e mais de 150 entidades, apresentou propostas para levar a população mais carente da cidade

Caê Vasconcelos / Ponte Jornalismo
Numa cidade rica como SP, distribuir, e não concentrar, é a vocação da justiça e da ética para se formarem as bases de uma nova civilização.

Mas, como o conceito do bem viver pode ser aplicado à cidade de São Paulo? Entre as propostas apresentadas pelas lideranças e setores populares, aqui vão algumas de suma importância para o momento político e histórico que hoje vivemos:

– Garantir segurança alimentar, reavivando o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e o Plano de Segurança Alimentar do Município de São Paulo/Conselho Municipal (Comusan) e criando centros de referências nos bairros, restaurantes populares, hortas comunitárias, centros de distribuição de baixo custo, cinturão verde, bem como reaproveitamento de sobras, dietas alimentares saudáveis, orgânicas, vegetarianas, veganas e macrobióticas nas escolas.

– Fazer gestão dos resíduos sólidos, com a participação dos catadores com remuneração privada. Estender a responsabilidade do pós-consumo aos produtores. 100% da coleta e compostagem de orgânicos pela Prefeitura. Fim das embalagens descartáveis. Incentivar a cultura dos 3 “Rs” (reduzir, reutilizar e reciclar). Campanhas de redução de produção de lixo pelo consumidor final. Caminhar, decisivamente, em direção à economia circular.

– Fortalecer a cultura e a educação ecológicas, arborizar ruas e parques, educar com a natureza e aproveitar terrenos vazios para o uso social, como hortas, jardins, viveiros de mudas.

– Ampliar a mobilidade e a energia não poluentes alternativas aos automóveis, como ciclovias, metrôs, andarilhos urbanos. A Prefeitura deve priorizar obras com energias limpas e/ou renováveis. Democratizar pontos de recarga nos locais públicos, de trabalho, comércio, alimentados com energia solar, para bicicletas, patinetes, motocicletas, veículos compartilhados elétricos. Fomentar a eletrificação dos veículos de serviço, como caminhões de coleta do lixo, ambulâncias e caminhonetes de entrega de mercadorias.

– Defender os mananciais, reabilitando os rios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí, recuperando, aos poucos, as nascentes e os cerca de 200 mananciais encobertos pelo modelo industrial pesado do século XX.

– Saneamento universal na metrópole, começando pelos bairros vulneráveis da periferia.

– Estimular as florestas em áreas urbanas, espaços comuns e residenciais.

– Regenerar e conservar a Mata Atlântica, as florestas, as matas nativas e seus biomas que ainda resistem. Valorizar e apoiar os indígenas guaranis contra a desapropriação de matas preservadas e nativas para especulação imobiliária. Apoiar a demarcação de terras e a criação do Parque do Jaraguá.

– Reconhecer e valorizar as etnias e a interculturalidade, com a inclusão e o reconhecimento na vida da cidade.

– Fortalecer a cultura jovem periférica e seus coletivos com recursos públicos, tanto da periferia quanto do centro, os pontos de cultura e de encontro, o Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), a Lei Aldir Blanc etc..

– Estimular a arte pública para a sensibilidade urbana, para ocupação de lugares públicos e reencantamento deles, carnaval, saraus, eventos, blocos, arquitetura, artes murais, grafite, performances, virada cultural, Paulista Aberta, passeatas poéticas, museus a céu aberto, territórios culturais etc..

– Garantir a liberdade de expressão nas escolas, com debates sobre direitos humanos, culturais e da natureza. Caminhos para o bem viver das próximas gerações. Questionar formas de controle e censura como o Escola Sem Partido.

– Estimular a cultura de paz e a defesa da não violência, contrária também à violência contra LGBTIs, negros, moradores de rua, mulheres, imigrantes.

– Institucionalizar o bem viver, com a criação do Fórum Permanente do Bem Viver em São Paulo, articulando redes, organizações e instituições para seus valores, práticas e indicadores (IBV).


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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