Pesquisar
Pesquisar

Azerbaijão impõe controle de Nagorno-Karabakh e 10 mil armênios temem represálias

Baku já desenhou um plano para a reinserção econômica e social da população armênia que aceite a “nova realidade” e queira ficar no Karabakh
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Pouco menos de duas horas durou a reunião que mantiveram na quinta-feira (21) na cidade de Evalakh os representantes do governo do Azerbaijão e das autoridades armênias de Nagorno-Karabakh. Mais que negociações sobre o futuro da república independente não reconhecida, pareceu um simples trâmite no qual Baku impôs as condições e fixou os prazos para cumpri-las, convencido de que logrou recuperar pela força a soberania sobre todo o território em disputa há mais de trinta anos.

Há diferentes versões sobre o papel que desempenharam no encontro as forças russas de manutenção da paz: agências noticiosas dizem que um oficial assistiu como testemunha ao encontro e outras fontes asseguram que os militares russos se limitaram a garantir que os delegados Karabakhis chegassem por terra a Evlaj. 

Ofensiva do Azerbaijão contra armênios reacende tensões no Sul do Cáucaso

O que se sabe é que o deputado azeri Ramin Mamedov, nomeado em março passado, “responsável pelos contatos com os habitantes da região de Karabakh”, entregou às suas contrapartes do Parlamento de Nagorno-Karabakh, David Melkumian e Areg Avakian, uma lista de exigências que não se fez oficialmente de domínio público

Mas não fez falta já que, a partir de declarações dispersas de funcionários do governo azeri, pode se inferir que inclui vários pontos inegociáveis: a dissolução da autoproclamada república independente de Artsja (nome armênio do que os azeris denominam como região da Karabakh), a entrega ao Azerbaijão de uma relação de funcionários e militares independentistas, o desarmamento completo de suas formações armadas e a cessão dos carros blindados, canhões e demais tipos de armamento. 

Continua após o banner

Mamedov informou aos delegados karabalis que, se foram cumpridas suas condições, Baku já desenhou um plano para a reinserção econômica e social da população armênia que aceite a “nova realidade” e queira ficar no Karabakh que, anunciam, agora será regida pelas leis do Azerbaijão.

Baku já desenhou um plano para a reinserção econômica e social da população armênia que aceite a “nova realidade” e queira ficar no Karabakh

RF1
Reunião entre Azerbaijão e Armênia sobre Nagorno-Karabakh dura menos de 2 horas

Assunto interno

O escritório do presidente Ilham Aliyev, por sua vez, afirmou que esse processo de integração é “um assunto interno do Azerbaijão”. Difundiu um comunicado que diz: “Em um ambiente construtivo e positivo, se discutiram a reintegração da população armênia do Karabakh, a reparação da infraestrutura e a colocação em marcha de atividades baseadas na Constituição e nas leis do Azerbaijão”. 

E acrescentou que “também se destacou a relevância de instrumentalizar o quanto antes a declaração do ministério da Defesa de 20 de setembro para suspender as medidas antiterroristas”. 

Após discursos e reuniões, Assembleia Geral da ONU termina sem plano concreto para paz

Os representantes de Nagorno-Karabakh – que há três anos perdeu um terço de sua extensão como resultado da chamada guerra dos 44 dias – ofereceram dar uma resposta em uma próxima reunião e, devido ao fato de que a autoproclamada república esteve bloqueada pelo Azerbaijão durante nove meses, solicitaram ajuda humanitária, sobretudo alimentos e combustíveis, que os azeris se comprometeram a satisfazer. 

No terceiro dia depois dos bombardeios massivos e combates, que cessaram ao meio dia de quarta-feira ao se renderem às autoridades de Nagorno-Karabakh, o número de evacuados entre a população civil superou os 10 mil habitantes de origem armênia, que teme sofrer represálias quando o Azerbaijão tomar o controle completo da região. 

Continua após o banner

O governo do primeiro-ministro Nikol Pashinian, diante da amarga experiência das limpezas étnicas que houve no passado (os azeris também acusam os armênios de limpeza étnica contra eles) leva a cabo preparativos para afrontar um eventual êxodo para a Armênia, enquanto grupos de oposição continuaram expressando sua inconformidade; o bloco Mãe Armênia começou nesta quinta-feira um protesto indefinido; outros, a título pessoal, se declararam em greve de fome; e está se criando um comitê para coordenar a impugnação de Pashinian no Parlamento, onde o premier conta com maioria.

Aliyev se desculpou com Putin

Em uma conversa telefônica, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, apresentou nesta quinta-feira uma desculpa ao titular do Kremlin, Vladimir Putin, e expressou suas condolências pela morte de membros do contingente russo de pacificação no dia anterior, assim como prometeu que está se levando a cabo uma exaustiva investigação para castigar aos responsáveis, de acordo com o escritório de imprensa da presidência russa. 

Putin exortou Aliyev a “garantir os direitos e a segurança da população armênia do Karabakh” e os mandatários concordaram que “é necessário tomar medidas para atender a crise humanitária na região”. 

Continua após o banner

Da mesma forma, Putin falou com o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinian, e expressou o desejo de que se reduza a tensão e a situação se estabilize.

Relativamente ao ataque contra os seus militares, o Ministério da Defesa russo informou que “um jipe das forças de manutenção da paz foi alvejado (em Nagorno-Karabakh) e todos os seus ocupantes morreram”. O canal Brief.Murman, que traz notícias do porto de Murmansk, confirmou que um dos falecidos é Ivan Kovgan, capitão de navio, que há alguns meses servia como comandante alternativo do contingente de manutenção da paz. O coronel Taguir-Murod Tagayev também morreu, de acordo com uma reportagem do Ura.news, com sede em Yekaterinburg, e três guarda-costas não identificados.

Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

LEIA tAMBÉM

Nakba
Crônica de uma Nakba anunciada: como Israel força “êxodo massivo” dos palestinos de Gaza
EUA
EUA atacam China, Rússia e imigrantes, mas real ameaça à democracia é interna
Nakba-76-anos-Palestina (3)
Da Nakba ao genocídio palestino em curso: 76 anos entre duas catástrofes
Amyra-El-Khalili
Amyra El Khalili: atual agressão do Estado Sionista à Palestina é ainda pior que a Nakba, de 1948