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Cannabrava | Foi a direita que criou Bolsonaro, agora precisamos dela para derrubar o governo do genocida

É a hora e a vez de Lula presidente de novo, mas como os Estados Unidos não vão deixar que isso aconteça, Luiz Inácio terá que fazer as pazes com Obama
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Fernando Henrique Cardoso, o pusilânime, serve bem como amostra do que pensa um amplo setor da direita. É uma direita ilustrada, frequentou universidades, escreve nos jornais, pratica política partidária, ascende aos vários níveis e instâncias do poder. Está muito preocupada com os rumos tomados pelo governo de ocupação. Não é para menos: três mil mortos por dia não é brincadeira.

Com as evidências que se tem hoje, não se pode negar a farsa eleitoral de 2018. Hoje mesmo os jornais publicam que 88 oficiais da mais alta graduação agitaram nas redes sociais durante o processo eleitoral. Corrobora com que temos afirmado, que a eleição de Bolsonaro se tratou de uma Operação de Inteligência para captura do poder que envolveu o alto comando das três forças.

 A Suprema Corte, por sua vez, deixou claro que o julgamento que afastou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do pleito foi igualmente uma farsa, uma conspiração que envolveu inclusive uma potência estrangeira.

Não têm como dizer que não sabiam. Foi tudo bem-arranjado, envolvendo o Judiciário, o Legislativo, empresários e associações do agro-negócio, milícias cibernéticas, abuso do poder econômico como nunca se viu, participação da Cambridge Analytica para manipular a opinião pública e, muito dinheiro, inclusive dinheiro de fora: dólares.

“Quem pariu Mateus que o embale”, diria minha sábia avó caipira. Pois é, essa é triste realidade, só a direita é capaz de derrubar esse governo, pois é quem tem dinheiro e poder para quebrar a unidade do Centrão, e, talvez, convencer os militares a retornarem a seus quartéis.

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Essa é a parte mais difícil. Por não ter resolvido a Questão Militar (o conflito entre o poder civil e o poder militar) a elite civil é responsável por terem os militares se transformado numa casta privilegiada que acredita que só eles têm competência para exercer o poder, posto que a elite civil é incompetente e corrupta. Essa casta se preparou durante décadas para capturar o poder.

FHC adverte sobre o desânimo que aparentemente domina as hostes tucanas, e os assemelhados, de que é preciso acordar e partir para a luta para corrigir a má escolha. 

É próprio da democracia, argumenta o príncipe da privataria, é hora, portanto, dos que podem ser candidatos dizerem a que se propõem. Ele agrega ainda que, apesar de tudo, é melhor esperar a eleição para não tumultuar o processo. Ainda não se deu conta de que os militares ocuparam o poder para ficar.

Doce ilusão. É preciso quebrar a coluna vertebral desse governo antes das eleições. O governo presidindo as eleições é um perigo, não só pelo manejo da máquina, mas, principalmente, pela utilização das forças armadas, como fizeram em 2018. Quase dez mil militares dentro da máquina governamental é um poderoso cacife na disputa eleitoral.

O governo tem que ser derrubado quanto antes por incompetência no combate à pandemia. Quantos mortos mais teremos nos 17 meses que faltam para as eleições? Não haverá pedra sobre pedra, nenhum bem público sobrará se eles cumprirem o mandato.

Esse governo governa. Governa para o mal, mas governa. A cada manchete que os jornalões dão sobre as diatribes e imprecações, o Diário Oficial da União publica três decretos, medidas provisórias ou portarias que causam danos ao país. A água será privatizada, o saneamento básico, a eletricidade, o gás, a Base de Alcântara, Petrobras, Eletrobrás: não sobrará país nenhum, cara pálida!

 Extinção do meio ambiente

Segundo a revista Carta Capital desta semana, em doze meses, só no gabinete de Ricardo Salles, o ministro do Meio Ambiente (MMA), foram cometidas 72 canetadas.

No conjunto 76 reformas institucionais:

  • 36 medidas de desestatização;
  • 36 revisões de regras;
  • 34 medidas de flexibilização;
  • 22 medidas de desregulação;
  • 20 revogações;

O desmatamento aumentou 216%, alcançando 810 quilômetros quadrados, aprovaram a exportação de madeira nativa, estão propiciando a compra e venda de terras indígenas. 


Quem aparece como vilão é o Salles, o demônio da vez… mas são os militares que estão por trás dele. São 33 militares na Funai; 25 no Ibama; 23 no ICMBIO; 5 no Incra; seis no Sesai e 13 no MMA.

São militares sem nenhuma experiência administrativa e tampouco possuem conhecimento técnico especializado requerido para o posto. Inexperientes, mas obedientes. Pura sinecura.

Em abril de 2020, foi criado o Conselho da Amazônia, com general Mourão, que é vice-presidente, na cabeça e mais 19 militares, quatro integrantes da Polícia Federal. Os técnicos que ainda persistem trabalham aterrorizados, sob assédio permanente.

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Um grupo de professores da USP e advogados identificou, a partir de fevereiro de 2020, três mil normas ditadas pelo governo e concluiu que o presidente cometeu crime contra a humanidade e a saúde pública. 

CPI do genocídio

O senador Renan Callheiros, em discurso ao tomar posse na CPI do genocídio, digo, da Covid, lembrou que crimes contra a humanidade são imprescritíveis. Assim, sempre haverá tempo para condenar os torturadores, mesmo que seja post mortem, pois é uma questão de segurança jurídica e de dignidade humana.

O cenário novamente se apresenta como de tempestade perfeita.

Bolsonaro candidatíssimo

Não se aproveitando o momento o governo tende a se fortalecer, e o capitão Bolsonaro já está em campanha e montando o cenário para disputar e ganhar a eleição. Ganhar de qualquer jeito, mesmo que seja no tapetão.

Para isso está procurando um partido só para ele. Um partido ônibus. Talvez venha a ser o PRTB, agora órfão com a morte de Levy Fidelix — caso a família que ocupa os cargos de direção se disponham a vender. É um bom negócio. Não tão bom quanto foi atrelar a candidatura em 2018 ao minúsculo PSL.

É a hora e a vez de Lula presidente de novo, mas como os Estados Unidos não vão deixar que isso aconteça, Luiz Inácio terá que fazer as pazes com Obama

Montagem Diálogos do Sul
Só a direita é capaz de derrubar esse governo, pois é quem tem dinheiro e poder para quebrar a unidade do Centrão.

O PSL era nanico saiu lucrando e tem hoje a terceira maior bancada na Câmara Federal e posa de partido grande, não quer ser manipulado, nem que outros tirem proveito dos fabulosos recursos com que conta dos fundos Eleitoral e Partidário.

Para o PRTB ou qualquer outro que hipoteque sua legenda ao projeto eleitoral do governo, o cenário é outro, bem diferente daquele de 2018, não dá para repetir a façanha do minúsculo PSL. Este com sua enorme bancada vai disputar reeleição.

O PT, com Lula livre, também terá chance de ampliar sua bancada, ou mesmo manter o mesmo número, terá com certeza um melhor desempenho que o de 2018 quando diminuiu o número de sua bancada.

Isso se as condições fossem simplesmente eleitorais. Ocorre que estamos em guerra e outros fatores devem ser tomados em conta.

É voz corrente, os Estados Unidos não querem Lula. Queriam o Moro, o dócil juiz que arbitrou o jogo a favor do Departamento de Justiça dos EUA, em conluio com a agência Nacional de Segurança e o FBI. Moro não tem mais chance. Desmascarado pela Corte Suprema, foi condenado pelo mundo como autor do maior escândalo judiciário da história.

Por uma questão de imagem que Biden está a construir, tampouco a reeleição de Bolsonaro lhe convém. Está disposto, portanto, a apostar todas as fixas num tercius.

Todos pela terceira via

FHC admite que está difícil. Seu partido, o PSDB, não tem quadro com densidade eleitoral, nem estofo político para enfrentar um trem desse. Eles têm o senador Tarso Jereissati — sua família tem fortuna para bancar com todo o dinheiro do mundo sua campanha, mas duvido que o faça, é muito risco para nada. Os demais, os governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul não chegam a 10% nas pesquisas. Qualquer que seja o candidato vai dividir as forças que poderiam compor com uma frente democrática.

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Ciro Gomes, atrelado ao um PDT que tem nada a ver com aquele de Jango e Brizola, está com um discurso desenvolvimentista, nacionalista, em campanha há quase um ano e não deslancha. Parece que não confiam nele. Ao invés de construir pontes, as está destruindo.

A hora e a vez de Lula

Diante disso, é a hora e a vez de Lula. Já disse antes e repito: Lula deve ir aos Estados Unidos, buscar Obama, seu fã, lembram? Desembarcar em Nova York, ir ao New York Times, ir a Washington e usar seu prestígio para exorcizar sua imagem.

É isso, assumir atitude de estadista, ir lá com as soluções para a pandemia e para o meio ambiente, mostrar sua vitalidade e sua garra. Vai conseguir o apoio de boa parte da opinião pública. Se com isso conseguir pelo menos neutralizar os Estados Unidos com relação à eleição de 22, será já uma grande vitória, um passo firme rumo a vitória eleitoral.

Boa parte da classe media anti-Lula está empobrecida, desempregada e desesperada diante de tanta incerteza. Precisa de alento. Precisa de esperança. Isso já se reflete nas cartas dos leitores dos jornalões que pouco a pouco estão se colocando na oposição.

Tudo isso é possível, desde que a eleição seja presidida por um governo de transição, com os militares de volta a seus quartéis, sem interferir no processo eleitoral.

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Segundo pesquisa do Poder Data, 45% dos entrevistados avaliaram como ruim a presença de militares no governo e na política. É a primeira vez que isso ocorre, porque faltava a percepção de que eles ocupam o governo. Essa percepção aumentou 10% em relação à pesquisa anterior e está em linha ascendente.

Também a percepção de que as forças armadas não trabalham bem está aumentando, os que consideravam ótimo e bom desceram de 45% para 39% e está em linha descendente.

Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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