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Cannabrava | Medo ou covardia? O que mantém Bolsonaro e militares no poder?

Quem tem moral para enfrentá-los e tirá-los do poder? É nisso que eles apostam ao desmoralizar as instituições
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Eles tripudiam e riem na cara das instituições, atacam a Suprema Corte de Justiça como se um amontado de pulhas fossem. Desmoralizam a Corte a cada dia e a insegurança jurídica se acentua cada vez mais. Isso a menos de dois meses das eleições.

É nisso, precisamente nisso, que eles apostam: na insegurança jurídica. Sem segurança jurídica, com a baderna na política, o caos, vão exigir uma intervenção que imponha a ordem. 

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Quem tem moral para enfrentá-los e tirá-los do poder? É nisso que eles apostam. Desmoralizadas as instituições, desacreditados os tribunais e as urnas, quem é que vai impedir que os militares permaneçam no poder?

Lula, agora é oficial. Na convenção de 21 de julho, foi aprovada a candidatura Lula-Alckmin pela federação Brasil da Esperança, formada por PT, PV e PCdoB. Lula e os democratas que o apoiam seguem apostando na institucionalidade. Que institucionalidade é essa, cara pálida?

É tekohá de ninguém. É terra ocupada, menos pela valentia dos ocupantes, usurpadores, que pela inércia dos democratas. É que os democratas foram cúmplices do golpe seguido da farsa eleitoral. Explico-me.

Quem tem moral para enfrentá-los e tirá-los do poder? É nisso que eles apostam ao desmoralizar as instituições

Foto: Agência Senado
Alexandre de Moraes presidirá o TSE a partir de agosto

Demo sem povo

Democracia virou sinônimo de liberdade econômica e liberdade econômica virou ditadura do pensamento único imposta pelo capital financeiro. De governo do povo, para governo contra o povo.

É essa frente que precisa ser rompida. Difícil porque tem sido assim desde sempre. Sempre que a hegemonia das plutocracias no poder foi ameaçada, eles deram um golpe e aplicaram a violência.

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Já era assim no império dos Bragança. José Bonifácio, o Patriarca da Independência, foi preso e deportado só porque queria reformas que modernizassem e dessem condições para o desenvolvimento o que, pela lógica, levaria ao fim da escravatura.

Nada mudou. Aliás, é injusto dizer que nada mudou, porque mudou sim, por incrível que pareça, mudou para pior. Nunca se poderia supor que fosse possível um período tão longo de retrocesso. Todos os direitos conquistados a ferro e sangue por séculos e muitas gerações foram anulados e continuam a ser exterminados. Nada haverá de sobrar e a história comprovará a cumplicidade das instituições.

Mas, cumprindo o ritual, o governo pauta a mídia e só se fala nisso. Manchete recente dava conta dos ataques aos supremos juízes eleitorais, aqueles que serão os responsáveis pela eleição através das urnas eletrônicas. 

Alexandre de Moraes, presidirá o TSE a partir de agosto. Ele responde às agressões afirmando que a Constituição não permite discurso de ódio e menos o rompimento com o Estado de direito. Em seguida, mandou prender um homem que divulgou vídeo em que exorta que os juízes sejam pendurados de cabeça para baixo. 

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Há quem interprete que isso gerou desespero em Bolsonaro, por isso recrudesceu os ataques aos juízes. Acham que a partir de agosto ficará calado? 

Steven Levitsky, autor do livro “Como as democracias morrem”, em entrevista publicada dia 23, diz que a melhor maneira de derrotar uma figura ou partido autoritário é isolá-lo. Bingo!

Os militares são mais espertos, eles continuam a pautar a mídia. E a mídia segue alimentando o mito. Páginas e páginas para promovê-lo. É que a mídia sabe quem é que eles não querem no governo. E, como disse alguém nas redes, com esmerado acerto: Bolsonaro não é um mito; Bolsonaro é um espelho da ignorância humana.

Recessão Induzida

É o governo que induz à recessão. E por mais de um caminho. Gera recessão quando paralisa as obras públicas, terceirizadas ou não. Levantamento feito pelo jornal O Estado de SP registra que só neste ano são 266 projetos paralisados, 1,32 por dia! No ano passado, a média foi de 1,16 por dia, ou mais de 400 obras. Considere que desde 2018 o governo vem abandonando os projetos.

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Outra forma de induzir a recessão são os juros altos. A taxa básica de juros, Selic, a 14% voltou a ser das mais altas do mundo. Em alguns lugares do mundo, o governo eleva a taxa básica para inibir o crédito e, com isso, restringir a demanda com vistas a diminuir a inflação. Demanda alta e diminuição da oferta, ou seja, tempo de recessão. Isso pode dar resultado. 

Aqui não faz sentido. Não há demanda. As taxas altas têm a única finalidade de satisfazer o cassino global, aumentar o lucro dos especuladores. Aumenta o custo da dívida que já está em 89% do PIB, cujo custo leva quase a metade do orçamento da União.

Contudo, tampouco vai resolver. Como os demais países aumentaram a taxa, os investidores vão preferir botar seu dinheiro para render um pouco com segurança, do que no Brasil que oferece segurança nenhuma.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista e editor da Diálogos do Sul.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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