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Cannabrava | O que procuram é um tercius, não uma terceira via. Está na hora de uma grande frente antifascista

Sindicatos, associações, partidos políticos, associações de bairro, torcidas de futebol, todos com uma só bandeira: democracia, soberania: fora Bolsonaro. Nem esquerda, nem centro, nem direita. Vamos todos contra o fascismo!
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O que é essa terceira via da qual falam tanto? 

Para os jornalões, o desafio de encontrar um “candidato competente e responsável e com viabilidade eleitoral” não é encontrar uma terceira via, mas sim o que está escrito, um candidato, que diferente dos que estão na disputa, seja “competente e responsável”. 

É diferente e parte do pressuposto de que ninguém presta, exceto eles. Uma posição preconceituosa, típica das oligarquias. O que eles procuram é um tercius, um terceiro nome que seja opção à polarização. Estão fora da realidade.

Uma democracia, mesmo nos termos da democracia representativa desenhada para perpetuar o poder das elites, requer pluralismo político. O processo, nas últimas quatro décadas, acabou com isso e impôs um pensamento único que passou a ser adotado por praticamente quase todas as legendas partidárias, inclusive ditas de esquerda, com raríssimas exceções. 

Dentro desse cenário, a tendência na política só poderia caminhar para a polarização. Tendência cada vez maior de concentrar entre continuar o status quo ou mudar. O que a direita chama de “terceira via” é pura balela, ou seja, é ela mesma. Ela mesma que tornou a política inviável ao adotar e aplaudir a ditadura do pensamento único imposta pelo capital financeiro.

Parece que Fernando Henrique Cardoso depois de velho aprendeu que um sociólogo ex-presidente da República não pode ficar indiferente ao desgoverno e o descalabro que está a destruir o país. O mesmo com Lula, que segundo ele, amadureceu no cárcere a tal ponto de se encontrar com Getúlio Vargas. 

Nada mais natural que dois cidadãos, na dignidade de serem ex-presidentes, em uma situação de crise, se encontrem para dialogar sobre o que fazer. Mas as pessoas parecem que não estão preocupadas com a crise e passam a especular mil coisas sobre o encontro. Eles são apenas adversários políticos não inimigos um do outro. Já deviam estar almoçando junto desde sempre.

Está na hora de juntar todo mundo na defesa da democracia e da soberania nacional. Tal como na campanha das diretas, que juntava nos palanques e nas manifestações de massa, com destaque, dirigentes de todos os partidos democráticos e de todas as representações da sociedade civil.

Sindicatos, associações, partidos políticos, associações de bairro, torcidas de futebol, todos com uma só bandeira: democracia, soberania: fora Bolsonaro.  Nem esquerda, nem centro, nem direita. Vamos todos contra o fascismo!

Reprodução/ Twitter
Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Amoêdo, João Doria, Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta – da esquerda para a direita, de cima para baixo

Lembro na Candelária, no Rio de Janeiro, de Tancredo Nevez, Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Lula, Franco Montoro, Fernando Henrique… intelectuais e artistas encabeçando as manifestações junto às lideranças populares e dirigentes políticos.

Deputados vende-pátria

É evidente que os partidos do Centrão e demais lançarão candidatos porque desejam eleger deputados e senadores. Isso torna difícil a formação de frentes. Veja que os deputados conseguiram controlar o Orçamento da União. Contam com 18 bilhões mais os três bilhões do orçamento secreto para gastarem em seus currais eleitorais. É um perigo que tem que ser levado em conta. São todos cúmplices do descalabro e estão apavorados com a hipótese de poderem vir a ser julgados. 

Vergonhosamente, pedem ajuda aos Estados Unidos para o combate à pandemia da Covid-19. O que eles deviam fazer é decretar emergência, convocar as forças armadas e a sociedade civil para vacinar de dois a três milhões de pessoas por dia. Imitar os EUA que tanto gostam. Não têm a mínima noção de soberania, e aí também mora o perigo.

CPI do genocídio

Gente! Corremos o risco, se não houver pressão da sociedade, de que a CPI do genocídio termine em pizza, como é normal neste país do absurdo. 

Só com o ocorrido em Manaus, confirmado nos depoimentos, já era mais que suficiente para colocar na cadeia os responsáveis. Mas, é preciso esperar o relatório final. 

A coisa é tão grave que o presidente da CPI, senador Renan Calheiros, compara a CPI ao Tribunal de Nuremberg, reunido depois da derrota do nazismo na II Guerra para julgar os que cometeram crimes de lesa humanidade.

Omar Aziz, presidente da CPI, também deu uma resposta à altura aos milicianos do Gabinete do Ódio que estão agitando nas redes sociais. “Não percam tempo com as redes, usem o tempo para comprar vacina!”. Bingo.

União contra o fascismo

O cenário está tão polarizado, não há como esconder isso, a ponto de que qualquer partido ou frente que lance candidatos favoreça o a continuidade: Jair Bolsonaro, o candidato das forças armadas.

É matemática, e contra a matemática não há argumento. Partidos sem chance que não superam os 5%, os votos em branco ou nulo, é um voto a menos pela democracia e um voto a mais para o fascismo. Ou ainda alguém tem dúvida de que se trata de derrotar o fascismo?

Numa situação difícil, de empate, um voto salva. Uma vez, eu perdi uma eleição para presidir um centro acadêmico por um voto. Voto de uma pessoa que faltou porque pensou que a eleição já estava ganha. 

Essa eleição, de 22, não vai ser brincadeira. Eles entrarão na campanha com muito mais recurso do que entraram em 2018. Na eleição passada, não fazia a menor diferença estarem fora de lei, com abuso do poder econômico, manipulação das redes sociais e telefones, assessoria e dinheiro estrangeiro.

Será necessário um grande esforço levar todo mundo para votar. 

Na França, antes da revolução de 1789, surgiu a expressão Tiers Etad, Terceiro Estado. O poder era constituído pela nobreza e pelo clero (Igreja de Roma). O resto, os que não participavam do poder —burguesia, camponeses, prestadores de serviço, plebe urbana, eram o Terceiro Estado.

Verdadeira terceira via

No Brasil, para o Estado militarizado, não existem adversários para uma disputa política. Existem inimigos para serem derrotados e aniquilados. Essa é a lógica castrense. O governo não tem legitimidade porque surgiu de uma operação de guerra. O Supremo tem as provas da fraude e a CPI do genocídio tem a prova da irresponsabilidade. Está na hora de tirar da gaveta os mais de 100 pedidos de impeachment.

Aqui, a terceira via é Lula. Nem os militares, nem as elites neoliberais entreguista. É soberania contra entreguismo, o terceiro estado em peso para uma nova queda da Bastilha. Recriar o Estado…. reestatizar.

Delfin Neto, com sua longa experiência e que serviu com fidelidade e competência tanto ditadores como democratas, disse em entrevista à Veja que Lula vai “dar de lavada” no primeiro turno. Não se pode deixar enganar, empolgar por discursos ufanistas. Eleição é coisa séria e estamos em guerra. 

O esforço tem que ser para ganhar no primeiro turno e se preparar para o que virá depois. Esse deve ser o conteúdo, a mensagem educativa, esclarecedora da campanha. A força esmagadora do voto consciente, não no partido, não na pessoa, mas o voto consciente contra o fascismo.

Fazer planejamento estratégico, ver as fortalezas e debilidades. Em Belo Horizonte, por exemplo, Aécio e Bolsonaro venceram nas duas últimas eleições. Tem que ter o discurso e a ação apropriados para Belô, que será diferente da de São Paulo, onde Doria tem o maior cacife. Doria quer ser o centro. Como? Foi eleito na onda bolsonarista e faz um governo neoliberal de direita.

Qualquer candidato, de centro, centrão ou direita significa continuidade. 

Doria não é centro, é continuidade, a não ser que… O certo é Dória disputar a reeleição no governo do estado, com isso estará ajudando a fortalecer a frente antifascista. É jovem, pode esperar melhor oportunidade para disputar a presidência.

É de bom alvitre convocar a ONU, a Unesco, a FAO, a OIT, a OEA, associações de direitos humanos do mundo inteiro para vir acompanhar a eleição. Um exército de observadores para calar o discurso de que a urna eletrônica não é segura, garantir que não possam usar o argumento da fraude para não aceitar o resultado. 

Lula é o caminho do meio, exatamente a terceira via. Nossa elite é tão desligada que não percebeu que a terceira via é Lula.

Às ruas

Para sábado (29) estão sendo convocadas grandes manifestações de rua por vacina e ajuda emergencial de R$ 600. Maravilha… desde que sejam tomadas as devidas precauções. Exige disciplina: todo mundo de máscara e com álcool gel, formando filas uma ao lado da outra e mantendo distanciamento lateral e frontal.

Quem convocou foram as centrais sindicais, mas é hora de demonstrar unidade diante do combate ao fascismo. Como dissemos antes, sindicatos, associações, partidos políticos, associações de bairro, torcidas de futebol, todos com uma só bandeira: democracia, soberania: fora Bolsonaro.

Nem esquerda, nem centro, nem direita. Vamos todos contra o fascismo!


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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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