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Cannabrava | Tropas ianques na Amazônia

Manobras colidem com a linha de política exterior independente do Itamaraty e com os discursos de Lula por um mundo multipolar
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul

Tradução:

Dia 19 de outubro, Lula autorizou ingresso de tropas especiais dos Estados Unidos na Amazônia para treinamento de sobrevivência e combate na selva e maior interação com os militares brasileiros. São 294 militares da 101ª Divisão Aerotransportada, do 7º grupo de Forças Especiais, além da Guarda Nacional de Nova York, adstritos ao Comando Sul dos Estados Unidos – Southcom.

Eles desembarcaram em Belém, no Pará, e depois de um período de treinamento foram para o Amapá. Do lado brasileiro são 1.200 militares da 23ª Brigada de Infantaria da Selva. Se trata de um programa anual do Southcom com vistas a incrementar a interação entre as duas forças. Essas tropas permanecem em território nacional até o dia 16.

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Para o general Guilherme Cabral Pinheiro, comandante militar do Norte, as manobras servem para ampliar a interoperabilidade com o Exército dos Estados Unidos e forças compostas por países integrantes da Otan. Acrescentou que capacita o Exército brasileiro para participar de operações internacionais de acordo com os interesses nacionais e os compromissos internacionais assumidos pelo país.


Conferência de comandantes

Paralelamente, está transcorrendo, desde o dia 6, no Rio de Janeiro, a Conferência de Comandantes dos Exércitos Americanos, promovida pela Conferência dos Exércitos Americanos, presidida pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, do Exército brasileiro, durante o biênio 2022-2023, com a participação de 29 integrantes, e termina nesta quina-feira (9).

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Participam 22 países, as delegações de Antígua e Barbuda, Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Guiana, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai, mais Espanha e Portugal e da Junta Interamericana de Defesa. 

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Manobras colidem com a linha de política exterior independente do Itamaraty e com os discursos de Lula por um mundo multipolar

Foto: Embaixada dos EUA no Brasil/X
O Brasil não integra a Otan, mas para os Estados Unidos é um aliado extra-Otan

Dos Estados Unidos, veio o general Andrew P. Poppas, do U.S. Army Forces Command, a maior força militar do imperialismo, que já não dorme à noite de tanta preocupação com a China. A general Laura Richardson, comandante do Southcom, tem dito e repetido que o problema dos Estados Unidos é a presença da China em sua área de influência, área em que abundam minerais estratégicos como lítio, urânio, entre outros.

Tema central da conferência, os “processos de transformação e preparação do Exército do Futuro para ampliação da cooperação e integração no enfrentamento dos desafios e ameaças que possam afetar a segurança e estabilidade do Continente Americano”. 

O general Miguel Paiva, que é comandante do Exército, disse para a Agência Brasil que “o objetivo é aumentar o intercâmbio, a interoperabilidade, a integração dos exércitos americanos e isso fortalece não só a defesa hemisférica, mas também o nosso conhecimento e a diplomacia militar, que é um ramo da diplomacia.

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O Brasil não integra a Otan, mas para os Estados Unidos é um aliado extra-Otan e ademais participa com um oficial de Estado-Maior como comandante operacional do Southcom.

Essas manobras, bem como as declarações do general, colidem com a linha de política exterior independente do Itamaraty e com os discursos de Lula por um mundo multipolar que está sendo moldado pelos Brics, com forte protagonismo da Rússia e da China.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista editor da Diálogos do Sul e escritor.
É autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
• A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
• Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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