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Cidade de Boston terá prefeita asiática e progressista; socialismo ressurge nas eleições dos EUA

Em uma série de eleições locais e estaduais realizadas nesta terça-feira, o mais notável foi uma crescente presença da esquerda em postos eleitorais formais
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A prefeitura da antiga cidade de Boston foi conquistada pela primeira vez em sua história por uma mulher asiática graças a uma coalizão de progressistas, socialistas democráticos e imigrantes. 

A disputa cerrada pelas governanças na Virgínia e em Nova Jersey mostra as implicações nacionais para o futuro imediato das forças democratas sob Joe Biden versus as republicanas sob a onipresença abominável de Donald Trump.

Em uma série de eleições locais e estaduais ao redor do país realizadas na última terça-feira (2) – as primeiras contendas desde a chegada de Biden à Casa Branca — o fato mais notável foi uma crescente presença da esquerda em postos eleitorais formais, a vulnerabilidade da cúpula centrista democrata e a persistência da ultradireita no Partido Republicano.  

Em Boston, pela primeira vez em seus 200 anos, uma mulher, Michelle Wu, ocupará a prefeitura. Wu –  que também é a primeira pessoa de ascendência asiática em ocupar o posto – foi apoiada por uma coalizão progressista que inclui os Socialistas Democráticos de América (DSA) e o WorKing Families Party (WFP) e asiático-estadunidenses, afro-estadunidenses e latinos e novas gerações de jovens que propõem converter a cidade no que  chamam de um “laboratório” para políticas sociais progressistas, desde reformar a polícia e limitar o custo da moradia e o transporte público até promover uma agenda ecológica urbana inovadora. 

Em Buffalo, a segunda cidade do estado de Nova York, India Walton, uma ativista comunitária afro-estadunidense de 39 anos de idade, mãe solteira de quatro filhos, que se educou como enfermeira, e uma participante proeminente do movimento local de Black Lives Matter, buscava se converter na primeira prefeita socialista de uma cidade grande dos Estados Unidos em 60 anos. 

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Walton era candidata democrata de forças progressistas incluindo DSA e WFP, e sacudiu a cúpula democrata estadual ao ganhar a primária contra o prefeito de quatro períodos há alguns meses. Seu opositor recusou-se a abandonar o terreno ao converter-se em um candidato independente para competir contra a insurgente de seu próprio partido com o respaldo de forças centristas e até republicanos.    

Esta contenda foi talvez a de maior perfil entre as correntes centristas e progressistas dentro do Partido Democrata. O senador Bernie Sanders, que foi o prefeito socialista democrata de uma cidade pequena, Burlington, Vermont, entre 1981 e1989, endossou Walton por “sua visão audaz que investe nas necessidades do povo, e não nos interesses endinheirados”.

Em uma série de eleições locais e estaduais realizadas nesta terça-feira, o mais notável foi uma crescente presença da esquerda em postos eleitorais formais

Divulgação
Em Boston, pela primeira vez em seus 200 anos, uma mulher, Michelle Wu, ocupará a prefeitura.

Por outro lado, a batalha eleitoral pela governança da Virginia parecia significar uma derrota para a cúpula democrata em um estado onde Biden ganhou por mais de 10 pontos há só uns meses, na eleição presidencial do ano passado.  

O veterano da cúpula democrata Terry McAuliffe foi derrotado pelo republicano Glenn Youngkin.  

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Para os analistas, isto é resultado da incapacidade dos democratas de cumprir suas promessas legislativas no nível nacional e a queda da taxa de aprovação de Biden, que está em 43% nas pesquisas de opinião nacionais — o nível mais baixo a estas alturas de uma presidência de quase qualquer presidente. 

Enquanto isso, em Nova Jersey, outro bastião democrata, o governador democrata Phil Murphy conseguiu sua reeleição em uma pugna marcada pela força inesperada do desafiador republicano Jack Ciattarelli.  Ele foi o primeiro democrata em ser reeleito em mais de quatro décadas nesse estado. 

Na cidade de Nova York, sem surpresa, foi eleito o democrata Eric Adams, o qual será só o segundo afro-estadunidense entre os 109 prefeitos que governaram a maior cidade do país ao longo de sua história. 

Mas Adams não provém da nova onda progressista nem de movimento Black Lives Matters seu triunfo em uma das cidades considerada entre as mais liberais do país foi resultado da derrota de pré-candidatos democratas progressistas e mais ainda, foi de certa maneira um rechaço ao movimento anti-polícia; Adams é um ex-capitão da polícia. 

O grande debate sobre a segurança pública e a educação pública figuraram entre os principais temas nacionais em contendas locais em várias partes do país. Em Minneapolis — onde George Floyd foi assassinado pela polícia, incidente que detonou furiosos protestos nacionais sem precedentes — fracassou um referendo para substituir o Departamento de Polícia por outra entidade. Por outro lado, eleições para juntas escolares locais em várias partes do país se tornaram grandes batalhas eleitorais entre ultraconservadores e defensores da ciência e da pluralidade na educação. 

Mas não deixa de surpreender, diante das ameaças de extrema-direita que eclodiram com Trump, o renascimento de um movimento eleitoral progressista que se autodenomina “socialista” nos Estados Unidos. Vale lembrar que há apenas 101 anos, em 2 de novembro de 1920, o socialista Eugene V. Debs obteve quase um milhão de votos na eleição presidencial de sua cela quando foi preso por sua oposição à Primeira Guerra Mundial.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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