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ToggleA vitória, no segundo turno, do Governador Eduardo Leite no Rio Grande do Sul, não foi um fato político menor para o futuro do nosso Estado. Para nós, todavia – esquerda social e esquerdas partidárias – o fato maior foi a recuperação do pensamento democrático crítico ao fascismo no Rio Grande, provado pelas grandes votações dos parlamentares do campo da esquerda, bem como do Presidente Lula, que volta ao Governo Federal para unir o país com base na velha e boa democracia liberal, comparativamente ao novo e maldoso fascismo autoritário.
O aumento expressivo das nossas bancadas na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa do Estado, bem como o aumento da nossa votação majoritária, tanto na região metropolitana de Porto Alegre como em pequenas e médias cidades da metade sul, nos possibilita pensar em montar, para o próximo período, um amplo sistema de alianças para repor o Estado no concerto nacional democrático, que em outras épocas fazia o Rio Grande ser ouvido no mundo.
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Estavam em evidência – contra Leite e contra a democracia liberal – candidaturas expressivas oriundas de extrema direita, cujo enraizamento político sólido, em vastas regiões das nossas plagas, mostrou um vigor surpreendente.
O vigor lembra a ideologia mussolinista e nazista, que trouxe as massas de excluídos e miseráveis para os sacrifícios impostos em guerras “patrióticas”, de fundo místico e manipulatório, sob a consignas de “Deus, Pátria e Família”.
Um “Deus”, no caso deles, que serve a uma ideologia do ódioimunização de rebanho
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Espírito de turba transformado em ação política sob orientação de setores empresariais nos levaram à beira do precipício
Natureza fascista
Estas candidaturas, ora de natureza fascista ou de tendência fascista, apoiadas na maioria dos grandes empresários “urbanos” e do agronegócio gaúcho, transitaram – durante o Governo Bolsonaro – de uma sustentação ao liberal democratismo conservador para o apoio à crueldade fascista que agora, já com uma certa complacência policial e com apoio do inominável, está fazendo o que quer: naturalizando as suas demandas por um golpe de estado na frente dos quartéis e despertando, até nas crianças inocentes, o ódio que certamente aprenderam nas suas casas, nos extremos da disseminação do ódio irracional, do desprezo elitista aos pobres e miseráveis e aos que lhe parecem “diferentes”. Finalmente – no estilo Bannon – chega até a defesa aberta da destruição da democracia e da república.
Eduardo Leite nem reassumiu governo do RS e Porto Alegre já virou um inferno
A posição do Partido dos Trabalhadores, compreendendo a situação grave do Estado e deixando em segundo plano as posturas nitidamente privatistas e neoliberais de Leite, soube brilhantemente diferenciar o que estava em jogo, que era e é o mesmo confronto nacional, entre fascismo e democracia, que espelha o país: Leite era e é um liberal-democrata que, embora demonstrasse à direita uma rejeição irracional à tudo que “cheirasse PT”, nunca teve a pretensão de ser um “Duce” local: não despreza nem odeia os seus adversários, nem se compromete com a barbárie negacionista, nem com o método da violência política para alcançar seus objetivos, que faz de todo o fascista um assassino em potencial. Isso, que aparece como dilema num período histórico de crise – bloquear uma corrente política de assassinos em potencial – é obrigatório para a reconstrução democrática numa sociedade democrática.
Quando os demônios acordam, o fascismo os acendeu! Os protagonistas mais atuantes da sua base militante estão nas ruas cercando os quartéis e pedindo um golpe militar. Suas fontes culturais, ideológicas e de disseminação sociopática – com seus objetivos políticos estratégicos – estão muito bem representados nos chamados “Fóruns da Liberdade”, que são tradicionais aqui no Estado, pois ali mais da metade dos seus participantes certamente prefeririam um regime de assassinatos expandidos, tipo ditadura de Pinochet, do que um diálogo lulista democrático já experimentado em outros tempos.
Esta experiência eleitoral da esquerda aqui no Rio Grande do Sul deve servir como passaporte para um diálogo no campo democrático e progressista, para que os aventureiros fascistas, misóginos, racistas, que debocham da condição humana e da vida democrática no Estado Social, sofram uma derrota estratégica, que devolva o fascismo para lugar histórico de marginalidade irrelevante de onde nunca deveria ter saído.
O espírito de turba transformado em ação política sob orientação de setores empresariais, lumpens (outros nem tanto), aqui no Brasil, nos levaram à beira do precipício.
Estamos na beira e os precipícios políticos não têm muros, lembremo-nos disso no próximo período para reconstruir a democracia e a civilidade republicana quando eles – os fascistas de todos os quadrantes – se alimentam da desordem social e do caos que eles mesmos produziram.
Tarso Genro | Ex-governador do RS, ex-prefeito de Porto Alegre, advogado, professor universitário, ensaísta, poeta. Foi ministro da Educação, das Relações Institucionais e da Justiça.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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