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Com eleições gerais adiantadas, progressismo espanhol traça plano contra ascensão direitista

Direitista Partido Popular (PP) despontou nas eleições municipais e autônomas celebradas no domingo (29); Vox foi colocado como terceira força
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Um dia depois do desastre eleitoral do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e das demais formações de esquerda, o presidente do governo, Pedro Sánchez, decidiu “assumir em primeira pessoa” os resultados e adiantar as eleições gerais para o próximo 23 de julho, em vez de no final do ano como planejado.

Com esta medida, que anunciou num comunicado institucional do Palácio da Moncloa, o Governo mantém-se em funções e o Parlamento será dissolvido após a publicação do decreto publicado nesta terça-feira (30), no Diário Oficial do Estado .

O presidente espanhol deu um passo à frente e decidiu encurtar seu mandato em seis meses, justamente o semestre em que a Espanha exerce a presidência rotativa da União Europeia, na qual o chanceler, José Manuel Albares, tem se utilizado de recursos para viabilizar uma agenda e fortalecer as relações entre o bloco e a América Latina.

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Sánchez anunciou sua decisão na segunda-feira (29) de manhã, sozinho, após se reunir com a direção de seu partido para analisar o resultado eleitoral. À tarde, convocou o último conselho de ministros do governo de coalizão, entre o PSOE e o Unidas Podemos (UP).

Desta forma, a próxima nomeação eleitoral se tornará uma espécie de “segundo turno”, ao estilo do modelo eleitoral francês.

O chefe do governo transformou as eleições de domingo em uma espécie de plebiscito para seu governo. O resultado foi um desastre em praticamente todas as comunidades autônomas que defendeu, das quais só conseguiu manter um percentual mínimo, além de sofrer desgastes em votos e vereadores.

Segundo analistas, Sánchez, de 51 anos, que chegou ao Moncloa em 2018 após a vitória de uma moção de censura contra o conservador Mariano Rajoy, precisava recuperar a iniciativa.

Mas chegou à nomeação eleitoral abalado pelo próprio desgaste após mais de cinco anos de governo e pelo impacto da inflação no poder de compra da população, mas também pelos confrontos constantes entre os socialistas e seus parceiros de coalizão de esquerda radical.

O direitista Partido Popular (PP), com o seu líder Alberto Núñez Feijóo, sagrou-se o grande vencedor ao triunfar em sete das 12 comunidades autônomas em disputa e dominou várias regiões onde o PSOE já havia vencido, de onde arrebatou o mesmo que outros partidos regionais como lugares importantes como a Comunidade Valenciana, Extremadura, Ilhas Baleares, Ilhas Canárias, Aragão, La Rioja e Ceuta e Melilla, bem como cidades importantes como Valência, Alicante, Gandía, Badajoz, Cáceres e Cádiz, entre outros.

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“Quanto antes melhor”

O PP conseguiu uma vitória histórica e avassaladora na comunidade de Madrid e na Câmara Municipal da capital, na qual obteve a maioria absoluta, enquanto os socialistas foram deslocados para o terceiro lugar. Assim, Núñez Feijóo, ao ouvir a notícia do avanço eleitoral, convenceu-se de que seu partido está pronto. “Quanto mais cedo melhor”, alertou.

A Espanha “embarcou num caminho de renovação que já é imparável”, declarou.

Para a presidente da região de Madrid e estrela do PP, Isabel Díaz Ayuso, Pedro Sánchez está “em um beco sem saída”.

Santiago Abascal, cujo partido de extrema direita Vox foi colocado como terceira força, comemorou a “excelente notícia, porque os espanhóis voltaram a falar depois de quatro anos de mentiras”.


UP, sem proposta

E se o PP chega com a maquinaria lubrificada à nomeação eleitoral, o parceiro de coligação de Sánchez, UP, fica sem definir a sua proposta depois de ter colhido os piores resultados da sua história, com o seu desaparecimento da Assembleia e do consistório de Madrid, lugar simbólico, já que foi precisamente em Madrid onde nasceu e se catapultou como força nacional.

O futuro da esquerda está agora numa plataforma em construção liderada pela vice-presidente do governo, Yolanda Díaz, que ainda tem de assinar a aliança com os seus ex-colegas da UP, cujos principais dirigentes, como Ione Belarra, Irene Montero e em as sombras que seu fundador, Pablo Iglesias, agora abriu para sentar e negociar a aliança.

A líder das forças de esquerda do PSOE, Yolanda Díaz, anunciou: “já estamos trabalhando para vencer no dia 23 de julho. Aceito o desafio.”

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Belarra, que não comparecia desde a derrocada eleitoral de seu partido, afirmou: “Estamos trabalhando para dar aos cidadãos progressistas as notícias que eles esperam para que este espaço se apresente junto e saiamos para vencer, para governar com mais força”. Nos próximos dias se verá se essas negociações se concretizarão e se definirá a plataforma, o que será crucial para redistribuir a atual fórmula de governo de coalizão.


Resultado de domingo

Uma maré azul, a cor do direitista Partido Popular (PP), despontou nas eleições municipais e autônomas celebradas no domingo na Espanha, com um triunfo inequívoco em números de votos, vereadores, municípios e governos autônomos, frente ao debacle da esquerda e dos partidos da coalisão do governo central, o Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE) e Unidas Podemos (UP). O partido de extrema direita VOX se consolidou como a terceira força do país. 

No País Basco, pela primeira vez na história a coalisão da esquerda independentista basca EH-Bildu se converteu no partido mais votado a já ameaça a hegemonia histórica do Partido Nacionalista Basco (PNV).

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Em Barcelona, a segunda cidade do país, o Junts per Catalunya (JxCat) ganhou as eleições, com o que está em risco a continuidade da atual prefeita da esquerda, Ada Colau.

As eleições confirmaram a tendência de que a direita e a extrema direita estão em alta, que o presidente do governo, o socialista Pedro Sánchez, e seus sócios de coalizão, UP, estão em franco retrocesso, e que no País Basco e na Catalunha crescem as formações que pugnam pela independência do Estado espanhol.

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O triunfo por maioria absoluta do PP na Comunidade e no Ajuntamento de Madri são um exemplo dessa tendência, ao varrer toda a esquerda e provocar inclusive o desaparecimento do Podemos no Parlamento regional e no consistório. Mas além disso, o PP lhe arrebatou do PSOE algumas comunidades autônomas históricas, como Extremadura, Valencia, Aragón e as Islas Baleares.

Direitista Partido Popular (PP) despontou nas eleições municipais e autônomas celebradas no domingo (29); Vox foi colocado como terceira força

PSOE/Twitter
O PSOE somou 28,22% e ficou a mais de 760 mil votos da direita, representada pelo PP




PP pode governar sozinho ou compor com VOX

O PP aumentou seus votos em todas as comunidades autônomas em jogo e está em condições de governar, já seja solitário ou com pactos com Vox em Aragón, Extremadura, Islas Baleares, Cantábria, La Rioja, Madrid e Murcia. Enquanto isso, as coalizões de esquerda, lideradas pelo PSOE, o farão em Astúrias, Navarra, Castilla, La Mancha. Nas principais cidades em disputa, de novo o PP saiu muito reforçado, convertendo-se no partido mais votado em Madri, Valência, Sevilha, Zaragoza, Málaga, Murcia, Alicante e Córdoba. 

Os dados são eloquentes: o PP foi o partido mais votado, com 31,58% do eleitorado e com mais de 7 milhões de sufrágios; o PSOE somou 28,22% e ficou a mais de 760 mil votos da direita, quando há só quatro anos os socialistas superaram o PP em 400 mil votos. 

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Por isso, o líder da oposição e do PP, Alberto Núñez Feijóo, compareceu na sede de seu partido em Madri para proclamar que “se inicia um novo ciclo político na Espanha”, com a vista posta nas eleições gerais, agora adiantadas para julho, nas quais o presidente Sánchez aspira sua primeira reeleição. 

Quanto ao número de vereadores, o PP logrou 23.351, frente aos 20.752 do PSOE. A extrema direita do Vox se consolidou como a terceira força do país, com mais de um milhão e 600 mil votos e 1.687 vereadores. 

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A coalizão de esquerda UP unicamente somou 133 mil votos e 201 vereadores, mas o mais grave foi seu desaparecimento da Comunidade e do Ajuntamento de Madri, assim como na Comunidade e no Ajuntamento do Valência.


Quem vai mandar em Barcelona?

Barcelona, a segunda cidade do país, era uma das praças em jogo mais cobiçadas. O resultado refletiu uma fragmentação do eleitorado com um triunfo ajustado do candidato do nacionalismo conservador, Xavier Trias, que somou onze vereadores frente aos dez do aspirante do PSC, Jaume Callboni, e os nove da atual prefeita, Ada Colau.

Assim, o mando da cidade dependerá dos pactos com o resto das formações e se poderiam dar várias fórmulas, entre elas o pacto entre os partidos de esquerda – PSC, Em comum, e Esquerra Republicana de Catalunya (ERC), este último com cinco postos. O PP, com quatro vereadores, e o Vox, com dois, não serão determinantes para a formação do governo. 

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No País Basco, onde só se realizaram eleições municipais e provinciais, o grande vencedor de domingo foi o EH-Bildu, que pela primeira vez na história foi o mais votado e com mais representantes nos centros de poder.

Em termos numéricos, a coligação liderada por Arnaldo Otegi chegou a um total de 1.399 vereadores, 137 a mais do que há quatro anos. Mas, sem dúvida, uma de suas grandes conquistas é poder formar um governo, após um acordo com outras formações, em duas capitais provinciais, Pamplona e Vitória.

Armando G. Tejeda | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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