O ministro de Defesa Nacional (MDN), Javier García, recebeu, em 6 de fevereiro, na sede do ministério, a chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, Laura Richardson. Segundo disse García ao El País, no encontro seria discutido, entre outros temas, a compra de armamento militar e radares marítimos, que “estão praticamente fora de uso no Uruguai”.
Por sua vez, a Embaixada dos Estados Unidos no Uruguai informou que Richardson terá entrevistas com “altos funcionários do governo e líderes militares” para conversar sobre a “associação bilateral em defesa” entre ambos países. Nesse quadro, a embaixada estadunidense descreveu o Uruguai como “um país reconhecido por defender os valores da democracia e da paz” na América Latina e também como “um forte partidário das operações de manutenção da paz patrocinadas pela ONU”.
Segundo o PIT-CNT, no entanto, “o verdadeiro objetivo” da viagem de Richardson é “o interesse pela água doce”, visto que o Uruguai “compartilha o aquífero Guarani”. Um dia antes da visita, mediante uma declaração, a central sindical repudiou a visita da chefe do Comando Sul, “que considera a América Latina como seu quintal, ao declarar que o interesse dos Estados Unidos é pelos recursos de terras raras”, tais como o petróleo, o ouro, o cobre e o lítio, “além de haver 31% da água doce do mundo nesta região”.
O PIT-CNT também assegurou que a presença de Richardson no Uruguai tem como propósito “agradecer ao apoio do atual governo [uruguaio] por abster-se na ONU de pedir um cessar-fogo” na Faixa de Gaza, algo que também foi questionado pela Frente Ampla (FA). A central sindical criticou a chegada ao país “de uma representante do império que levou adiante as guerras no Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Somália, Síria e Iemem, com milhões de mortos, e que há 60 anos leva adiante um bloqueio criminoso contra Cuba”.
Por isso, o PIT-CNT afirmou que a visita de Richardson, por sua condição de “representante de um país que tenta erigir-se como o Hegêmona do mundo”, não é “uma boa notícia nem é bem-vinda pelas e pelos trabalhadores uruguaios”.
Em diálogo com La Diaria, Jorge Bermúdez, secretário de Relações Internacionais do PIT-CNT, disse que “há alguns meses” Richardson fez declarações sobre “a importância estratégica que têm as riquezas da América do Sul para os Estados Unidos da América do Norte”, riquezas que o governo estadunidense “avalia para diferentes cenários bélicos”. Afirmou que “tudo o que a América Latina possui”, desde a água até a biodiversidade, “os Estados Unidos precisam para empreender suas guerras futuras”.
Bermúdez indicou que a viagem de Richardson é posterior à dupla abstenção do governo uruguaio na ONU, não votando “o cessar-fogo, que é necessário para terminar com o massacre que o Estado de Israel está levando a cabo na Faixa de Gaza”.
Foto: Comando Sul / X
Governo uruguaio “não dissimula estar sob a influência dos Estados Unidos”, afirma o PIT-CNT
Bases estadunidenses
Em sua declaração, o PIT-CNT garante que um dos objetivos da visita de Richardson é analisar “a possibilidade de criar uma base militar em território uruguaio”. A central sindical afirma que existem “acordos que já foram assinados pelo MDN para enfrentar a influência [da] China na região”.
A esse respeito, Bermúdez disse que o atual governo uruguaio “não dissimula estar sob a influência dos Estados Unidos”, já que “se sente muito à vontade com isso”. “Não condena o massacre em Gaza, mas mostra-se muito preocupado com o processo eleitoral na Venezuela, onde a candidata da oposição, María Corina Machado, fez parte de sua carreira nos escritórios da CIA, em Langley”, afirmou.
Consultado por La Diaria, o senador nacionalista Sebastián da Silva, que promoveu no fim do ano passado a aprovação de um acordo militar “para a aquisição de abastecimento e a prestação recíproca de serviços” entre Uruguai e Estados Unidos, cuja ratificação vem sendo postergada desde 2012, disse que o comunicado do PIT-CNT “cheira a naftalina” e que o mencionado acordo entre Uruguai e Estados Unidos “tem a assinatura de [Eleuterio] Fernández Huidobro e Tabaré Vázquez”.
Em seu entender, este posicionamento da central sindical é “a cara visível do pior FA”, que “faz demagogia com esse tipo de coisa e depois, quando há um conflito com seus amigos kirchneristas, pede ajuda aos Estados Unidos para uma eventual escalada bélica”, referindo-se ao conflito entre Uruguai e Argentina pela instalação de Botnia, no primeiro governo de Vázquez. “O que há é um oportunismo sessentista de sindicalistas que, como não podem justificar seus viáticos devido à situação do emprego no Uruguai, dedicaram-se a fazer uma greve contra [Javier] Milei e agora isso. Como aqui não podem falar de nada, fazem ginástica com esse tipo de coisas”, acusou da Silva.
Redação | Resumen Latinoamericano
Tradução: Ana Corbisier
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