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Como nos EUA, direita latino-americana está sempre apta a desconhecer vontade do povo

De maneira similar ao seu aliado, Jair Bolsonaro, o republicano Donald Trump não confia no sistema eleitoral. Em vários estados há processos contestando o pleito
Eduardo Nunes
Diálogos do Sul Global
Ponta Grossa (PR)

Tradução:

No decorrer do processo eleitoral estadunidense de 2020 – que culminou na vitória de Jon Biden (Democratas), confirmado no sábado (6) – a América vibrou com a derrota da ultradireita, personificada na figura de Donald Trump (Republicanos).

De maneira similar ao seu aliado, Jair Bolsonaro, o republicano não confia no sistema eleitoral. Antes de o rival atingir os 270 delegados necessários para a vitória, Donald Trump (Republicanos) já havia declarado que não aceitaria o resultado. Em vários estados dos Estados Unidos já existem processos judiciais contestando o pleito. 

Nos países do Sul, periféricos às benesses de Bretton Woods, a tensão democrática já é há muito tempo conhecida. Como bem narrado por Eduardo Galeano, em As veias abertas da América Latina, as riquezas dos povos e do solo latino foram transferidas para os governos credores de crédito e acumuladores de capital. Desde que as primeiras naus portuguesas e espanholas atracaram em costas americanas, seu povo vem lutando para manter a sua autodeterminação e autonomia. 

De maneira similar ao seu aliado, Jair Bolsonaro, o republicano Donald Trump não confia no sistema eleitoral. Em vários estados há processos contestando o pleito

Flickr / Prensa Presidencia
O neoliberalismo, recentemente, sofreu derrotas pontuais, como a de Macri (à esquerda) na Argentina, que posa ao lado de Piñera e Bolsonaro.

Esse movimento em direção à emancipação econômica e política latina foi impulsionada pela pandemia de Covid-19, que evidência a incapacidade desastrosa do neoliberalismo em solucionar os problemas de cunho coletivo, a inaptidão para elaborar políticas públicas e cooperar entre diferentes grupos. 

No dia 25 de outubro, no Chile, o povo votou massivamente a favor de uma nova convenção constituinte para superar as marcas traumáticas deixadas pelo neoliberalismo selvagem do ditador Augusto Pinochet, que governou o país entre 1973 e 1990.

Outro ponto desta dicotomia entre tensão e superação pode ser visto na Bolívia. O partido Movimento ao Socialismo (MAS) ganhou a eleição no país, disputada contra Carlos Mesa e os interesses corporativos internacionais. A chapa encabeçada por Luís Arce, ex-ministro de Economia e Finanças do governo de Evo Morales, e David Choquehuanca, intelectual e líder indígena, recebeu o massivo apoio popular e representou outro passo da superação da ultradireita. Esta, por sua vez, reagiu de forma truculenta à derrota eleitoral, e na última sexta-feira (6), organizou um atentado contra o recém-eleito presidente. 

O neoliberalismo, recentemente, sofreu derrotas pontuais. Os povos que prezam pela liberdade e cooperação devem vibrar com suas conquistas, simbólicas ou efetivas, mas nunca se esquecer que sempre existem, na espreita, novas representações autoritárias como Fernando Camacho, Donald Trump e Jair Bolsonaro dispostos a questionar a legitimidade do sufrágio universal e do humanismo como princípio político. 

* Eduardo Nunes, acadêmico de História, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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