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ToggleNo mesmo ano de 1981, “acidentes” aéreos mataram três opositores ao imperialismo: Roldós em maio; Rafael Hoyos Rubio, comandante do Exército peruano, em junho; e o líder da revolução panamenha, Omar Torrijos, em julho
Acompanhando o processo eleitoral equatoriano, a Agência ComunicaSul de Comunicação Colaborativa está homenageando o ex-presidente do país, Jaime Roldós Aguilera. Líder da Concentração das Forças Populares (CFP) e fundador do Partido Povo, Mudança e Democracia, Roldós foi assassinado aos 40 anos pela CIA (Agência Central de Inteligência) em um “acidente” aéreo no dia 24 de maio de 1981. Naquele “Ano do Avanço”, vinha realizando inúmeras atividades dentro do Plano Nacional de Desenvolvimento para romper com as amarras do atraso e da dependência.
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Conforme esclareceu John Perkins, em seu livro Confissões de um Assassino Econômico, Roldós foi executado por uma bomba colocada em um gravador de fitas cassete. Economista-chefe da empresa Chas. T. Main em Boston, Massachusetts, no período de 1971 a 1981, o autor recordou que o líder equatoriano se opunha às petrolíferas estadunidenses com um novo marco legal para o setor de hidrocarbonetos e um ambicioso plano de reformas. Além disso, apontava que o presidente equatoriano sinalizava com um pacto envolvendo Colômbia e Peru considerado pelo presidente dos EUA, Ronald Reagan, como uma “aproximação da União Soviética”.
Oposto ao belicismo e à postura de ingerência anunciada por Reagan e George W. Bush, Roldós demarcou campo com altivez e decidiu não comparecer em janeiro de 1981 à posse do novo governo de Washington, que mantinha estreito vínculo com as ditaduras da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, El Salvador, Guatemala e Honduras.
Wikipedia
Roldós tornou-se referência na defesa dos direitos humanos e da luta por democracia, desenvolvimento nacional e soberania na América Latina
Extrema-direita equatoriana e CIA
Derrotada nas urnas, a extrema-direita equatoriana começou as ações de sabotagem com a CIA desde o início do governo de Roldós, armações que sempre foram evidentes e banhadas à sangue.
A política dos terroristas ia desde a disseminação de bombas e assassinato de opositores, até denúncias de fraude eleitoral, numa orquestração midiática que procurava manipular e envenenar a opinião pública. Como quem paga a banda escolhe a música, se faziam ouvir senhores como Luis Adolfo Noboa Naranjo, exportador de banana vinculado à Standard Fruit Company, então o homem mais rico do Equador – pai de Álvaro Noboa, que tentou cinco vezes a presidência, e avô do atual candidato direitista Daniel Noboa. De nada adiantou, pois a população foi às ruas e às urnas.
Com cerca de 70% dos votos no segundo turno, o jovem advogado Jaime Roldós assumiu o poder em 10 de agosto de 1979, sendo o primeiro presidente a falar palavras em quéchua – língua de um terço dos indígenas. Sua posse enterrou as pretensões golpistas, que haviam postergado o processo eleitoral ao longo de seis longos meses.
Defensor da soberania e da democracia
Durante seu breve período de apenas um ano e nove meses na presidência da República, Roldós tornou-se referência na defesa dos direitos humanos, fazendo ecoar a luta pela democracia, pelo desenvolvimento nacional e a soberania na América Latina, se contrapondo à política de ferro e fogo que empesteavam o continente.
Ao mesmo tempo, logrou conquistas para o mercado interno ao decretar a duplicação do valor do salário mínimo e a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais; impulsionar a criação de moradias populares; implementar o programa de café da manhã escolar; investir em hidrelétricas, entre outros importantes avanços na área social e econômica.
“Avançamos 21 meses, sob um governo constitucional, quando em países como o nosso isso significa ganhar a estabilidade democrática, que foi conquistada dia a dia”, declarou Roldós, em seu discurso no Estádio Olímpico Atahualpa, em Quito, onde condecorou os combatentes da “Guerra do Falso Paquisha”.
A Guerra foi um conflito artificial, envolvendo Equador e Peru, que aconteceu com o dedo do Pentágono, entre janeiro e fevereiro de 1981. Naquele momento, o presidente exortou seu povo à unidade e destacou o papel do “Equador democrático, capaz de dar lições históricas de humanismo, trabalho e liberdade”. “Este Equador amazônico, desde sempre e até sempre. Viva a Pátria!”, enfatizou Roldós. Logo depois, o avião da Força Aérea em que viajava se chocou com a colina Huayrapungo, perto de Celica, na província de Loja.
Todos os tripulantes morreram. O presidente estava acompanhado da primeira-dama, Martha Bucaram de Roldós; do ministro da Defesa Nacional, general Marco Subía Martínez, e sua esposa, Helena de Subía; dos ajudantes-de-campo tenentes-coronéis Armando Navarrete e Héctor Torres; do piloto, coronel da Aviação Marco Andrade Buitrón; do copiloto, tenente de aviação Galo Romo; da camareira Soledad Rosero; e do segurança Carlos Cabello. O casal Roldós deixou então três filhos: Martha (17 anos), Diana (16), e Santiago (11).
“Acidentes” sob encomenda
Na tentativa de pôr um freio a governos independentistas, no mesmo ano, outros “acidentes” de avião ceifaram a vida de Rafael Hoyos Rubio, comandante geral do Exército peruano, em 5 de junho; e do líder da revolução panamenha, general Omar Torrijos, em 31 de julho. Rubio foi ministro do general Juan Velasco Alvarado, tendo enfrentado à Standard Oil. O comandante Torrijos retomou o estratégico Canal do Panamá, ainda durante o governo de Jimmy Carter, em 1977.
Autora do livro “Operação Condor, Pacto Penal”, a jornalista e escritora argentina Stella Calloni relatou que “Roldós e o general panamenho Omar Torrijos apareceram no chamado Documento de Santa Fé [papéis secretos da política Reagan], nos anos 80, como dois presidentes adversos, incômodos, segundo diziam, para os Estados Unidos”. O “Plano Condor” era uma campanha de repressão política e terror de Estado organizada pelo governo de Washington que envolvia operações de inteligência para sequestro, captura e assassinato de opositores.
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Uma “investigação” à toque de caixa realizada uma semana após a morte de Roldós, feita pela Junta de Investigação de Acidentes (JIA) da Força Aérea do Equador, respaldada pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), apontou sem qualquer comprovação, que houve uma “falha do piloto”.
A Comissão do Congresso do Equador, que contou com o apoio da Polícia de Zurique (Suíça), fez uma peritagem pormenorizada e descobriu que uma hélice e uma turbina do avião se encontravam apagadas no momento da colisão, isentando o experiente piloto e apontando para sabotagem.
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Leonardo Wexell Severo | Colaborador da Diálogos do Sul
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