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Contra Castillo, Ministério Público peruano vaza informações sem averiguação à mídia

Papel da imprensa na ofensiva também é evidente, por meio de uma linguagem obscena, sem o menor respeito pela investidura presidencial
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Diz a lenda que antes da tormenta se costuma ouvir o rugido dos deuses. Neste caso houve rugidos, sim; mas não tormenta. Os deuses do Olimpo Parlamentar gritaram antes, mas não desataram sua ira. A “Grande Imprensa” disse que falaram em voz baixa. No entanto, não se pode negar que o enrarecido clima político nacional se agravou ainda mais.

Em realidade, ocorreram três fenômenos que incidiram significativamente para que isto suceda: a conduta dos porta-vozes da ultradireita que “esquentaram” o cenário com acusações violentas e extremas; o papel dos meios de comunicação empenhados em uma guerra de demolição contra o Chefe do Estado; e a ofensiva da Promotoria e outras estruturas desse tipo que insistem em acumular denúncias contra tudo o que seja próximo ao Presidente, no cantado ânimo de desacreditá-lo, até fazê-lo cair. 

Está na moda isso que alguns chamam de Lawfare, termo que serve para descrever um procedimento perverso mediante o qual se elabora um conjunto de presumidos delitos, se organiza um poder persecutório e se escolhe uma vítima à qual se busca destruir a qualquer preço. 

Trata-se de uma variante da judicialização da política, que começou em nosso continente quando se acusou a Lula da Silva, no Brasil, e se chegou a condená-lo a penas infamantes e sem nenhuma sustentação real. 

Leia também: Traição, suspenção, vacância: como ultradireita peruana manobra Constituição contra Castillo

Quando passou o vendaval e foi possível reconstruir os fatos, se pode estabelecer a falsidade das acusações esgrimidas contra quem fora o primeiro Presidente Operário desse enorme país. Depois de alguns anos em injusta prisão, Lula reivindicado assoma hoje como o mais popular dos políticos e o próximo Chefe do Governo na Pátria de Prestes. 

É claro que a ultradireita já fracassou em suas várias tentativas de desestabilizar o regime de Pedro Castillo. Na realidade, nunca lhe faltou desejo de alcançar esse objetivo. O que lhe faltou foram razões e, como consequência, força, entendida como um resoluto apoio cívico. 

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Durante doze meses – logo serão treze – seus porta-vozes, dentro e fora do Poder Legislativo, se empenharam a fundo para conseguir esse propósito. Por isso, não se pode mesquinhar reconhecimentos nem adjetivos a congressistas e políticos defasados que levantam a voz e usam imprecações violentas e agressivas, não para convencer ninguém, mas para mostrar o ódio e a impotência que lhes consome as entranhas.   

Eles, que acusam ao Presidente do Conselho de Ministros de “incitar a violência” e fazem discursos filisteus, não só incitaram a violência na tarde e noite de 5 de abril de 2022, mas, além disso, a levaram à prática semeando o pânico, a soçobra e o caos no centro de Lima, como uma forma de expressar seu “protesto” contra o Governo. 

Como se recorda, causaram grandes prejuízos, inclusive a centros comerciais os quais nunca repararam. Não obstante – e apesar de que muitos autores desses latrocínios foram identificados – nenhum foi detido nem processado, ficando em evidência a parcimônia de um Governo que objetivamente não sabe se defender. 

Não só fizeram uso da violência nessa sombria circunstância, mas a exercem constantemente através de bandos neonazistas, como “La Resistencia” e outros grupos sediciosos, que atacam moradias, golpeiam pessoas e perseguem adversários por ruas e avenidas, contando para isso com uma espécie de impunidade garantida por segmentos do Poder Judicial, que acabam por desconsiderar denúncias apresentadas contra eles sob argumento de uma incrível “falta de provas”. 

O papel da imprensa nessa ofensiva tem sido evidente. As e os apresentadores de TV nos canais mais vistos é por certo indicativa. Milagros Leiva, Beto Ortiz, Phillips Butters, Rosana Cueva, Mávila Huerta e outros não cumprem sua função apresentando notícias, mas dedicam os programas que comandam para “convencer” aos que podem de uma “razão” que não lhes assiste. 

Papel da imprensa na ofensiva também é evidente, por meio de uma linguagem obscena, sem o menor respeito pela investidura presidencial

Reprodução – Twitter
A todos se busca usar como “colaboradores eficazes” que possam acusar Castillo de ser “o Chefe supremo de uma Organização Criminosa”

Mas na maioria dos casos, o fazem valendo-se de uma linguagem procaz, simplesmente obscena, sem o menor respeito pela investidura presidencial. Ofendem ao Chefe do Estado com injúrias que não seriam toleradas em nenhum outro país. 

E o Ministério Público se soma a tudo isso, sem respeito algum pelos procedimentos legais formalmente reconhecidos. Não só acusa por toda parte, mas além disso, parece entregar aos meios de comunicação informação reservada – e sem investigar – para que seja difundida e divulgada de forma escandalosa.

Por isso os “dominicais” mostram “primícias” em torno das quais especulam grosseiramente. Assim se estendeu a investigação a toda a família do Chefe do Estado, incluindo sua esposa e filhos.  

E a todos se busca usar como “colaboradores eficazes” sob uma única condição: que acusem Pedro Castillo de ser “o Chefe supremo de uma Organização Criminosa”. Desse modo, os livrará de qualquer culpa ou sentença que lhes pudesse ditar. 

Neste marco, o único que falta – e seria a chave de ouro – é que o chamado “Camarada José” se entregue e se acolha à “colaboração eficaz”, afirmando que “coordenava ações” com Castillo. 

Leia também: Congressistas que acusam Castillo também precisam prestar contas à sociedade peruana

É claro que o governo “põe a sua parte” para se desacreditar. A negativa de ratificar o Acordo de Escazú em defesa do Meio Ambiente, a ruptura com o Estado de Sajarahui e a designação de Rodríguez Mackay para a Chancelaria somam pontos para a desconfiança e estimulam o rugido que antecede a tormenta.

Não obstante, tudo tem servido para que os campos se perfilem mais nitidamente. As pessoas, as organizações sociais e as forças mais avançadas vão tomando finalmente consciência da imperiosa necessidade de fechar a passagem ao Golpismo. 

Gustavo Espinoza M., colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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