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Contra injustiça, Alberto Fernández pede “Lula livre”, grito que ecoa pela Argentina

Em discurso, após conhecer o resultado eleitoral, e sua vitória, fez questão de saudar o ex-mandatário brasileiro, hoje um preso político.
Vanessa Martina-Silva
Diálogos do Sul Global
Buenos Aires

Tradução:

“Hoje, dia 27, Lula faz aniversário. Um homem preso injustamente. É nosso dever exigir sua liberdade. Lula livre!”. O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, não deixa dúvidas quanto à sua posição sobre o Brasil. Em discurso, após conhecer o resultado eleitoral, e sua vitória, fez questão de saudar o ex-mandatário brasileiro, hoje um preso político. O fato carrega um simbolismo importante.

Alberto não precisava e não fez isso visando qualquer ganho político, ao contrário, pois se indispõe – ainda mais – com o atual ocupante do Palácio do Planalto. O compromisso do líder é moral. Ele visitou Lula na prisão em julho deste ano e denunciou a “violação do Estado de direito no país”. O futuro presidente argentino integra o Comitê Lula Livre e tratou da situação do brasileiro diretamente com o papa Francisco.

Em discurso, após conhecer o resultado eleitoral, e sua vitória, fez questão de saudar o ex-mandatário brasileiro, hoje um preso político.

Reprodução Instagram Alberto Fernández
“Hoje, dia 27, Lula faz aniversário. Um homem preso injustamente. É nosso dever exigir sua liberdade. Lula livre!”, disse Fernández

A postura de Fernández encontra eco na sociedade argentina. Antes, quando as pessoas no exterior reconheciam um brasileiro, falavam sobre futebol, novela, alguma tragédia pontual. Estou há sete dias na Argentina e não passou um sequer sem que as pessoas tenham me questionado sobre a situação do ex-presidente: “quando Lula vai sair?” foi o questionamento que mais ouvi até agora desde políticos que entrevistei, até motoristas de uber, taxistas e pessoas comuns com quem conversei.

A curiosidade vem da não compreensão da situação brasileira “como vocês chegaram até aí”, também questionam, em referência ao governo de Jair Bolsonaro. Não é fácil explicar, mas eles entendem que tudo está relacionado.

E o povo o que diz?

“Eu penso que Lula tem que estar livre. A Argentina tem que somar forças para isso, tem que apoiar o Lula Livre”, me disse o manifestante da comunidade LGBTQI que esqueceu de dizer seu nome, mas que mora em San Juan, na província de mesmo nome, no interior do país e estava presente no ato da vitória de Fernández.

“Lula é outro perseguido, outro que sofre o que nós sofremos aqui com o neoliberalismo. Lula também vai voltar e será uma outra alegria para toda a América Latina”, disse o advogado Osvaldo Tarsia, durante o ato, se referindo à perseguição política sofrida também pela ex-presidenta Cristina Kirchner, que enfrenta diversos processos na justiça. 

Nesta segunda-feira (27) circula pelas redes um vídeo com o correspondente da Globo na Argentina Ariel Palacios gravando uma passagem para a TV e, à sua volta, manifestantes pedem a liberdade de Lula. Te entendo, Ariel, estamos juntes! Em um vídeo que fiz, de quatro minutos, fui interrompida dez vezes (sim, eu contei) por pessoas que gritavam “Lula Livre”, “Viva Lula”. Também teve “Fora, Bolsonaro” e palavrões impublicáveis relacionados ao extremista neoliberal brasileiro.

Não são todos os argentinos que são pró Lula, por supuesto. Em uma situação bastante inusitava, fui abordada, na rua, por um deputado da Nação argentina que, entre outras coisas peculiares, me disse que “Lula livre”, mas o que ele tentava me falar, na verdade, era que o ex-presidente já está em liberdade e que há um sósia em seu lugar. “Todos os que vão visitá-lo na carceragem da Polícia Federal estão mentindo então?”. “Claro”, foi a resposta final. 

E os brasileiros também

Mais cedo, no mesmo domingo (27), um grupo de brasileiros fez uma saudação a Lula diante do obelisco, uma das maiores referências turísticas de Buenos Aires, em homenagem ao seu aniversário de 74 anos. Presente no ato, o ex-senador brasileiro pelo PT Lindbergh Farias sintetizou o sentimento dos presentes: 

“A América Latina está vivendo um mesmo processo. Macri, o príncipe do neoliberalismo, será derrotado. Há uma virada, como se vê com a vitória de Evo Morales na Bolívia e principalmente com as mobilizações no Chile e no Equador. O próximo passo é a libertação de Lula, para que ele possa andar pelo Brasil, fazer o país crescer e gerar empregos. Saímos com a convicção de que o neoliberalismo não traz futuro”.

*Vanessa Martina Silva é editora da Diálogos do Sul e integra o  Coletivo de Comunicação Colaborativa ComunicaSul, que está cobrindo as eleições na Bolívia, Argentina e Uruguai com o apoio das seguintes entidades: Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; Hora do Povo; Diálogos do Sul; SaibaMais; 6 três comunicação; Jaya Dharma Audiovisual; Fundação Perseu; Abramo; Fundação Mauricio Grabois; CTB; CUT; Adurn-Sindicato; Apeoesp; Contee; CNTE; Sinasefe-Natal; Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região; Sindsep-SP e Sinpro MG. 

A reprodução é livre, desde que citados os apoios e o autor.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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