Pesquisar
Pesquisar
Foto: Chris Beckett / Flickr

Controle armamentista nos EUA: 39% dos donos de armas legitimam violência política

Governo Biden anunciou novas regras para venda e compra de armas, mas número de dispositivos que já estão nas mãos de civis é um grande desafio
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannnabrava

O governo de Joe Biden anunciou na última quinta-feira (11) novas medidas de controle de armas de fogo, incluindo a verificação de antecedentes dos compradores de armas. No entanto, poderia ser tarde demais, já que existem mais de 430 milhões de armas de fogo circulando em mãos privadas nos Estados Unidos. Um segmento significativo dos proprietários de armas interpretou essas novas medidas como outra violação às suas liberdades, já que acreditam fielmente que é necessário o uso de violência para proteger o chamado “American Way of Life”, baseado em tradições da Europa Ocidental.

“A cada ano, milhares de vendedores de armas sem licença vendem dezenas de milhares de armas sem uma verificação de antecedentes [de seus clientes], incluindo compradores que teriam sido rejeitados – agressores domésticos, criminosos violentos e até menores de idade. Esta falha em nosso sistema federal de verificação de histórico tem causado dor e sofrimento inimaginável”, declarou a vice-presidente Kamala Harris ao anunciar as novas medidas.

Leia também | Armas: EUA têm metade do arsenal civil global; 1 pessoa foi morta a cada 11 minutos em 2021

Estas medidas obrigarão, a partir de agora, qualquer pessoa que está vendendo uma arma de fogo para obter lucro – ainda que fora de uma loja ou comércio -, a obter uma licença para ter a autorização oficial de vender armas e realizar uma verificação de antecedentes de todo comprador. O Departamento de Justiça calcula que existem mais de 20 mil vendedores de armas sem licença neste país e que eles são a fonte de mais da metade das armas de fogo ilegalmente traficadas nos Estados Unidos.

Porém, estas medidas não abordam o grande número de armas que já estão em mãos da população civil americana, com cálculos de que são mais de 430 milhões no total. As novas medidas foram anunciadas na mesma semana em que o Programa de Prevenção de Violência da Universidade da Califórnia emitiu o novo relatório “Posse de Armas de Fogo e Apoio à Violência Política nos Estados Unidos” que, depois de entrevistar mais de 13 mil pessoas em 2022 – 45% delas proprietárias de armas – concluiu que os proprietários de armas de fogo eram mais propensos a considerar que a violência é normalmente ou sempre justificada para atingir objetivos políticos específicos.

Aumento durante a pandemia

Os autores assinalam que as compras de armas de fogo aumentaram dramaticamente durante a pandemia, e também as mortes por tiros. A categoria de pessoas que recentemente comprou uma arma de fogo e aqueles que as portam de maneira regular em público são os mais focados na violência política. Neste segmento, apontam os pesquisadores, “eram mais propensos que suas contrapartes a opinar que a violência política é justificada, mais dispostos a participar dela, mais dispostos a matar para alcançar objetivos políticos e mais dispostos a organizar agrupamentos violentos”.

O relatório alerta que, embora a maioria das pessoas neste segmento se oponha à violência política, os pesquisadores oferecem um alerta aterrorizante: “É possível, com base em nossos resultados, que alguns compradores recentes estiveram armados ao participar de um conflito civil. Nossos resultados sugerem que grande parte dos indivíduos armados, potencialmente dispostos a praticar violência política, reúnem-se em espaços públicos nos Estados Unidos todos os dias.

Leia também | Nos EUA, total de armas de fogo ultrapassa população e causa recorde de mortes em 2020

Como grupo, 39% dos donos de armas consultados nesta pesquisa acreditam que a violência é frequentemente ou sempre justificada para obter alguns objetivos políticos, em comparação com 30% do público em geral que compartilha essa opinião. Os pesquisadores acrescentam que a justificação da violência política era mais comum entre os donos de rifles de assalto (42,3%), compradores recentes (43,9%) e que mais da metade daqueles que dizem que sempre ou quase sempre portam armas (55,9%) crê que em alguns casos se pode justificar a violência política.

Esses resultados são outro indicador preocupante em um ano onde um candidato presidencial ameaça com a possibilidade de violência política durante este ciclo eleitoral, e onde ainda prevalece a sombra do intento de golpe de Estados por fanáticos de direita armados que assaltaram o Capitólio em janeiro de 2021.

Leia também | Armas, supremacistas e o tuíte de Trump: A equação do assalto ao Capitólio, nos EUA

Apesar disso, os médicos que participaram na elaboração deste relatório tentam oferecer algo mais otimista. “Apesar destes resultados e suas implicações, o resultado mais amplo aqui – que a maioria dos donos de armas e os não armados também rejeitam repetidamente a violência política – traz esperança, em nossa opinião… Nossos resultados sugerem que um esforço conjunto entre os donos de armas e os não donos de armas de repudiar publicamente a violência política e ajudar a identificar, dissuadir e incapacitar os prováveis autores” deste tipo de violência poderiam ajudar a frear esse perigo, apontam no estudo.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

LEIA tAMBÉM

Lula e Petro
Proposta de Lula contra extrema-direita global é "basta!" à normalização da barbárie
Haiti_intervenção (2)
Em carta, entidades internacionais pedem apoio de Celac e Brics pelo fim das intervenções no Haiti
Support Hope
30 anos do genocídio em Ruanda: símbolo do fracasso da França, dos EUA e da ONU
País Basco - EH-Bildu
"País Basco é uma nação com direito de decidir", afirma líder do Eh-Bildu sobre independência