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Basta! "COP é um grande negócio, é continuação do colonialismo onde não nos escutam”, diz indígena mixteca

“Provavelmente esta é a COP mais mal organizada, a menos inclusiva, a que deixou fora mais gente da sociedade civil, das comunidades indígenas e dos movimentos ecologistas”
Armando G. Tejeda
La Jornada
Gasglow

Tradução:

Os povos indígenas disseram “Basta!” Muitos deles se sentem marginalizados, maltratados e cada vez mais deslocados das decisões que serão adotadas no Cúpula da Mudança Climática em Glasgow (COP26). 

“Esta COP é um grande negócio, é a continuação do colonialismo onde as pessoas não nos escutam, salvo para fazer negócio com nossas terras e nossos recursos naturais”, denunciou a indígena mixteca Ita Mendoza, em um ato no qual recordaram as mais de mil pessoas assassinadas por defender a terra, os bosques e a natureza desde que se firmou o Acordo de Paris, no ano 2015.

Em seu comparecimento diante dos meios de comunicação, a secretária executiva da Organização dos Nações Unidos (ONU) para a Mudança Climática, a diplomata mexicana Patricia Espinosa, foi interpelada com um mal-estar crescente: “Provavelmente esta é a COP mais mal organizada, mas cada vez mais gente nos diz que também é a menos inclusiva, a que deixou fora mais gente da sociedade civil, das comunidades indígenas e dos movimentos ecologistas”. 

Espinosa se escudou na pandemia, nas complicações para respeitar os critérios sanitários, para evitar aglomerações e respeitar a distância segura, informou que “mais de 10 mil pessoas” na COP26 são representantes da sociedade civil.

Mas as comunidades indígenas, através de vários agrupamentos internacionais que mobilizaram alguns de seus líderes, decidiram não só denunciar sua marginalização, mas também apontar que nos encaminhamos a um “novo colonialismo” que será imposto pelas grandes economias do mundo da mão das empresas mais poderosas e influentes. 

Uma mensagem similar à que foi dada pelo presidente da Bolívia, Luis Arce, durante sua intervenção no COP26, quando alertou que “a comunidade internacional busca impor o colonialismo do carbono”.

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Uma representação das comunidades indígenas integradas em uma plataforma global levou a cabo um ato de denúncia, navegaram ao redor do rio Clyde – que cruza a capital escocesa – para recordar as pessoas assassinadas desde a firma do Acordo de Paris, por defender a terra diante da inação dos governos, das quais um terço eram indígenas como foi o caso da hondurenha Berta Cáceres e outros casos similares ocorridos na Guatemala, Equador, Filipinas e México.

A indígena mexicana Mendoza lamentou precisamente tantas mortes que podiam haver sido evitadas caso se houvesse avançado no estabelecido há mais de seis anos no Acordo de Paris, quando se acordou avançar no reconhecimento e respeito às culturas e aos territórios dos povos indígenas. 

Nada se avançou nesse assunto, denunciou. “Por isso me pergunto que benefícios pode trazer a COP quando mais de mil pessoas têm lutado, pelejando para salvaguardar o planeta desde a firma de Paris”.

“Provavelmente esta é a COP mais mal organizada, a menos inclusiva, a que deixou fora mais gente da sociedade civil, das comunidades indígenas e dos movimentos ecologistas”

Mídia Ninja
Povos indígenas se sentem cada vez mais deslocados das decisões que serão adotadas no Cúpula da Mudança Climática em Glasgow (COP26).

Uma denúncia a que se somou Eriel Deranger, diretor executivo da organização Indígenas de Ação Climática, o qual advertiu que “enquanto dizem que estão tentando preservar e respeitar a cultura e a sabedoria indígenas, ao mesmo tempo nos deixam de fora da tomada de decisões. É o mesmo paternalismo do sistema de sempre”. 

A líder do Amazonas, Ninawa Inu Huni Kui, agregou que “nossa visão, como comunidades indígenas, é muito diferente às do que estão tomando as decisões na COP. Nós temos conexões ancestrais com a Mãe Terra. E são espaços espirituais que nunca poderão ser negociados por dinheiro, por isso os grupos de trabalho desta cúpula não representam os pontos de vista de nossas comunidades ou explicam o que significa o mercado de carbono”. 

O indígena mexicano Gustavo Sánchez, da Aliança Global Territorial, assinalou por sua parte que eles estão em Glasgow para reivindicar “o direito do reconhecimento do território, que também envolve os atributos, ou seja, a água, a captura de carbono, a biodiversidade. O respeito ao consentimento livre e informado que tem que ver com o respeito às comunidades quando forem adotadas decisões que afetam seu território e cultura. Menos de 10 por cento do investimento climático está chegando aos territórios. E que se acabe com a criminalização dos líderes indígenas que defendem a terra”.

No marco da COP26 foi anunciada ademais a criação de um fundo de até um bilhão e setecentos milhões de dólares, nos quais participam os governos do Reino Unido, Noruega, Alemanha, Estados Unidos, Países Baixos, a Fundação Ford e 17 doadores privados, que serão destinados para que os povos indígenas reflorestem seus territórios e os defendam com instrumentos legais. O dinheiro será destinado à Aliança Global de Comunidades Territoriais, que está presente na América Latina, África e Asia, e que representa a uns 35 milhões de pessoas de 24 países, incluído o México.

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A mexicana Laura García, presidenta da organização Global Greengrants, que também tem programas com comunidades indígenas, explicou que “o anúncio desse plano é bastante novo para todas as comunidades e as organizações, mas há uma expectativa de que vão a chegar mais fundo. Eu espero que uma parte seja destinada ao México e se for assim, creio que haverá uma grande diferença em algumas comunidades e grupos de base. Os governos normalmente tratam de evitar que as comunidades recebam diretamente os fundos e lutem de forma autônoma por seus direitos e seus territórios”.

E agregou que “ao México lhe faz falta, em seus sistema legal e em suas práticas judiciais, ter um reconhecimento mais cotidiano do direito internacional. No México há referências às convenções da Organização Internacional do Trabalho e de como devem fazer as consultas prévias e informadas, mas não é tão recorrente como em outros países da América Latina. Por isso é importante gerar essa mudança cultural, que só vai ser conseguida caso os povos indígenas sigam lutando para recuperar esses espaços”. 

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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