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Cristina Kirshner: “Não estão atrás de mim, mas dos direitos dos trabalhadores e aposentados”

"É necessário que nós que acreditamos na possibilidade de mudar algo pensemos sobre o que está acontecendo", disse a ex-presidente
Redação Prensa Latina
Prensa Latina
Buenos Aires

Tradução:

A vice-presidenta argentina, Cristina Kirchner, denunciou, na última terça (23), a imposição de obstáculos à sua defesa e a realização de um processo contra o peronismo, os governos populares, e aqueles que lutam pela memória, a verdade, a justiça e os direitos cidadãos.

Na véspera, durante a última audiência de acusação da Causa Vialidad, o procurador Diego Luciani solicitou uma pena de 12 anos de prisão para a vice-mandatária e sua inabilitação perpétua para exercer cargos públicos por supostas irregularidades na adjudicação de 51 obras públicas na província de Santa Cruz, de 2003 a 2015.

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Kirchner denunciou a inexistência de provas contra si e as violações cometidas no processo, razão pela qual solicitou ampliar sua declaração indagatória, mas o Tribunal Oral Federal 2 rejeitou seu pedido.

Ante esta decisão, a ex-chefe de Estado decidiu apresentar seus argumentos em uma transmissão ao vivo em seu escritório no Senado da Nação, do qual é titular.

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“Teria preferido falar diante do tribunal, mas não é a primeira vez que me impedem. Há anos, a sentença está escrita porque existe um sistema de justiça que permite violar todas as normas”, afirmou.

A ex-presidenta detalhou o processo contra ela, lembrando que em 2015 um tribunal de Santa Cruz rejeitou a causa por inexistência de corrupção ou outro delito.

Também demonstrou os vínculos existentes entre juízes, procuradores, empresários, funcionários e o ex-mandatário Mauricio Macri (2015-2019).

“Começou uma feroz campanha política e midiática. Disseram que foram pagas obras que não foram feitas. Jornais como Clarín e La Nación publicaram matérias sobre supostos superfaturamentos e cifras que ninguém sabe de onde saíram. Começou um processo baseado em uma ficção”, disse.

“Nada do que disseram foi provado. Além disso, foi provado que tudo era exatamente ao contrário, o que pudemos ver a partir dos testemunhos das mais de 100 testemunhas citadas pelo Ministério Público”, acrescentou.

Cristina Kirchner leu declarações de pessoas citadas pelos procuradores Sergio Mola e Luciani, as quais, disse, finalmente colapsaram.

"É necessário que nós que acreditamos na possibilidade de mudar algo pensemos sobre o que está acontecendo", disse a ex-presidente

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"Nenhum peronista escapou quando nos perseguiram, ameaçaram e encarceraram"




Naves insígnias do lawfare

“Clarín e La Nación, as duas naves insígnias do lawfare (guerra jurídica), praticamente não cobriram o desenvolvimento do processo. Durante três anos, nem apareceram e, quando apareciam, era com títulos que nada tinham a ver com a realidade”, afirmou.

A titular do Senado afirmou que, durante os últimos anos, foram reveladas ações de extorsão, espionagem, perseguição de líderes sindicais e manipulação, estimuladas pelo macrismo.

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“Aflorou um sistema judicial totalmente articulado com os serviços de inteligência, criado e dirigido da Casa Rosada por Macri e Fabián Rodríguez, o único dirigente político prófugo”, garantiu.

“Nenhum peronista escapou quando nos perseguiram, ameaçaram e encarceraram. Eles fogem na primeira citação que têm”, disse ainda.

Por outro lado, assegurou que os procuradores não têm nenhuma evidência contra ela e por isso adotam o roteiro da mídia e começam a buscar provas em outros processos, cuja introdução na causa foi autorizada na última audiência do debate oral.

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Não obstante, explicou que as matérias apresentadas “demonstram que, além de mentirosos, não trabalham nem leem”.

Fernández ressaltou a associação ilícita entre funcionários macristas e empresários de obras públicas, a malversação dos recursos públicos e a descontinuidade das arguições necessárias.

“Quando começaram a puxar o carretel pararam, porque apareceram provas contra eles. Não continuaram investigando porque não lhes convinha”, indicou.


Equador, Bolívia e Brasil

“Na América Latina, já não há partidos militares, mas sim um (partido) judiciário. O lawfare no Equador, Bolívia e Brasil é para deslocar, estigmatizar e anular os governos populares. Na Argentina, vão um pouco mais longe e protegem os que verdadeiramente roubam no país”, afirmou.

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Também indicou que o período de prisão que pedem para ela é pelos 12 anos de mandato de Néstor Kirchner e dela (2003-2015), “os melhores governos que teve a Argentina nas últimas décadas”.

“Por isso vão me estigmatizar e condenar, mas se nascesse 20 vezes, 20 vezes faria o mesmo. Me preocupa muito que tentem punir a direção política para que ninguém se anime a fazer o mesmo”, disse.

“Tomei a decisão de recuperar o patrimônio dos argentinos e isso não me perdoa, mas não me arrependo. Sei que minha condenação está escrita. É necessário que nós que acreditamos na possibilidade de mudar algo pensemos sobre o que está acontecendo”, disse.

Também alertou: “Não estão atrás de mim e sim de vocês (os cidadãos), pelos direitos dos trabalhadores e dos aposentados”.


População expressa apoio à vice-presidenta

“Viemos apoiar a ex-presidenta que tanto fez pelos pobres”, afirmou hoje Nancy Leire, que chegou à frente do Congresso argentino junto a centenas de pessoas para expressar seu apoio a Cristina Fernández.

Em declarações à Prensa Latina, Leire afirmou que o povo deve ir para as ruas para impedir que condenem a vice-mandatária, vítima de uma perseguição política, midiática e judiciária.

“Não podemos permitir que a prendam porque o mesmo pode nos acontecer. Não há Estado de Direito. Tudo é um desastre. Não queremos uma justiça que não cumpre seu papel”, afirmou.

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“Não há nenhuma prova para que Cristina vá presa e, no entanto, querem que cumpra 12 anos de prisão. É incompreensível. Tudo o que ela deu a nós, pobres, aos avós, é algo que não se esquece”, acrescentou.

Desde o começo da manhã, começaram a reunir-se em frente à sede do legislativo seguidores da ex-chefe de Estado, que decidiu apresentar seus argumentos em uma transmissão ao vivo depois que lhe negaram a possibilidade de defender-se no processo contra ela.

“Ouvi seu discurso. O que mais me impressionou foi que expôs os vínculos entre empresários, funcionários e Mauricio Macri (ex-presidente). Ela não é mencionada nem uma vez. De que associação ilícita falam? Não há nenhuma prova que a incrimine”, afirmou Leire.

Mais tarde, Kirchner agradeceu aos que foram acompanhá-la “pelo amor de sempre”. Em torno do Congresso ouviam-se ainda consignas contra o lawfare e a perseguição.

“Se tocam em Cristina, que bagunça vai se armar!”, cantavam os manifestantes.

Redação Prensa Latina
Tradução: Ana Corbisier.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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