Pesquisar
Pesquisar

Música da floresta, grupo de Carimbó Katuá é terra, cultura e resistência

O álbum "De cabôco pra cabôco" chegou ao público em 30 de julho, mostrando o novo momento do grupo que, com mais de uma década de história
Danilo Nunes
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Ataque contra a Amazônia, desmatamento exacerbado, ataque contra os indígenas, quilombolas, fim da demarcação de terras e o fim do Ministério da Cultura são algumas das práticas inconsequentes, genocidas e insanas do atual governo, eleito por um grupo que faz questão de deixar evidente o seu amor pelo Brasil. 

Precisamos entender que amor é esse? Amor bandido, amor insano, amor daqueles que dispensamos, pois, só nos faz mal. Isso não é amor, é obsessão pela destruição de um povo e de um país que representa — e muito — para o mundo e sua história.

Fome, miséria, desigualdade e atentados contra os direitos humanos que foram conquistados com muita luta, assim vem nos mostrando esse senhor no pouco tempo em que se encontra no poder do Estado. A irresponsabilidade é tamanha que o mundo inteiro, inclusive países dominantes do sistema capitalista, se surpreenderam a ponto de impulsionarem campanhas e mais campanhas contra as ações de Jair Bolsonaro e seus comparsas.

A pandemia e a crise sanitária destacaram ainda mais as faltas de competência e humanidade a que estamos submetidos (as) nesse momento trágico de nossa história. Batemos recordes com as mortes derivadas da covid-19 e o que presenciamos foi o total descaso do governo que se apoderou do Estado para transformá-lo em pódio para massagear os egos de uma família que, por muitos anos se sustenta do dinheiro público e utiliza a vida pública como troféu, enquanto o povo sucumbe. 

A Amazônia, nosso grande patrimônio, vem sendo constantemente atacada, assim como os indígenas, suas terras e cultura ancestral, que vem sendo ameaçada e esmagada ora com a violência política, por meio de decretos, projetos e interesses de uma minoria, ora com a força física, torturando e matando nossos ancestrais que ainda mantêm vivas as tradições e identidades de um povo rico em fontes naturais e culturais.

Veja também na TV Diálogos do Sul:

A tragédia que se instaurou em nosso país e o momento conturbado que estamos vivendo vêm nos empurrando para a luta, a resistência, a defesa e proteção do que é nosso e ninguém irá tirar. É nesse contexto que despontam obras artísticas que buscam denunciar, questionar, conscientizar e despertar todo um país que adormece em seu isolamento social e sofre com as consequências desse momento com doenças, mortes e depressões profundas que, muitas vezes, nos paralisam. 

São obras, são artistas, são músicas e poesias que buscam a arte como meio de comunicação simbólica e resistência cultural, gerando pontos de intersecção em diversos segmentos e conseguem entrar na vida de cada um (a) de nós, conduzindo-nos à ação de resistência.

O álbum "De cabôco pra cabôco" chegou ao público em 30 de julho, mostrando o novo momento do grupo que, com mais de uma década de história

Divulgação
O grupo paraense Kuatá de Carimbó.

Um desses grandes exemplos é o do grupo paraense Kuatá de Carimbó. Criado em 2010, na Vila de Alter do Chão (PA), coração da Amazônia, o Kuatá faz um carimbó tradicional e tem como referência os Mestres Verequete, Lucindo, Chico Braga, Chico Malta e Grupo Espanta-Cão. 

Tocaram com nomes consagrados da música amazônica como Dona Onete, Silvan Galvão, Patrícia Bastos, Trio Manari e Gaby Amarantos. Liderada por Hermes Caldeira (banjo/voz) e conta com Diogo Borges (banjo/voz/maracas), Sérgio Corrêa (sax), Rudá Nóbrega (curimbó/maracas/reco-reco), Edelson Borari (curimbó/maracas), Erik Erlan (curimbó/caixa), Luiz Manoel (maracas) e os dançarinos Sandra e Hinho.

Seus integrantes mantêm vivas as tradições culturais que os inspiraram, espalhando por onde passam as sementes do carimbó e ritmos presentes nas manifestações culturais de sua região. Essa é a grande resistência dentro de um sistema que tenta, a todo custo, massacrar as expressões e os processos de formação social e cultural de um povo.

Os agentes e artistas da cultura popular também são capazes de se (re) significarem, apropriando-se das novas ferramentas e meios de comunicação para que possam seguir com seus trabalhos e criações, resistindo ao tempo, tecnologia e globalização. A expressão mais pura da nossa cultura, estão nas mãos, almas e corações desses grandes mestres e descendentes da ancestralidade da terra.

Assista também:

O álbum “De cabôco pra cabôco” chegou ao público em 30 de julho pelas principais plataformas digitais, mostrando o novo momento do grupo que, com mais de uma década de história nas ruas e nos palcos — em Alter do Chão, Santarém, São Paulo e Rio de Janeiro —, focou na qualidade musical de estúdio trazendo nove faixas com produção de Boro/Alter do Som, gravação e mixagem de Júlio Tapará e masterização de Gustavo Lenza. 

O compasso acelerado da música em relação ao “carimbó chamegado” da região — uma performance belíssima dos percussionistas quando estão no palco — , a voz potente e marcante do líder Hermes Caldeira, e as letras sobre cotidiano da vida cabocla dos seus próprios integrantes são a marca do Kuatá. 

Além de tocarem juntos há mais de dez anos, quase todos os integrantes do Kuatá cresceram juntos às margens do Tapajós, tendo inclusive participado ativamente do movimento de revitalização do Carimbó, tombado como Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro em 2014: Hermes Caldeira (banjo/voz), Rudá Nóbrega (banjo/voz/curimbó), Edelson Borari (curimbó/maracas), Erik Erlan (curimbó/caixa) Sérgio Corrêa (sax) e Luiz Manoel (maracas). 

O único músico de fora de Alter é o argentino Francisco Alvarez (flauta), que toca com o Kuatá há quase cinco anos e soma com o grupo também na sua experiência com a música num sentido mais formal. Graduado pela Universidade Federal de La Plata, Francisco teve papel fundamental nessa nova fase de adaptação do trabalho para o estúdio. 

Para que possamos resistir ao momento onde nossa própria história e cultura é demonizada na sociedade por setores conservadores e autoritários, faz-se necessário que tenhamos, assim como o grupo Kuatá, muitos outros grupos e coletivos para não nos deixar esquecer quem somos, de onde viemos e para onde iremos. 

Para saber mais, acompanhe a entrevista que vai ao ar na próxima segunda, às 19h com Hermes Caldeira na TV Di´álogos do Sul e ouça o novo trabalho do grupo Kuatá de Carimbó:

* Danilo Nunes é músico, ator, historiador e pesquisador de cultura popular brasileira e latinoamericana

Instagram: @danilonunes013

Facebook: @danilonunesbr


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na Tv Diálogos do Sul

   

Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Danilo Nunes

LEIA tAMBÉM

Gaza-mídia2
Geopolítica, mídia hegemônica e ignorância: por uma política de comunicação verdadeiramente plural
Bust_of_Hermann_Broch,_Teesdorf_02
"A Morte de Virgílio": como distopia de Hermann Broch ecoa totalitarismos do século XX
Regular_algoritmos
Frei Betto | Regular uso de algoritmos é promover democracia e justiça social
Entre a utopia e o cansaço pensar Cuba na atualidade (3)
“Entre a utopia e o cansaço: pensar Cuba na atualidade” é lançado neste sábado (20), em SP | Entrevista