Pesquisar
Pesquisar

Cúpula da Amazônia: entre a defesa ambiental e a busca por consensos

Gustavo Petro criticou postura de alguns progressistas, que apelam a novas formas de "negacionismo" para manter ações nocivas ao meio ambiente
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

A cúpula amazônica, convocada pela presidente Luiz Inácio Lula da Silva e realizada entre os dias 8 e 9 de agosto, terminou suas deliberações na cidade brasileira de Belém do Pará, na região norte do país, com a consolidação de um bloco regional dos oito países que conformam esse bioma de quase oito milhões de quilômetros quadrados e equivalente a 44% do território sul-americano.

Embora os presidentes que assistiram à cúpula – Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia – assim como os delegados de Venezuela, Equador, Guiana e Suriname coincidissem no diagnóstico sobre as graves ameaças que espreitam o equilíbrio ambiental da Amazônia, o documento final da reunião – conhecido como Declaração de Belém – também deixou evidentes notórias diferenças de enfoque entre os governos da área.

Marina Silva “lembra” aos EUA que, apesar de vital ao planeta, Amazônia pertence ao Brasil

Sobre um rascunho apresentado pelos anfitriões brasileiros, a declaração incluiu vários parágrafos e comentários aportados pelos demais países, mas chamou a atenção que se excluísse uma das propostas apoiada por Lula e pelo presidente colombiano, Gustavo Petro, para que os oito governos se comprometessem a chegar ao ano 2030 com zero deflorestação dos bosques

Segundo os cientistas que tomam o pulso ao maior pulmão vegetal do planeta, a Amazônia exibe hoje uma enorme cicatriz produzida pelo corte e pela queima de 17% de suas florestas, apenas três pontos menos da porcentagem que se considera “ponto de não retorno”, momento em que o bioma deixaria de absorver emissões nocivas para começar a gerá-las.

Continua após o banner

A maior parte desta inclemente “tumba” de bosques se destina à criação de grandes extensões agrícolas (soja) e de criação de gado, assim como à plantação de milhares de hectares de folha de coca

A partir dos satélites também se observam as enormes áreas utilizadas para a mineração ilegal que não só gera deflorestação, mas sim contamina os rios por onde serpenteia 20% da água doce de todo o planeta. 

Gustavo Petro criticou postura de alguns progressistas, que apelam a novas formas de "negacionismo" para manter ações nocivas ao meio ambiente

EBC
Petro tem advertido que a atual crise climática é produto do consumo de petróleo, carvão e outros combustíveis fósseis

Combustíveis fósseis

Outro dos assuntos que não ficou na declaração foi o dos combustíveis fósseis, tema que inclusive provocou atritos entre os presidentes Lula e Petro, este último convertido em uma espécie de paladino internacional da substituição do petróleo e do carvão na geração de energia. 

Com vários pontos de exploração petroleira na região, o Brasil e o Equador pediram cautela nessa matéria, mostrando-se partidários de uma transição menos brusca, diante do que Petro reagiu com uma curta intervenção não isenta de ironia: “os governos de direita têm uma escapatória fácil que é o negacionismo. Negam a ciência. Para os progressistas é muito difícil, assim que apelam a outro tipo de negacionismo e falam de transições”, disse o presidente da Colômbia. 

De “o petróleo é nosso” para vosso: Petrobras perdeu soberania para servir aos EUA

Em todos os foros internacionais aos quais assistiu este ano, Petro advertiu que a atual crise climática é produto do consumo de petróleo, carvão e outros combustíveis fósseis, diante do que – insiste – a única solução é substituí-los por energias limpas como a solar e a eólica.

Outras grandes selvas tropicais

A segunda e última jornada da Cúpula Amazônica escutou os delegados de países que também contam com grandes selvas tropicais como Indonésia, Congo e República Democrática do Congo, que mostraram a disposição de seus governos de unir-se ao bloco de países amazônicos para agir conjuntamente em foros internacionais como a Conferência da ONU sobre aquecimento que terá lugar em dezembro nos Emirados Árabes Unidos. 

Continua após o banner

Sob o lema “unidos por nossos bosques”, a reunião finalizou com as intervenções de Noruega e Alemanha sobre a incorporação de países doadores para projetos de desenvolvimento sustentável.

Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

LEIA tAMBÉM

RS - inundações
Chamado à solidariedade internacionalista: inundação no RS demanda mobilização
Rio-Grande-do-Sul-emergencia-climatica
Além do RS: América do Sul teve outros 3 eventos climáticos extremos apenas em 2024
Quenia-inundações
Inundações no Quênia matam 238 pessoas; governo ignorou alertas meteorológicos
Capitalismo_meio_ambiente
Capitalismo x meio ambiente: é possível construir futuro global sem visão socioambiental?