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Toggle“Os governos vão de cúpula em cúpula, enquanto os povos vão de abismo em abismo”. Esta frase dita em seu momento por Hugo Chávez, líder da Revolução Bolivariana, cobra plena atualidade quando queremos nos referir à IX Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo das Américas, prevista para Los Angeles – California – entre 6 e 10 de junho próximo.
Desenhada como cenário de uma análise profunda dos desafios que o continente encara no nosso tempo, na verdade se orienta a perfilar a política estadunidense no contexto global e assegurar o modo de acoplar os governos da região ao carro de Washington.
No fundo, acontece que os Estados Unidos se sentem encurralados pela gravidade da crise internacional e pelos problemas que deverá enfrentar no mundo e neste continente, considerado secularmente como o “quintal” da administração estadunidense.
O evento mencionado terá lugar em uma circunstância específica, quando a estratégia guerreira da OTAN, desenhada em Washington, vê trancadas suas aspirações de expansão pela resistência resoluta de povos que, em solo ucraniano, se levantam em demanda de respeito aos seus grandes ideais nacionais.
As decisões das Repúblicas Populares de Donietz e Luganks, a luta heroica das populações do Donbass e a presença russa na cena mundial tiveram a virtude de deter os planos belicistas da Casa Branca, empenhada em envolver toda a Europa em uma espécie de “guerra de conquista” de saudade nazista, mas de típico corte imperialista.
Até hoje, nesse conflito, a América Latina – à parte de sofrer os estragos econômicos e sociais previsíveis – não tem tido um papel relevante, nem o terá, a menos que o conflito se estenda pela agressividade dos mercadores da guerra que desestimulam qualquer acordo de paz para não afetar seus interesses financeiros.
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Não obstante, Estados Unidos continuam empenhados em brincar com fogo, para o qual necessitam “fechar” o continente, colando ao seu serviço a cada um dos países da América. Essa é a essência da próxima Cúpula. Por isso, Estados Unidos não querem “dissidências”, nem obstáculos na reunião que virá.
Politico
EUA se sentem encurralados pela gravidade da crise internacional e pelos problemas que deverá enfrentar no mundo e neste continente
Outras cúpulas
Antes houve outras Cúpulas. Mar del Plata foi a estrela. Ali as vozes do Comandante Hugo Chávez, Néstor Kirchner, Evo Morales e outros, fecharam a passagem à última proposta de dominação desenhada pelo Império, o ALCA – “Acordo de Livre Comércio das Américas – que naufragou virtualmente antes de nascer.
Na realidade, a proposta do ALCA confirmou aquilo de que uma andorinha não faz verão. Estados Unidos nunca tiveram realmente uma proposta de desenvolvimento para nosso continente. Seus objetivos foram sempre três; atormentar estes países, extrair seus recursos básicos e obrigá-los a servir aos seus propósitos. Desde o tempo da Doutrina Monroe até nossos dias, esse foi o eixo central da política norte-americana na região.
No século passado, foram John Foster Dulles, Henry Kissinger e Zbigniew Brzezinski os Secretários de Estado mais importantes dos Estados Unidos. E seu vínculo com a América foi casual e quase episódico. O primeiro foi conhecido na região pela invasão à Guatemala, em 1964. Ali, preocupado pela reação que pudessem ter tido alguns governos amigos da região diante da agressividade da Casa Branca, cunhou uma frase que fez história: “Estados Unidos, não têm amigos; têm interesses”.
O segundo foi célebre pelo papel que cumpriu na batalha contra o Chile de Allende. Em suas “Memórias” admitiu que o país mapuche era “o exemplo clássico que pode confirmar que na América Latina podem ocorrer fatos da maior importância, sem que Estados Unidos sequer se deem conta”. Assim imensa, foi sua insolvência nos assuntos de nosso continente.
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E Brzezinski tampouco acertou uma. Tão preocupado esteve em seus próprios assuntos que perante o diário francês “Nouvel Observateur”, admitia sem vergonha alguma, aludindo ao Afeganistão: “Os Jihadistas não ingressaram a partir do Paquistão para libertar sua pátria do domínio soviético. O Jihadismo foi criado pelo governo dos Estados Unidos para enfrentar o comunismo”. Da América Latina, talvez tenha ouvido falar.
Ignorar América como cenário de desenvolvimento foi uma constante na política norte-americana na região. Por isso agora quer uma Cúpula com exclusões. Nessa linha, Kevin O’Reilly, coordenador do encontro, confirmou diante do Senado dos Estados Unidos, que a Venezuela e a Nicarágua não seriam convidadas, e se mostrou dubitativo no caso de Cuba. Mas a coisa não é tão simples. Os tempos mudaram. A “voz do amo” não decide; agora também falam os povos. E não se podem impor exclusões. A América é uma só e nela ou estamos todos, ou não está ninguém. Por isso México, Bolívia, Honduras e os 14 países da Comunidade Caribenha disseram: Não!
Miguel Diaz Canel, Presidente de Cuba, e Daniel Ortega, disseram também que não iriam em nenhuma circunstância. À sua maneira, e com matizes, expressaram-se assim Chile, Guatemala e Argentina. Um total de 20 nações rechaçaram o veto dos EUA. E o Peru, dirá algo?
É claro que esta é a hora dos Libertadores. Bolívar disse: “Unidade, Unidade, Unidade!”. Será essa a única forma de deter a mão do Império e abrir caminho para afirmar a vontade dos povos. O único modo de assegurar que as Cúpulas não se transformem em abismos.
Gustavo Espinoza M. é colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.
Tradução de Beatriz Cannabrava.
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