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Davi Kopenawa ganha "Nobel alternativo" e faz alerta: garimpo está matando os Yanomami

Líder denuncia atividade ilegal na terra indígena e diz temer uma volta ao passado, quando pelo menos 20% da população da etnia foi dizimada
Redação ISA - Instituto Socioambiental
ISA - Instituto Socioambiental
Manaus

Tradução:

Nesta quarta-feira (04/12), o líder Yanomami Davi Kopenawa e a organização que co-fundou e preside, a Hutukara Associação Yanomami, receberam em Estocolmo o Prêmio Right Livelihood, ou o “Nobel alternativo”, pela longa e combativa trajetória em defesa do meio ambiente e dos povos indígenas. Em seu discurso, Davi pediu ajuda à comunidade internacional para banir o garimpo de ouro na Terra Yanomami — ação que o presidente, Jair Bolsonaro, pretende legalizar. “O governo brasileiro está ameaçando nosso território”, denunciou no início de sua fala.

O reconhecimento vem em um ano de grandes retrocessos no Brasil, sobretudo nas agendas ambiental e indígena. Davi lembrou no discurso os desafios que os povos indígenas vêm enfrentando, em especial os Yanomami e Ye’kwana, com o governo. “Estamos morrendo, caindo doentes por causa da malária, tuberculose, câncer, gripe, sarampo e doenças sexualmente transmissíveis. Nós, o povo Yanomami e Ye’kwana, pedimos sua ajuda para pressionar o governo do Brasil a abolir o garimpo de ouro em nossa terra, urgentemente”, alertou.

Também foram premiadas pela Right Livelihood a defensora de direitos humanos Aminatou Haidarem, do Saara Ocidental, a advogada chinesa Guo Jianmei, que se dedica aos direitos das mulheres e a jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg, que não pode comparecer devido à COP-25, a conferência das Nações Unidas sobre o clima. Davi, que é o sétimo brasileiro a receber tal prêmio, fez um aceno especial à juventude.

Líder denuncia atividade ilegal na terra indígena e diz temer uma volta ao passado, quando pelo menos 20% da população da etnia foi dizimada

Victor Moriyama/ISA
Davi Kopenawa no Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana, que condenou o garimpo em suas terras

“Atualmente, os jovens reconhecem os erros que seus pais fizeram. Os erros cometidos por seus governos. Eles foram capazes de ver todo o desmatamento, destruição e poluição. Os jovens estão unidos para poder defender a natureza, a Mãe Terra. Queremos viver em uma floresta saudável, em harmonia com a natureza. Os jovens estão construindo novos caminhos, bons caminhos para que possamos viver bem e estar em paz com a floresta, os animais, as chuvas, para que possamos ter água limpa para beber e tomar banho, sem poluição”, pontuou Davi.

Vista aérea de garimpos ilegais na TI Yanomami, próximo à comunidade Ye’kwana, região Waikás (2018)| Rogério Assis/ISA

Conforme exaltou a organização do Right Livelihood na apresentação dos ganhadores, os passos de Davi vêm de longe. Nascido por volta de 1956 em uma comunidade no Alto Rio Toototopi, na fronteira com a Venezuela, ele testemunhou o genocídio de sua família e de parte do povo durante epidemias levadas por brancos de 1959 a 1967, época dos primeiros contatos.

Adulto, Davi trabalhou como intérprete da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), experiência que o permitiu viajar por muitas comunidades e ter contato com autoridades brasileiras e estrangeiras. Em 1983, ele encampou o início da luta pelo reconhecimento do Território Yanomami, num momento em que garimpeiros ilegais começaram a invadir a região, na chamada “corrida pelo ouro”. Mais uma vez, a violência e doenças como sarampo e gripe fizeram milhares de vítimas: cerca de 20% da população Yanomami foi dizimada entre 1986 e 1993.

Outro problema que assola os Yanomami é a contaminação por mercúrio, utilizado para separar o ouro de outros materiais. Há um ano, o ISA publicou especial multimídia com levantamento da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG) sobre o avanço da mineração na Amazônia e seus efeitos na saúde da população local. Foram registrados níveis muito elevados de contaminação por mercúrio nas comunidades Yanomami. Clique aqui.

Piloto da FAB remove Yanomami vítima da invasão garimpeira na Terra Indígena Yanomami, Roraima, em 1990 | Charles Vincent /ISA 

“Eu sou um sobrevivente do Povo Yanomami. Eu escolhi esse caminho, do direito à nossa língua, à nossa terra, à nossa cultura, e é por isso que eu luto”, lembrou Davi um dia antes da cerimônia de premiação. Em boa parte graças a esse trabalho, o Território Yanomami foi oficialmente reconhecido pelo governo brasileiro em 1992, pouco antes da primeira Cúpula da Terra das Nações Unidas. Um dos lugares mais biodiversos e preservados do planeta, a TI Yanomami possui mais de nove milhões de hectares, onde vivem cerca de 27 mil indígenas. E que agora se veem de frente com novas e velhas ameaças.

Em anos anteriores, operações da Polícia Federal e a presença constante do Exército e da Funai no Território Yanomami conseguiram controlar e reduzir a presença de invasores. Em 2018, mais de 1,5 mil garimpeiros fugiram do Rio Uraricoera por causa do Exército. No entanto, conforme alertaram os Yanomami em março, em maio, e mais recentemente no Fórum de Lideranças Indígenas Yanomami e Yek’wana, a situação piorou muito.

“Nós já fizemos muitas denúncias e estamos revoltados porque ainda existe garimpo dentro das nossas comunidades. Queremos ação. Nossos avós e tios morreram por causa dos garimpeiros. Nós não queremos repetir essa história de massacre”, diz a carta.

Em Estocolmo, assim como nas paradas anteriores, em Genebra e Oslo, Davi aproveitou as numerosas oportunidades de entrevistas e discursos para reverberar as principais mensagens dos povos Yanomami e Yek’wana. Em sua fala, o legado de resistência e a disposição para seguir lutando pelo futuro comum: “precisamos salvar o pulmão da floresta, a alma do planeta. Precisamos andar juntos na defesa da floresta, na defesa da Amazônia. O povo da cidade não está preocupado, só se preocupa com dinheiro. Quando o índio fala, eles não entendem. Nós tentamos explicar, mas eles escutam muito pouco”.

Portanto, escutemos Davi: clique aqui.

Linha do tempo: O Garimpo na TI Yanomami

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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