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Foto: Tim Walz / Facebook

Defensor da migração, do aborto e de Cuba: quão progressista é Tim Walz, vice de Kamala?

Campanha de Trump e Vance qualificou Tim Walz como um “radical de esquerda”, enquanto legisladores progressistas e sindicalistas elogiaram a escolha de Kamala
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Washington, DC

Tradução:

Beatriz Cannabrava

A candidata presidencial democrata Kamala Harris selecionou o governador de Minnesota, Tim Walz, como seu candidato à vice-presidência, em um movimento visto como parte do esforço para consolidar o apoio aos democratas entre os eleitores do meio-oeste do país, incluindo populações rurais, que serão cruciais para determinar a contenda nacional em novembro.

Ao optar por Walz, Harris rejeitou os conselhos de vários especialistas políticos em Washington, que preferiam o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, um bom orador, mas um sionista fervoroso, ou um senador do Arizona, que poderia se concentrar na questão migratória. Legisladores progressistas e líderes de vários dos principais sindicatos do país elogiaram a decisão.

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Harris, em uma mensagem no Instagram anunciando sua decisão, destacou que o governador cresceu em uma pequena cidade de 400 pessoas em Nebraska, sua família dependeu de programas de bem-estar social após a morte de seu pai e que ele se alistou na Guarda Nacional aos 17 anos. Mais tarde, Walz se dedicou a ser professor de uma escola pública, foi treinador do time de futebol americano e conselheiro do primeiro grupo estudantil gay e heterossexual. Depois, foi eleito quatro vezes como deputado federal em um distrito que também foi ganho por Donald Trump em 2016, e hoje exerce seu segundo mandato como governador.

“Ele brilha uma luz sobre o futuro promissor que podemos construir juntos”, declarou Harris nesta terça-feira (6) ao anunciar sua escolha. “E com sua experiência, estaremos prontos desde o primeiro dia”, acrescentou ao tentar contrastá-lo com o candidato à vice-presidência de seu opositor, Donald Trump.

Currículo de Walz

Harris disse que o selecionou tanto por seu desempenho efetivo para lograr a aprovação de medidas como a codificação em lei do direito ao aborto, créditos fiscais para famílias e o direito a dias pagos para funcionários com obrigações familiares, entre outras, como também por seu estilo de retórica política.

Sua biografia oficial também ressalta que ele é um caçador que foi aprovado pela Associação Nacional do Rifle até que, como governador, denunciou o acesso legal a armas automáticas após o massacre em uma escola secundária em Parkland, Flórida, em 2017.

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Mas sua maneira de caracterizar o candidato republicano Donald Trump como “weird” (esquisito) elevou seu perfil político neste ciclo eleitoral. Em entrevistas, Walz disse sobre Trump: “escutem esse cara. Fala de Hannibal Lecter, sobre dar choques elétricos em tubarões e quase qualquer loucura que lhe vem à mente. Nós lhe damos muito crédito… Alguém já o viu rir? Tudo isso me parece muito estranho”.

O governador compartilha a mensagem democrata de que Trump e seu segundo na chapa, J.D. Vance, são uma ameaça ao futuro do país, mas insiste que seu partido precisa fazer mais do que apenas repetir isso. “Se não oferecermos algo alternativo e que realmente funcione para as pessoas, [a mensagem dos republicanos] é muito mais fácil de expressar”, usando a mensagem anti-imigrante de seus adversários, explicou em entrevista ao jornalista Ezra Klein.

Questão das fronteiras

Walz, como quase todos os políticos de ambos os partidos hoje em dia, expressou que se requer melhorar o controle da fronteira sul, mas ridiculariza o que os republicanos oferecem. Trump “fala sobre este muro, e eu sempre digo, deixem-me saber qual será a altura. Se forem 25 pés, então eu investirei na fábrica de escadas de 30 pés de altura”, disse ele em uma entrevista recente à CNN.

Walz endossa as propostas do presidente Joe Biden e Harris para o controle fronteiriço, mas ao mesmo tempo se atreveu a apontar que os Estados Unidos precisam de imigrantes, “especialmente em um estado como Minnesota, onde estamos envelhecendo. O mesmo está acontecendo no Japão… na Finlândia… na Coreia do Sul. Teremos que pensar no que isso implica”, assinalou em sua entrevista com Klein.

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Mas o agora candidato à vice-presidência terá como tarefa principal ressaltar os fracassos e falhas de Trump e Vance. Em relação à migração, comentou, “com Vance, o que ele oferece? Expulsar todos [os imigrantes], então eles vão deportar a todos”, indicando que isso não é viável. Afirmou que uma solução real é abordar as razões – seja mudança climática ou instabilidade política, entre outras – pelas quais as pessoas estão abandonando seus países para vir aos Estados Unidos, e reconhecer que o sistema migratório está quebrado, em vez de demonizar os migrantes.

Essas posições pró-imigrantes não são novas. Como governador, Walz promulgou leis que agora concedem carteiras de motorista a todos os residentes de seu estado, independentemente de sua condição migratória, e apoiou a declaração de seu estado como “santuário”.

Limitações

Sua experiência em política internacional é limitada. Advogou pelo envio de armas à Ucrânia. Viveu um ano na China como professor, onde aprendeu mandarim. Como legislador, apoiou uma resolução do Congresso condenando o golpe de Estado em Honduras. Se opôs às novas medidas impostas pelo então presidente Trump contra Cuba, afirmando, pelo Twitter, que “limitar as relações com Cuba prejudica os interesses dos agricultores e pecuaristas de Minnesota”.

A campanha de Trump e Vance imediatamente qualificou Walz como um “radical de esquerda” que “abrirá nossas fronteiras aos piores criminosos” e como um “liberal ao estilo de São Francisco”.

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Mas esse rótulo não será tão fácil de aplicar, e não só porque Walz visitou São Francisco apenas uma vez, enquanto seu adversário Vance viveu lá por quatro anos trabalhando como especulador financeiro, mas porque seu desempenho político não se presta a essas caracterizações. “Seu histórico no Congresso foi muito menos progressista do que a narrativa pública indica. Ele votou com os republicanos frequentemente… e foi um dos poucos democratas que votou a favor de declarar Eric Holder [o procurador-geral de Barack Obama] em desacato ao Congresso no escândalo [conhecido como] Rápido e Furioso”, assinala o repórter Jake Sherman do Punchbowl News no X.

Mas Walz tampouco teme o rótulo de “progressista”. “Nunca fujam de nossos valores progressistas”, declarou em uma chamada em massa pelo Zoom organizada por “White Dudes for Kamala”, concluindo que “o socialismo para uma pessoa é a boa vizinhança para outra”.

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Walz também não foge de seu amor pelo rock & roll. Quando Bruce Springsteen ofereceu um show em Minnesota em março do ano passado, o governador declarou: “ao dar as boas-vindas ao Chefe em Minnesota e milhares se prepararem para testemunhar uma lenda viva em ação, me orgulha proclamar que hoje é o Dia de Bruce Springsteen em Minnesota”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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