A deterioração da OEA de Luis Almagro é maior do que pensava o presidente estadunidense, Joe Biden, que insiste em incrementar suas ações anticubanas dentro e fora desse organismo regional, do qual Havana foi expulsa em 1962.
Assim afirmaram diplomatas, depois da nomeação na véspera do cubano-americano de Miami Francisco Mora, ex subsecretário de Defesa para o Hemisfério Ocidental, como novo embaixador estadunidense na OEA, em substituição ao também cubano-americano de Miami Carlos Trujillo, que serviu na administração de Donald Trump.
Mora, como Trujillo, figura entre os democratas que exigem endurecer as tentativas de desestabilização do governo cubano e que se opõem, também, a qualquer flexibilização do bloqueio econômico, comercial e financeiro que Washington aplica a Cuba há mais de seis décadas.
Embora o secretário-geral Luis Almagro — eleito e reeleito sem concorrentes — tenha se esforçado por submeter a OEA cada vez mais à política regional da Casa Branca, como durante o golpe de Estado de 2019 na Bolívia, não pôde obter consensos contra a Revolução Cubana.
Nesta semana, a maioria dos países-membros desmascarou as manobras da cúpula dessa organização, que buscava um pronunciamento condenatório de Cuba o que resultou em um maior isolamento dos Estados Unidos nesta e em outras regiões do mundo.
Quase todos os membros da OEA, inclusive os 13 países integrantes da Comunidade Caribenha (Caricom), repudiaram as tentativas de ofender a ilha antilhana, o que o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, descreveu como uma nova derrota do organismo regional.
Esses Estados também reiteraram em carta dirigida a Biden sua demanda de levantar o bloqueio estadunidense contra Cuba — condenado, ano após ano, quase por unanimidade, nas Nações Unidas — lembrando as relações sólidas e mutuamente benéficas entre Havana e o resto do Caribe durante os últimos 49 anos.
O Caricom, afirma a missiva, considera Cuba e seu povo como membro valioso e respeitado de nossa família de nações caribenhas.
Guillermo Nova
A crise da OEA de Almagro ocorreu precisamente na mesma data em que, há 59 anos, Cuba fora expulsa do organismo — fundado em 1948 com raízes na Doutrina Monroe — ao qual nunca retornou, apesar de pedidos em 2009 para que voltasse a seu seio.
Analistas latino-americanos consideram aquele fato uma anomalia, já que essa medida nunca foi aplicada a outro Estado-membro na história da OEA e, de fato, marca uma política de duplo padrão.
Em 1962, o México foi o único país que se opôs à expulsão de Cuba e nunca rompeu relações diplomáticas com a ilha.
Não foi casual, então, que o atual presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, falasse na semana passada aos chanceleres da América Latina e do Caribe da urgência de substituir a OEA por “um organismo autônomo, não lacaio de ninguém”.
Propôs, nesse sentido, construir algo semelhante à União Europeia, mas “apegado à história, a nossa realidade e a nossas identidades”.
Já é inaceitável a política dos últimos dois séculos, disse, caracterizada por invasões para pôr ou tirar governantes segundo os interesses da superpotência. Digamos adeus às imposições, às ingerências, às sanções, às exclusões e aos bloqueios, enfatizou.
O atual panorama regional — renovado com próximas eleições em vários países — poderá facilitar esforços integracionistas impulsionados pela Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA-TCP), a União de Nações Sul-americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
A Celac, que abrange mais de 650 milhões de habitantes e enormes recursos naturais em 33 países, sem incluir os Estados Unidos nem o Canadá, será presidida a partir do próximo ano pela Argentina.
* Tradução de Ana Corbisier
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