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Dina faz papelão nos EUA enquanto Peru segue de mal a pior

Todos sabem que o “Plano Boluarte”, é apenas uma paródia, uma pantomima destinada a justificar sua permanência
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

Quando em um país se registra progresso, os problemas se encaram e se resolvem e as pessoas recebem atenção às suas demandas básicas, se pode dizer que tudo marcha cada dia melhor. Em contrapartida, sob o regime de Dina Boluarte, à imensa maioria dos peruanos dizemos com verdade que aqui se vai “cada dia pior”.  

Ainda não se digere o papelão que fizera a fugaz inquilina do Palácio de Governo em sua recente viagem aos Estados Unidos. Virtualmente, todos admitem que ela mentiu descaradamente ao Congresso e ao país ao assegurar que tinha uma reunião agendada com o Presidente norte-americano. Depois, falou de uma “reunião privada” e mostrou suas fotos caminhando de mãos dadas pela escada da Casa Branca ao lado do mandatário EUA. 

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Talvez não soubesse que a última “reunião privada” que aconteceu na Salão Oval desse residência ocorreu há alguns anos, quando Mónica Lewinsky esteve ali com Bill Clinton dedicada a atividades Non Santas. A partir de então todos os encontros que se celebram ali são públicos e são transmitidos por rádio e televisão, além de se celebrarem com a presença de jornalistas e câmeras que registram tudo. 

No mesmo dia, por exemplo, Joe Biden recebeu por quase duas horas o Presidente do Chile, o Chefe de Estados da República Dominicana e o Mandatário Colombiano; e todos pudemos apreciar o que se abordou neste encontro. Falou-se de tudo um pouco: migrações, meio ambiente, terrorismo, mudança climática, Oriente Médio, Ucrânia e América Latina. 

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Não obstante, Dina continua assegurando que “conversou” sobre diversos assuntos com o mandatário dos EUA. E hoje se dispõe a voltar ao país do Norte contando com o genuflexo “aval” do Congresso. Ninguém sabe se o que a dona quer é uma nova “reunião privada” ou outra “conversação” sobre temas gerais. Em todo caso, o novo Chanceler haverá de empreender a tarefa. 

O titular da Pasta não é trigo limpo. No Twitter, um post que fez e teve que apagar precipitadamente lhe serviu para atacar a Indira Huilca, somando-se à campanha da Máfia que lideram Willax e Peru 21.

Todos sabem que o “Plano Boluarte”, é apenas uma paródia, uma pantomima destinada a justificar sua permanência

Pleno News
Salvo sequestros, extorsões, assassinatos, violações e assaltos, o país vive de maravilha e na mais absoluta paz e calma




O novo chanceler

Javier G-O – o novo titular da Torre Tagle – tem numerosas mensagens que não poderá apagar. Neles, não ataca só Indira e sua família. Também Dina, Otárola e o governo atual; desconhece os resultados eleitorais de 2021 e assegura que houve fraude; ataca Pedro Castillo e toda sua gestão. Se alguém lhe perguntasse em quem votou nas eleições daquele ano, confessaria, sem rubor, que por Keiko. Dessa pedreira provém. 

Mas as coisas não andam mal – para o regime – só na Chancelaria. Também em matéria de política interna. Já todos sabem que o “Plano Boluarte”, é apenas uma paródia, uma pantomima destinada a justificar sua permanência. E a “segurança interna”, uma ficção. 

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Impugnado por todos o titular de Corpac, o flamante congressista Rospigliosi busca projetar-se para o cargo. Ninguém esquecerá, no entanto, que já desempenhou essa função nos anos de Toledo, e que foi censurado pela Câmara depois de uma brutal repressão contra o povo de Arequipa, que deixará uma dolorosa sequela de dois mortos e vários feridos.


Policiais ou delinquentes?

Além do mais, ninguém sabe se os delitos foram cometidos por delinquentes disfarçados de policiais, ou policiais disfarçados de delinquentes. Mas é igual. Como bem dizem os engenhosos do bairro, salvo sequestros, extorsões, assassinatos, violações e assaltos, o país vive de maravilha e na mais absoluta paz e calma.

Aqui ninguém protesta nem canta a cançãozinha da resistência: “Dina assassina/ o povo te repudia…” e que se escutara há pouco nas ruas de Nova York e ainda antes em Berlim e em Stutgart, essa pequena cidade alemã na qual seu Prefeito concedeu por cortesia uma audiência à Presidenta do Peru para beneplácito da Máfia destes lares. 

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Entretanto, os congressistas já não sabem o que fazer. Por ora, a Grande Imprensa pôs na bandeja da reciclagem as acusações de toda índole que assomaram em seu momento contra o Presidente do Poder Legislativo. Pareceria que se banhou em água da Rússia e que os cargos esboçados se esfumaram, talvez por mandato dos Deus do Olimpo. O real é que hoje ninguém fala deles. 

Em troca, os congressistas têm – eles sim – que passar pela Comissão de Ética, que, fazendo jus ao seu pomposo nome, blinda a todos. Mas, além disso, insistem no seu: cortar o pescoço dos juízes supremos, como fizera Fujimori com os do TC que discreparam de sua “interpretação autêntica” que justificara a tentativa de uma nova reeleição. 

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Mas as coisas não podem ir sempre mal. Depois da abominável sentença judicial que absolvera o grupo Colina e seus mentores pelo assassinato do então Secretário-Geral da CGTP, cresceu a figura de Indira Huilca, que assoma hoje como o principal alvo da ira das Máfias.

Se a atacam tanto, é porque tem luz própria e porque vale: mas, além disso, porque a temem. Foi já figura política no passado, e poderia sê-lo no futuro. Sem manchas, com a mirada clara e perfil definido, bem poderia concentrar em torno dela distintos segmentos do movimento popular, e perfilar-se como alternativa de unidade. Seria uma carta de peso. 

Talvez isso poderia reverter o cenário e permitir aos peruanos se sentirem “cada dia melhor”.

Gustavo Espinoza M. | Colunista na Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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