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#EleNão: Mais de um milhão de mulheres marcharam contra Bolsonaro em todo o Brasil

Manifestações deste sábado (29/9) foram convocadas pelo movimento de mulheres que nasceu nas redes sociais contra o presidenciável
Victor Farinelli
Carta Maior

Tradução:

Foram entre dezenas e centenas de milhares de pessoas em cada uma das mais de 60 cidades mobilizadas, em quase todos os estados de Brasil. Juntando todos os atos, é possível dizer que o evento como um todo reuniu mais de um milhão de pessoas no país, a grande maioria mulheres, que marcaram presença nas ruas contra o candidato presidencial que representa o ódio na política, o machismo, o racismo e a homofobia.

As massivas manifestações deste sábado (29/9) foram convocadas pelo movimento de mulheres que nasceu nas redes sociais contra o presidenciável ultradireitista Jair Bolsonaro, um deputado e ex-militar de 63 anos conhecido por suas declarações e atitudes a favor da ditadura militar brasileira (1964-1985) e de discriminação contra mulheres, e contra as populações negra e LGBT.

Impulsadas pelo lema de “Ele Não”, milhões de brasileiras começaram a mostrar o seu repúdio à candidatura de Bolsonaro nas redes sociais durante as últimas semanas, até que surgiu a ideia de realizar, neste sábado, uma série de atos simultâneos em diferentes cidades, para expressar nas ruas a adesão ao movimento.

Manifestações deste sábado (29/9) foram convocadas pelo movimento de mulheres que nasceu nas redes sociais contra o presidenciável

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Em São Paulo, coração da economia brasileira e a urbe mais populosa do país, calcula-se que havia cerca de 500 mil pessoas reunidas no Largo da Batata, no centro da cidade. O Rio de Janeiro (base eleitoral de Bolsonaro) também contou com um multitudinário evento, que se concentrou no bairro da Cinelândia, e contou com cerca de 300 mil aderentes. Outras importantes capitais brasileiras, como Salvador, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre, também tiveram eventos gigantescos, próximos ou acima de 100 mil presentes.

“Não tenho idade para votar, mas estou aqui porque isto é mais que uma questão de votos. Tem a ver com algo muito mais profundo: uma pessoa tão racista, tão preconceituosa não pode chegar ao poder”, disse a estudantes Ana Clara Pontes, de 16 anos, que esteve na manifestação do Rio de Janeiro.

As marchas foram compostas majoritariamente por mulheres, e com muita presença juvenil. Yara Pereira, de 19 anos, justificou sua presença: “estou aqui pelas minorias, pelos negros, pela gente da favela. Se ele ganhar, tudo vai piorar muito”.

Em Salvador da Bahia, outra das capitais mais importantes do país, a conhecida cantora Daniela Mercury se apresentou especialmente durante as manifestações. Em outros centros urbanos, como Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Manaus, houve marchas que contaram com a presença de artistas locais.

Entre as canções que mais se escutaram nas mobilizações, uma clamava: “Ele não vai decidir a eleição”, enquanto outra se referia às mulheres que foram às ruas para lutar, ao som de uma paródia da popular canção antifascista Bella Ciao – recentemente recuperada a partir de sua utilização na série televisiva espanhola La Casa de Papel. A versão feminista brasileira diz que “uma manhã eu acordei e ecoava: ele não, ele não, não, não… uma manhã eu acordei e lutei contra o opressor…”.

Em Brasília, capital do país, os protestos contra Bolsonaro se mesclaram com um ato do Partido dos Trabalhadores (PT), onde estava presente o candidato Fernando Haddad.

Em seu discurso, Haddad (segundo colocado nas pesquisas) mandou um recado à direita, dizendo que “é melhor já ir se acostumando” com o seu nome entre os primeiros, e como uma ameaça ao até agora favorito – a expressão foi uma ironia com um trocadilho muito usado pelos seguidores de Bolsonaro, a partir do seu primeiro nome (Jair), para se referir a uma possível vitória do seu candidato.

Também houve atos contra Bolsonaro em outros países, como Alemanha, França, Argentina, Espanha, Chile, Portugal e Estados Unidos. Desde que foi lançado nas redes sociais, no começo deste mês, o lema “Ele Não”, cresceu de forma massiva, e recebeu o apoio também de muitas mulheres famosas no Brasil, e até mesmo de personalidades mundiais, como as cantoras Madonna e Cher.

Ao longo de sua carreira política, o deputado Bolsonaro se envolveu em várias polêmicas nas que expôs opiniões e gestos machistas. Por exemplo, em um programa de entrevistas, ele justificou o fato de as mulheres receberem um salário menor ao dos homens por um mesmo trabalho – com um argumento que defende o ponto de vista dos empregadores, de que a possibilidade de engravidar faz com que elas tenham mais encargos trabalhistas para quem contrata. Em diversas ocasiões, ele também se manifestou contra a diversidade sexual.

Em 2014, em uma das suas agressões mais desafortunadas, chegou a empurrar uma colega de parlamento, a deputada Maria do Rosário (PT), e disse que “não vou estuprar você porque você não merece”. Em 2002, afirmou que “se eu vejo dois homens se beijando na rua, eu vou lá bater”.

Além das manifestações contrárias, também houve marchas a favor de Bolsonaro. Porém, elas aconteceram em menos cidades (27, segundo a imprensa local), e mostrando uma evidente menor quantidade de apoiadores, em comparação com as de rejeição o candidato ultradireitista.

Contudo, Bolsonaro continua liderando as pesquisas de intenção de voto no país. A última medição, do instituto Datafolha, divulgada um dia antes das manifestações (28/9), mostrou o ex-militar com 28% das preferências, contra 22% de Haddad, que aparece em segundo lugar, e mais de 15 pontos percentuais acima dos demais.

Portanto, a menos que os atos deste sábado provoquem uma nova tendência no eleitorado, Bolsonaro continua sendo o favorito para vencer ao menos o primeiro turno das eleições brasileiras, marcadas para o próximo domingo (7/10).

Indícios para acreditar em uma mudança de panorama existem, mas é mais provável que se transformem em fato concreto na próxima fase do pleito. Embora seja o líder das preferências agora, o representante do Partido Social Liberal (PSL) também é o campeão em rejeição – com 46% no total e 52% somente entre o público feminino. Esta situação o coloca numa posição de desvantagem contra qualquer outro político que venha a enfrentá-lo no provável segundo turno, que acontecerá no dia 28 de outubro.

*Com informações do diário La Jornada e da agência Deutsche Welle


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Victor Farinelli

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