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Donald Trump anuncia mais ataques para parar e deportar famílias imigrantes nos EUA

O regime de Donald Trump marcou o início de uma série de ataques maciços contra milhares de famílias imigrantes
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O regime de Donald Trump programou o início de uma série de batidas em massa em busca de milhares de famílias imigrantes em uma dezena de cidades para este próximo domingo, gerando – como parece ser o objetivo – temor e pânico nas comunidades imigrantes ao longo do país. 

O mesmo tempo, continua a torrente de denúncias pelas condições infra-humanas nos centros de detenção de imigrantes, onde morreram pelo menos seis menores de idade desde dezembro, bem como a crueldade das políticas de separação de famílias pelas autoridades, algo que se levarem a cabo as batidas anunciadas, piorará ainda mais, alertam defensores de direitos civis e humanos. 

Funcionários do Departamento de Segurança Interna informaram, de maneira anônima, a alguns médios nacionais que as batidas estão programadas para serem iniciadas no próximo domingo e continuarão por vários dias em pelo menos 10 cidades importantes com o objetivo de capturar pelo menos 2 mil imigrantes que receberam ordem de deportação. Também advertiram que neste operativo, realizado pela agência de migração conhecida como ICE, poderiam ser realizadas prisões “colaterais” de outros indocumentados que sejam “interceptados” durante as operações. 

Parece que ainda não foram finalizados os detalhes da operação e surgiram algumas tensões entre as agências encarregadas do controle de imigração; alguns oficiais expressaram preocupação e relutância pela possível detenção e separação de famílias, incluindo crianças e até bebês, informou o New York Times.  

A operação foi programada primeiro para o mês passado e foi anunciada de surpresa, inclusive para oficiais de migração, pelo presidente Trump via Twitter. Mas pouco antes de ser realizada, o presidente anunciou que seria postergada enquanto se negociava com o Congresso o financiamento de um pacote de segurança fronteiriça. 

Na sexta-feira passada, Trump indicou que as batidas seriam realizadas proximamente, e no domingo o chefe interino da agência de Serviços de Cidadania e Imigração (USCIS) Ken Cuccinelli disse à CBS News que as autoridades se preparavam para “encontrar e deter e depois deportar a [alguns] dos aproximadamente um milhão de imigrantes que têm ordem final de remoção”. 

Desde então, organizações de defesa de imigrantes e de direitos civis haviam intensificado suas atividades de informação às comunidades ameaçadas sobre seus direitos, incluindo o de não permitir a entrada de agentes migratórias em suas casas sem ordem judicial. 

Hoje a União Americana de Liberdades Civis (ACLU) e organizações aliadas apresentaram uma demanda legal preventiva para tentar frear o operativo, argumentando que às famílias sob suspeita deveria ser permitido o recurso aos tribunais para abordar seus processos que, em muitos casos, estão cheios de erros administrativos. Outras organizações estão considerando ações legais para frear ou pelo menos retardar as deportações. 

Um dia depois de testemunhos de vítimas das políticas migratórias de Trump e de defensores de direitos humanos na Câmara baixa, líderes democratas do Senado apresentaram um projeto legislativo denominado Lei para Frear a Crueldade com Crianças Migrantes, que busca estabelecer normas para o tratamento de menores de idade e famílias em centros de detenção. 

O regime de Donald Trump marcou o início de uma série de ataques maciços contra milhares de famílias imigrantes

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O regime de Donald Trump programou o início de uma série de batidas em massa em busca de milhares de famílias imigrantes

A figura que mais comoveu os legisladores na quarta-feira foi Yazmín Juárez, solicitante de asilo proveniente da Guatemala, que contou a um comitê a forma como chegou a este país com sua filha Mariee por “temor a nossas vidas”, mas que acabou “vendo como morreu lenta e dolorosamente minha menina bebê antes de seu segundo aniversário”,  depois que a menor ficou doente durante três semanas de detenção. Declarou que se apresentou à audiência para evitar que isso aconteça a outros como ela, afirmando que a morte de sua filha é “como se me arrancassem parte do meu coração, como se me arrancassem a alma”.

Na mesma audiência, Michael Breen de Human Rights First contou como uma mãe refugiada informou que depois de três dias detido nos Estados Unidos seu filho de 5 anos de idade estava demasiado fraco para ficar em pé, e que rogou aos oficiais que o ajudassem. “Meu filho está morrendo”, rogou a um oficial que lhe respondeu: “Já morreu? Então cale a boca e deixe de chorar”. 

Por outro lado, legisladores democratas do Comité Judicial da Câmara baixa aprovaram hoje emitir citações a altos funcionários envolvidos na implementação das políticas de separação e detenção de famílias para que expliquem o que fizeram, e também investigar possíveis ofertas de perdões presidenciais aos funcionários que implementaram as ordens do presidente, apesar de implicarem violações da lei. 

Diante da crescente onda de críticas pelas condições infra-humanas que sofrem as famílias nessas instalações, Trump escreveu em um tuíte na semana passada; “Se imigrantes ilegais não estão contentes com as condições nos centros de detenção construídos rapidamente ou modificados, simplesmente digam a eles que não venham. Tudo resolvido!”

ICE acaba de abrir três novos centros de detenção e continua buscando novas instalações para ampliar sua capacidade, a fim de continuar gerando negócios para os operadores privados de muitos destes centros, reportaram Mother Jones e outros meios.

Múltiplas investigações jornalísticas e visitas de legisladores e defensores de direitos humanos aos centros de detenção de migrantes nos Estados Unidos durante as últimas semanas detonaram denúncias dentro e fora deste país – inclusive por Michelle Bachelet, Comissária de Direitos Humanos da ONU – pelos maus tratos e até violação de direitos humanos de famílias, e sobretudo de menores de idade, com alguns condenando a existência do que chamam “campos de concentração” nos Estados Unidos. 

 

[para atualizações e informação relacionada: https://www.jornada.com.mx/sinfronteras].

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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