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Meu filho foi morto pelo racismo, diz pai de Beto Freitas, assassinado no Carrefour

A cada 23 minutos, um negro é assassinado no Brasil. Foi o caso de João Alberto Silveira de Freitas, o Beto
Redação: CUTRS
Rio Grande do Sul

Tradução:

A cada 23 minutos, um negro é assassinado no Brasil. Foi o caso de João Alberto Silveira de Freitas, o Beto, um homem preto de 40 anos, que foi espancado, asfixiado e morto por dois seguranças brancos no estacionamento do Carrefour, na noite da última quinta-feira (19), véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre.

“Meu filho só foi morto do jeito que foi por causa do preconceito. O Beto podia ter sido apenas espancado que, ainda assim, seria um crime de ódio”, afirmou o aposentado João Batista Rodrigues de Freitas, de 65 anos, pai do Beto, ao conceder na tarde desta terça-feira (24) uma entrevista exclusiva ao portal da CUT-RS em sua residência no bairro Humaitá, na zona norte da capital gaúcha.

 “Manifestações trazem conforto para minha família”

De luto pela morte do filho, ele vestia uma camiseta preta com a frase “Vidas Negras Importam”, lançada pelo movimento deflagrado nos Estados Unidos e que se espalhou pelo mundo após a morte do negro George Floyd em circunstâncias muito parecidas. 

A cada 23 minutos, um negro é assassinado no Brasil. Foi o caso de João Alberto Silveira de Freitas, o Beto

Reprodução: Marcus Perez / CUT-RS
João Batista é pai João Alberto Silveira de Freitas homem negro assasinado no estacionamento do Carrefour

João Batista acompanha as centenas de demonstrações de solidariedade que chegam de todos os cantos do país, seja na forma de ligações telefônicas, como a recebida no dia da entrevista do senador Paulo Paim (PT-RS), seja por meio de protestos do movimento negro e de movimentos sociais nas ruas de várias cidades brasileiras. “As manifestações trazem conforto para a minha família”, frisou.

“Racismo está enraizado e deve ser banido a partir dos bancos escolares”

“O racismo é um sentimento horrível que está enraizado no nosso país e deveria ser banido da sociedade. Já falei que isso deveria partir dos bancos escolares. O preconceito precisa ser debatido no dia a dia nas escolas e nas ruas”, apontou o pai do Beto, que já foi caminhoneiro e motoboy.

Para ele, “o preconceito age silenciosamente”. Ele avaliou que “a humanidade vem perdendo os princípios” e salientou que “onde falta o amor se abre uma lacuna para entrar todo tipo de violência”.  

Mourão quer tapar o sol com a peneira

João Batista criticou a fala do vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Um dia após o ato criminoso, filmado e amplamente divulgado nas mídias sociais, o general disse que “não existe racismo no Brasil”.

Mourão, segundo ele, “está fazendo vistas grossas para um problema que é muito grave. Ele está tapando o sol com a peneira, o que colabora para agravar a situação. Ele deveria admitir em vez de se esconder com medo de assumir a verdade. Deu um tiro na ponta do sapato”.

“Todos merecem ser tratados com igualdade”

Para o pai do Beto, “todos merecem ser tratados com igualdade porque o valor que alguém paga é o mesmo preço que o outro pagará na hora de passar no caixa. Os próprios seguranças desses supermercados já são vítimas do racismo, pois quase todos são pretos e o branco normalmente é o chefe. Se um homem branco atacar um cliente preto, logo viria à tona o racismo”, observou.

Ele disse ainda que muita coisa já mudou. “Quando eu era moço, tinha o baile de preto e o baile de branco e quem dançava em um não podia dançar em outro”, recordou.

“Quero que o meu filho seja um exemplo para analisar se vale a pena a morte de um rapaz que tinha quatro filhos por causa da diferença de cor”, destacou João Batista. “Acredito na juventude porque o que já mudou é por causa dela, pois tem a capacidade de mudar para que um dia o Brasil seja um país desenvolvido”, concluiu.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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