Na manhã desta sexta-feira (7), representantes de diversas entidades participaram de ato em frente ao Consulado do Reino Unido, na região de Pinheiros, em São Paulo, para exigir liberdade ao jornalista Julian Assange. A ação é parte de uma agenda internacional com manifestações ao redor do globo para denunciar a prisão política do fundador do Wikileaks, que corre sério risco de ser extraditado, por parte da Inglaterra, aos Estados Unidos.
As revelações feitas pelo trabalho de Assange à frente do Wikileaks desnudaram segredos sensíveis do país norte-americano – por isso, os EUA não apenas querem punir Assange, mas criminalizar e passar um recado a todo jornalista que, por meio de seu trabalho, venha a comprometer os interesses do imperialismo norte-americano. “O suposto crime cometido por Assange é o de ser um bom jornalista investigativo que revelou a verdade sobre o governo imperialista e a máquina de guerra dos EUA”, argumenta Giovani del Prete.
Membro do Movimento Brasil Popular e representante da Assembleia Internacional dos Povos (AIP), Del Prete recordou episódios como o grampo nas comunicações de Dilma Rousseff e o roubo de informações sobre o pré-sal brasileiro para exemplificar a gravidade dos vazamentos. Além do caso brasileiro, também foram vazados fotos, vídeos e documentos que comprovam crimes de guerra cometidos pelos EUA.
“A família de Assange está convocando um ato para o dia 8 de outubro no qual cinco mil pessoas devem 'abraçar' o Parlamento britânico exigindo liberdade para o jornalista. Nos somamos para expressar apoio à iniciativa”, explica. No sábado (8), uma corrente humana envolverá as Casas do Parlamento em Londres, na Inglaterra, para rechaçar a extradição de Assange e pressionar o governo de Joe Biden a retirar todas as acusações contra ele.
“Os EUA e a Inglaterra se dizem democráticos, mas enquanto os EUA perseguem Assange, a Inglaterra, por meio de seu Consulado, dificulta que entreguemos uma carta, assinada por mais de 70 entidades, exigindo liberdade para o jornalista”, salienta Vilma Amaro, dirigente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de S. Paulo. “Queremos a liberdade de Assange, que está com sua saúde debilitada, pois as agressões contra ele são, também, agressões contra o jornalismo e a liberdade de expressão”.
Decisão de enviar Assange para morte nos EUA é vergonhoso para justiça britânica
O documento ao qual ela se refere pode ser consultado ao fim da página. A proposta da atividade incluía protocolar a entrega da carta com a íntegra do texto, mas a recepção do Consulado dificultou a missão, exigindo o cumprimento de burocracias inéditas e fechando o portão com cadeado para que os manifestantes não entrassem no prédio. “Os portões estão fechados para nós, o que demonstra a boa vontade deste governo inglês, que se diz democrático. Assange está condenado por um suposto crime de terrorismo: o de revelar a verdade”, opina Norian Segatto, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). “Assange é jornalista, não terrorista. Estamos aqui para prestar solidariedade e exigir liberdade para ele”.
As notícias que se têm sobre o estado de saúde física e mental de Assange são alarmantes. “A extradição de Assange para os EUA é praticamente uma sentença de morte”, assevera Leda Beck, da Associação Profissão Jornalista (APJor). “Quando um jornalista é punido dessa forma arbtirária e violenta”, complementa, “todos e todas nós somos punidos”.
Felipe Bianchi, jornalista do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, prestar solidariedade neste episódio é um dever de quem tem compromisso com o direito à informação e à liberdade de expressão: “Por revelar segredos sensíveis do império norte-americano, Assange está pagando com a sua vida para servir de exemplo a quem mexe com os interesses estratégicos dos EUA. A Inglaterra se somou à farsa, punindo não apenas Assange, mas todo jornalista comprometidos com o direito à informação e à comunicação”.
ParaNa ação ocorrida na capital paulista, Pedro Pomar destaca que os EUA almejam uma punição “cruel” e “inaceitável”. “Assange é um lutador pela democracia e pela liberdade. Não merece cárcere em Londres e muito menos a deportação para os EUA”, diz. “É uma punição para todos nós, jornalistas e defensores da democracia e da liberdade de expressão”.
Felipe Bianchi
"A extradição de Assange para os EUA é praticamente uma sentença de morte", assevera Leda Beck, da Associação Profissão Jornalista (APJor)
Trabalhador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Márcio Garoni aproveitou a oportunidade para traçar um paralelo sobre a criminalização do jornalismo no caso de Assange e o que vem acontecendo no Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro: “Jornalistas e movimento social têm de amplificar a denúncia do que está acontecendo com Assange. Cenário é de criminalização do exercício do jornalismo, como na EBC, onde trabalho”.
Luta em prol de Assange é por nossa própria liberdade de pensamento e expressão
Criada em 2006, a iniciativa é uma das grandes conquistas da luta pela democratização da comunicação no Brasil, promovendo de forma inédita o campo da Comunicação Pública. Durante o governo de Bolsonaro, a TV Brasil, um dos canais da EBC, tem sido cada vez mais aparelhada pela presidência, descaracterizando seu caráter público. “O cenário que vivemos é de ameaças de demissão, transferência de função e represálias para quem quer exercer o bom jornalismo e cumprir o papel para o qual a EBC foi criada. Também por isso é urgente nos manifestarmos pela liberdade de Assange, que não pode ser julgado por fazer jornalismo”.
Confira as entidades presentes: Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Movimento Brasil Popular, Assembleia Internacional dos Povos, Associação Profissão Jornalista (APJor), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de S. Paulo, Grupo Tortura Nunca Mais e Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Leia a íntegra da carta assinada pelas entidades e que será entregue ao Consulado britânico:
Felipe Bianchi | Barão de Itararé
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