Desde o início de seu mandato, Jair Bolsonaro e seus aliados alegam que os erros cometidos no passado pelos governos anteriores levaram o país a uma crise financeira e que a solução para sair dessa situação é a aplicação uma política neoliberal.
O jornalista Paulo Cannabrava Filho e a economista e doutora em Políticas Públicas Ceci Vieira Juruá, em bate-papo realizado pela TV Diálogos do Sul, discutem a ideia neoliberal de que para salvar o país é preciso uma reforma da Previdência, um arrocho fiscal e a privatização das estatais.
“Eles querem vender todas [as empresas públicas]. Se vocês não reagirem, eles vão vender a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, Banco Central… Eles privatizam tudo”, diz Cannabrava. “Eles precisam de dinheiro para fazer caixa e vão tirar 13 bilhões dos dividendos das estatais. Como elas não servem para a economia de um país, se agora para salvar o caixa do governo, eles vão tirar o dinheiro delas?”, questiona.
Ricardo Hara
"Neoliberalismo é injusto, só serve para os mais fortes e os mais ricos"
Ceci explica que em relação à Petrobras, o governo Bolsonaro afirma que há uma dívida muito grande, que é real. Porém, ela não foi feita por erros de governos anteriores. “Em economia a gente diz: 'a dívida não é econômica, é financeira'. Ela foi feita por causa dos juros extorsivos que nós pagamos ao capital estrangeiro durante 20 ou 30 anos”, diz a economista. “Quando os juros não são completamente pagos, aquilo se junta ao montante do principal, e a dívida foi engordando dessa maneira”, afirma Ceci.
Como regra em economia pública, o Estado não pode pagar uma taxa de juros que seja maior do que a taxa de crescimento da economia. “Porque a sua receita cresce segundo o seu crescimento econômico”, explica a economista. “Se você tem uma dívida que cresce a 10%, ela vai te levar para o buraco.”
Na opinião de Ceci Juruá, uma das razões para “alguns ministros deixarem essa dívida crescer é a moeda podre dos Estados Unidos”. A economista conta que há alguns anos, os estadunidenses estão emitindo “moedas sem lastros”, e que de 2012 para cá emitiram “alguns trilhões de dólares para sacudir a sua economia e retomar o crescimento econômico porque pararam de crescer. O capitalismo está em crise, está estrangulado por causa da concentração de renda”, explica.
Concentração de renda
“No início do século, 15% da economia brasileira estava concentrada na mão de 1% da população. Hoje, 60% está na mão de 1%”, afirma Ceci. “Este modelo neoliberal implantado por Estados Unidos e Inglaterra nos anos 1980 e 1990 é concentrador da renda nacional”. É injusto, só serve para os mais fortes e os mais ricos”, conclui.
“Quando você diz que o Estado não deve intervir, para eles significa que o governo não deve ditar regra para o capital. O Estado não pode dizer onde deve investir, quanto deve pagar de imposto, qual deve ser o salário mínimo. O mercado é que vai decidir”, ressalta a economista.
Ceci diz que o mercado se define pelos grandes capitalistas e grupos transnacionais e multinacionais que desejam essa liberdade do Estado, e que ainda que estejam em crise, são “muito mais fortes que o trabalhador”. “Os capitalistas são muito mais fortes e organizados que os trabalhadores. Então quando o Estado se recolhe, é a lei do mais forte”, diz.
Sobre o neoliberalismo, Ceci Juruá afirma: “Esse regime não nos serve. Em quatro décadas, nós vimos que é concentrador de renda, que só beneficia uma parte minoritária da população”.
“Sempre que a sociedade se vê diante de um problema desse tamanho, ela não é boba, ainda mais com o mundo moderno, com a internet, livros, a sociedade reage. E como eles não querem a reação social, e eles pretendem implantar isso de qualquer maneira, o regime tende a usar medidas de força, ele não pode ser democrático”, diz Ceci, “ou seja, o neoliberalismo é incompatível com a democracia e ele ameaça, portanto, um valor ideal da sociedade moderna, que é a questão democrática e a liberdade de cada um”, conclui.
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