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Crise mundial no mercado petroleiro é tão drástica quanto pandemia de coronavírus

Somente China e Rússia podem impedir caos econômico global, porque os EUA e a Europa já não são os motores principais da economia mundial
Luis Manuel Arce Isaac
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Dois acontecimentos globais, o coronavírus Covid-19 e a baixa no mercado petroleiro, fazem uma mistura explosiva para a economia mundial que está à beira de uma crise geral. 

Com o avanço da doença que tem mantido em sobressalto a Europa e ameaça espalhar-se por todo o território dos Estados Unidos, onde já faz estragos com 41 mortos, o mercado das bolsas treme em escala global e o México não escapa a um nervosismo que pode ser histeria coletiva entre operadores da bolsa e investidores. 

Wall Street se estremece ante qualquer informação sobre a epidemia em um sobressalto in extremis o que é complicado por uma guerra petrolífera liderada pela Arábia Saudita que tem como objetivo afetar a Rússia mesmo quando se tinha conseguido um entendimento sobre os níveis de extração para preservar preços internacionais aceitáveis pela Organização de Países Exportadores (OPEP).

Ninguém duvida dos efeitos negativos para a economia mundial do novo coronavírus, mas, embora mais discretamente, devido ao enorme peso da informação do Covid-19, a crise no mercado petroleiro é potencialmente tão daninha ou mais que essa pandemia. 

Curiosamente a ênfase no coronavírus já não acontece na China por sua evidente recuperação e a mostra de fortaleza que deu neste episódio seu poderoso sistema socioeconômico.

Foi evidente no princípio da epidemia uma política informativa mal intencionada para desacreditar o gigante asiático e prejudicá-lo economicamente, mas é tal a consolidação de seu modo de produção que a epidemia não pode derrubar o país. 

Pelo contrário, houve um efeito bumerangue, primeiro para a Europa, e nestes momentos para os Estados Unidos, e ficou evidente que a economia mundial não se move sem a China nem a Rússia. O que aconteceu na realidade? 

Fosse intencional ou não a mutação do coronavírus do animal ao homem, o novo vírus detonou uma psicose no mundo a partir da infecção na China quando ela começou a fechar fábricas e cidades tentando conter os contágios. 

China deixou de fornecer peças ao resto das unidades produtivas do mundo, chegou o desabastecimento e com ele o fechamento de fábricas em outras nações.

Somente China e Rússia podem impedir caos econômico global, porque os EUA e a Europa já não são os motores principais da economia mundial

Pemex.Mx
O preço do petróleo cru caiu pesadamente e produziu crise nos investidores de fracking nos Estados Unidos

Indústrias automobilística e petrolíferas

Wuhan se converteu de paraíso do automobilismo ao pesadelo dessa indústria por ser sede de fábricas principais da GM, Honda, Nissan, Peugeot e Renault.  As vendas de automóveis na China desceram 92% e afetaram o mercado mundial. 

O consumo de gasolina baixou brutalmente, as fábricas consumidoras de derivados de petróleo fecharam e o preço do petróleo cru caiu pesadamente e produziu crise nos investidores de fracking nos Estados Unidos, por custos de extração superiores ao preço do barril de petróleo cru. A reação foi contra a OPEP.

Arábia Saudita buscou, como sempre, fazer o jogo dos Estados Unidos e baixar a produção de petróleo para elevar os preços internacionais, mas a Rússia e outros produtores como o Irã se opuseram. A reação saudita foi prepotente e feroz e iniciou uma irracional guerra de preços rematando seu petróleo. 

Os preços do petróleo despencaram 20% em minutos e os investidores venderam ativos que em sua opinião representam um maior risco em momentos de incerteza, como no México, onde a ação dos sauditas foi demolidora. 

O peso mexicano caiu 5% durante a abertura dos mercados da Ásia na segunda-feira e o dólar chegou a ser cotado acima das 21 unidades. 

O presidente Andrés Manuel López Obrador, endureceu sua posição em relação às empresas com contratos às quais obrigou a ser mais produtivas e extrair maiores quantidades de petróleo em lugar de, como até agora, especular com as licitações no mercado de valores sem produzir quase nada. 

Essa atitude não foi do agrado dos Estados Unidos. Dave Graham, um jornalista da agência Reuters, revelou um conciliábulo na Embaixada na Cidade do México entre estadunidenses, europeus e canadenses, para obstaculizar ou impedir a ideia do mandatário de outorgar um papel mais relevante ao Estado na indústria dos energéticos. 

Segundo o jornalista, o encontro foi realizado no início de março na embaixada dos Estados Unidos no México, com a participação de diplomatas do Canadá, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Espanha e Países Baixos. O certo é que a informação não foi desmentida. 

Confirmada, essa conspiração rompe rapidamente os níveis de confiança que são a base de todo o sistema financeiro internacional com o que aumentam os riscos quando México luta por restituí-la após o deterioro causado pela corrupção, sobretudo na Pemex, a mais afetada pela delinquência de colarinho branco. 

Regressando ao tema principal, as alternativas para moderar ou impedir que se chegue a uma crise econômica global provocada pela explosiva combinação do Covid-19 e da guerra do petróleo, são somente a China com seu enorme potencial produtivo e a Rússia com seu petróleo, porque os Estados Unidos e a Europa já não são os motores principais da economia mundial.

As medidas de emergência adotadas por Donald Trump revelam a debilidade de seu governo, contrariamente ao que ocorreu na China onde corroboraram para a fortaleza do gigante asiático. 

Luis Manuel Arce Isaac é jornalista

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Luis Manuel Arce Isaac

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