Veja bem: não são os bancos e financeiras que estão no poder? Pois bem, a Receita diz que os bancos se omitiram nas questões levantadas pela Lava Jato nos contratos de câmbios usados para lavar dinheiro. O que é isso? Descobriram a pólvora?
Caramba! Nossos avós já sabiam que não se faz um ilícito no mundo sem a participação de um banco. E não é qualquer banco, não. São os maiores.
E, por que será que os bancos fizeram os Paraísos Fiscais? Ou será que é pra pensar que são produtos de governos corrompidos? É só procurar quais são os principais centros de lavagem de dinheiro conhecidos como Paraísos Fiscais: Londres, Bahamas, Lichtstein, Mônaco, Las Vegas, Ilhas Virgens, Hong Kong enquanto foi colônia inglesa, e outros tantos espalhados pelo mundo, sem esquecer da Suíça, a grande matriz do dinheiro escondido.
Já falamos aqui, às vezes somos levados a pensar que a república de Curitiba e afins são de um bando de comunistas que querem acabar com o capitalismo. Mas quando a gente recorda que o capitalismo sequer amadureceu aqui, do que se trata mesmo é de realizar a estratégia de implantação do caos, tão cara aos Estados Unidos.
Há farta literatura sobre as diferentes táticas, desenhadas para as peculiaridades de cada geografia, sobre como os aparatos de inteligência estadunidense vem desenvolvendo a estratégia do caos mundo afora.
E todos sabemos que os juízes da Lava Jato foram instruídos, receberam material colhido pela espionagem, e inclusive têm sido homenageados em diferentes foros nos Estados Unidos e na Europa. Velha tática ianque... desde que aprovaram travar uma guerra de conquista através da cultura e dos meios de comunicação.
Durante o transcurso dos anos, os acontecimentos mais decisivos da história da Humanidade vão adquirindo a tinta sépia das velhas fotografias. Transformam-se pouco a pouco em lendas ou, no melhor dos casos, em acontecimentos isolados desprovidos do impacto na realidade atual. Assim é como são ensinados nas aulas de história, talvez com um propósito de isolá-los em uma cápsula de tempo para esterilizar sua transcendência.
No entanto, esses marcos representam momentos nos quais a rota se modificou para traçar um caminho novo, embora nem sempre melhor. Na medida em que as sociedades avançam pressionadas pelos desafios da sobrevivência, seus momentos de dor e de perda vão ficando ocultos em uma bruma propícia para o esquecimento, que representa o enorme risco de repetir o ciclo uma e outra vez, abandonando, ao largo dessa marcha, os sonhos e ambições de criar sociedades mais justas e humanas. É a cultura do esquecimento, uma doença coletiva que, como um vírus maldito, nos condicionou a deixar para trás as lições mais valiosas.
Uma das consequências deste fenômeno coletivo é o rebrote de movimentos marcados pelo racismo e pela violência fascista em países que experimentaram o pior do nazismo durante as maiores e mais cruéis caçadas humanas da história, mas também estendidos ao resto do planeta. É um exercício de poder e perversão cujo germe pareceria estar presente no próprio núcleo da espécie humana, tal e como se manifesta em outras caçadas, perpetradas sob algumas regras que segmentam as comunidades entre aqueles que possuem o direito de viver e aqueles que hão de ser exterminados.
Notícias ao Minuto A cultura do esquecimento
Um processo similar se produz diante do esgotamento dos recursos, da destruição dos ecossistemas e da mortal indiferença daqueles que têm o poder de intervir para mudar o curso dos fatos. As comunidades humanas – parte do problema e também da solução – só observam, com atitude cética e conformistas, como é destruído seu mundo.
As evidências sobre a extinção de espécies, consequência do afã de riqueza e poder, vão de mãos dadas com as imagens de civis – convertidos em “danos colaterais” no meio de ataques bélicos de enorme magnitude – cujo único propósito é o controle econômico e geopolítico para aqueles que têm o poder.
Os mecanismos de eliminação da memória são ativados enquanto a realidade começa a estorvar nosso pequeno mundo cotidiano e a causar-nos moléstias na consciência. É a maneira de sacudir de nossa mente algo sobre o qual não temos modo de incidir; é o mecanismo do caranguejo que busca uma concha vazia na praia para esconder-se de seus depredadores e seguir adiante com sua vida.
O problema é que não temos um refúgio para nos proteger da destruição desses elusivos marcos de convivência nos quais baseamos nossa confiança. Entre eles, a ideia purificada e abstrata do significado de democracia.
Na rota do esquecimento e da conformidade terminamos por abandonar nosso papel ativo como membros de sociedades organizadas. Nos trocaram as regras do jogo e seguimos jogando sem conhecer os truques do adversário, porque tampouco sabemos quem é.
Como o caranguejo, buscamos o refúgio precário no esquecimento. E, como o caranguejo, acreditamos ser imunes ao olho treinado dos depredadores que nos rodeiam.
Estamos expostos aos efeitos do passado cada vez que tentamos esquecê-lo.
Carolina Vásquez Araya, Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala Tradução de Beatriz Cannabrava
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