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Efeito Bannon: Inglaterra tem prateleiras vazias e Brasil caminha para destruição do Estado

Cambridge Analytica atuou em mais de 60 países, incluindo Argentina e Brasil. A preocupação de Bannon agora é não quer perder o Brasil
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Álvaro Costa, em coluna que mantém na Folha de SP, diz que Steve Bannon aposta tudo no Brasil, e pretende construir um bunker aqui, provavelmente em Santa Catarina.

O jornalista diz que Bannon pagou uma multa de US$ 5 milhões para se livrar de ser preso, numa ação de fraude na concorrência para construção do muro que os EUA constroem na fronteira com o México. Recebeu o dinheiro e botou no bolso, algo assim.

Steve Bannon e a conspiração contra a Europa, por Manuel Castells

Uma multa desse porte é muito dinheiro. Quem paga essa conta? Quem é que tem tantos milhões que pode dispor de US$ 5 milhões como se nada?

Vale rememorar o affaire da Cambridge Analytica. Êxito total da Operação Brexit, conduzida pela Cambridge Analytica com dinheiro de Robert Mercer, ex-investidor da extinta e polêmica empresa.

A Inglaterra se afunda. Está revivendo cenas da Segunda Guerra, quando cercada pela Alemanha de Hitler faltava tudo. Prateleiras de supermercado vazias. Não tem carne porque não tem açougueiros; não tem gasolina nos postos porque não tem quem entregue.

Segundo o sindicato dos transportadores, 100 mil caminhoneiros ficaram no continente, ou seja, na União Europeia. Resultado: 100 mil militares tiveram que agarrar o volante para manter o abastecimento. Mas faltam produtos. A Inglaterra é uma ilha que se afunda…

Cambridge Analytica: matriz de fraudes eleitorais ocorridas pelo mundo inteiro

Boris Johnson diz que faltam gêneros porque houve uma corrida desnecessária. Está enganando a si mesmo.

A situação é tanto mais grave quanto a aproximação do inverno, em que é preciso muito combustível para aquecimento dos ambientes. Precisam de gás, carvão e petróleo. Toda a União Europeia precisa e quem tem gás, carvão e petróleo é a Rússia. Lembremos de que se trata de um só território, a Eurásia.

Recordando ainda a Cambridge Analytica, terminada a operação de manipulação das redes para conseguir aprovar a ideia de a Inglaterra abandonar a União Europeia, Robert Mercer e sua gente foram para os Estados Unidos para eleger Donald Trump. Ali sua filha Rebeka Mercer contratou Steve Bannon para ajudá-la na coordenação da campanha. 

A Cambridge atuou nas eleições em mais de 60 países, incluindo a de Mauricio Macri, na Argentina, e a de Bolsonaro, no Brasil. Essa é a preocupação de Bannon agora: não quer perder o Brasil.

Do Brexit a Bolsonaro: Como eleições são fraudadas e democracias, corrompidas

Por isso, Bolsonaro já está em campanha e está radicalizando. Quer dizer, vai radicalizar cada vez mais. Guedes corrobora dizendo que vai cumprir com o que falta para liquidar o Estado.

Eliane Cantanhede, colunista do Estado de SP diz que Bolsonaro está em plena campanha e menciona o uso de robôs humanoides a gritar muito nas ruas e a agitar nas redes sociais. Não bastasse o uso de inteligência artificial, usa gente que se comporta como máquina Não pensam.

Quando do Brexit dissemos que Inglaterra estava se suicidando. De grande metrópole colonial à mera colônia dos Estados Unidos, um paraíso fiscal a mais para o cassino global. De não regressar à União Europeia, o Reino Unido está fadado a ser um quinto mundo.

O terceiro mundo não o vai aceitar, pois são profundas as feridas deixadas pelo colonialismo britânico. Lembrem que é o colonialismo do apartheid, da exploração impiedosa das riquezas. Essa dor é iniludível.

O Brexit redefine a geopolítica mundial

E quanto a retornar a ser europeu?

É algo possível sem dúvida. Basta convocar um novo plebiscito em que a população inteira, vá votar para ser europeia. Aí surge outro problema. A pergunta que se faz é se os Estados Unidos concordarão com isso…

Cambridge Analytica atuou em mais de 60 países, incluindo Argentina e Brasil. A preocupação de Bannon agora é não quer perder o Brasil

mercosur
Bannon: não quer perder o Brasil.

Guedes promete acabar com o Estado

Êxito da política neoliberal do governo de ocupação. O banqueiro Guedes, na gestão da política econômica, promete antes de terminar o mandato acabar com o que falta. Faltam Caixa, Banco do Brasil, outros bancos estatais, Eletrobrás e Petrobras. Faltam também Reformas Administrativa e Eleitoral. 

A proposta de um novo código eleitoral foi aprovada na Câmara e agora cabe ao Senado melhorar ou manter a aberração. A mesma coisa com a reforma administrativa. Os servidores públicos estão em pé de guerra.

Com Brexit, Inglaterra afunda; enquanto isso, Guedes pretende acabar com Estado

O problema é que nunca tivemos tanta gente incompetente, oportunista no Legislativo. Como são maioria, ligam o rolo compressor e aprovam tudo, sem passar por especialistas.

Objetivo explícito da gestão econômica: realizar os dez mandamentos do Consenso de Washington e entrar na OCDE e na Otan. Objetivo implícito: acabar com o Estado e implantar o caos.

Os resultados estão aí para serem conferidos 

O trabalho informal, nos últimos 12 meses, cresceu 5,6 milhões de pessoas, perfazendo um total de 36,3 milhões de contrapropostas — eufemismo para o trabalhador por conta própria.

Inclusive nas profissões regulamentadas, onde recebe o nome de pejotização, o profissional abre uma empresa, vira pessoa jurídica, e passa a emitir nota fiscal contra o pagamento de seus serviços. Claro que com a perda de todos os direitos trabalhistas.

Guedes e Bolsonaro ameaçam tirar trabalhadores dos fundos de pensão e transferir patrimônio aos bancos 

O desemprego continua nos 14 milhões de trabalhadores, somando tudo dá quase metade da PEA, onde a população ocupada, formalmente empregada, reduziu-se a 40 milhões, onde predomina a precarização e baixos salários.

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Gente de todo o mundo aportando aqui para ajudar a construir o que somos. Graças ao neoliberalismo e ao caos econômico, os brasileiros estão migrando para outros países em busca de sobrevivência.

O pior é que, principalmente, são pessoas qualificadas. O país investe na formação, mas não investe em desenvolvimento, viramos exportador de cérebros.

Segundo o Itamaraty, em 2020 chegou a 4.2 milhões os brasileiros no exterior e só no primeiro semestre de 2021 já saíram outros 130 mil, totalizando hoje 4,5 milhões.

A maioria, advinha para onde: Para os Estados Unidos: 1,7 milhão; seguido de Portugal, 270 mil; Paraguai, 240 mil; Reino Unido, 220 mil e Japão, 211. Nos EUA, agora mesmo, estão com 50 mil brasileiros sem documentação.

A Reforma Administrativa não contempla a remuneração

Esse é outro projeto que está travado no legislativo. É uma questão muito delicada, envolve os super salários. São ilegais, mas são reais. O teto é R$ 39 mil, mas quem se contenta com isso?

PEC 32: “Reforma” administrativa é ainda pior que a trabalhista; entenda:

A solução são os penduricalhos: ajuda aluguel, ajuda terno, ajuda livros, ajuda filho na escola, plano de saúde, almoço e jantar, automóvel com motorista, um bando de secretárias, auxiliares e assessores. R$ 213 milhões é quanto custa aos cofres públicos os excessos salariais.

E os escândalos? 

Por trás de cada escândalo que aparece, lá estão os poderosos que capturaram o poder. CPI da Covid já está perdendo o charme… um escândalo maior que outro e nada acontece.

Quem é que vai tomar providências para a questão das remunerações escandalosas, por exemplo? Os ministros do STF? Os militares com duplo salário, alguns generais metendo no bolso mais de 100 mil, até 200 mil?

A verdade é que estão se refestelando com dinheiro público.

Prevent Sênior

Sobre a questão da Prevent Sênior, há que destacar que talvez seja a ponta de um iceberg. Quantos são os planos de saúde operando no país?

kit covid e eutanásia: ações da Prevent Senior só têm paralelo a práticas nazistas na ll Guerra

A lição que todos esses escândalos na área da saúde deixam é que o atendimento à saúde é fundamental para a preservação da vida. É direito, líquido e certo. Se é direito, e ademais direito reconhecido na Constituição, é dever do Estado.

O SUS foi pensado para ser para todos. Com o que se rouba neste país daria tranquilamente para financiar a universalização dos serviços de saúde. SUS é isso.

Pane nas redes sociais

Sobre a pane nas redes sociais, propriedade do bilionário Mark Zuckerberg, Facebook, Instagram e WhatsApp, principalmente o zap-zap, vale uma reflexão.

Ficou oito horas sem funcionar, muita gente perdeu dinheiro, deixou de vender, por exemplo, que com a pandemia mais que habitual tornou-se necessidade. Quem paga essa conta?

O mundo é do Google e do Facebook, nós só vivemos nele

É sobre isso que temos que pensar. Essa pane mostra duas coisas fundamentais.

1º o absurdo da dependência global desses aplicativos. E que isso seja monopólio de um ricaço.

2ª essa dependência mostra que o mundo, ou uma parte dele, transformou essas redes em um serviço essencial. Essencialidade comprovada no desespero das pessoas sem comunicação. Como viver sem o WhatsApp?

Então, se é um serviço essencial torna-se um direito. Se é um direito cidadão torna-se dever do Estado. Assim de simples. Na China, na Rússia é o Estado quem supre, não dependem desses monopólios.

O Brasil, para ser soberano, deverá seguir esse caminho. Construir seus próprios mega servidores e suas próprias redes. Pode, por exemplo, junto com a Argentina, começar a desenvolver aplicativos para uma rede social comum aos dois países.

Assim a gente se livra doFacebook. Consolidada a rede, poderia se expandir para como uma rede latino-americana independente do monopólio dos Estados Unidos.  

Finalmente, temos diante de nós um escândalo global com epicentro nos paraísos fiscais. Bem que Zeus avisou: não abram a caixa!

Pandora papers

Quem abriu foram repórteres do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (CIJ). A fortuna somada de 102 beneficiários das empresas em paraísos fiscais é de US$ 635,8 bilhões.

O Brasil é o segundo em quantidade na lista com 15 bilionários com fortuna no exterior, calculada em US$ 56 bilhões, ou R$ 280 bilhões.

Guedes desvaloriza real e lucra R$ 50 mi em paraíso fiscal no Caribe

A gente aprende na escola que a capital não tem pátria. É, e os donos do capital tampouco tem pátria. E são esses caras sem pátria que nos governam. Só pensam neles, em ganhar mais e mais dinheiro e, o povo, o povo que se dane.

Esses caras são 10% entre os 10% dos mais ricos. Apareceram dois caras que ocupam os postos mais importantes na gestão da economia. Guedes e Campos, o super ministro e o presidente do Banco Central. Essa questão do dinheiro que está lá fora é também uma ponta de um iceberg a ser desvendada.

Em 2016, quando se fez a Lei 13.254, com intenção de facilitar a repatriação de recursos não declarados de brasileiros no exterior, estimava-se algo em torno de US$ 400 bilhões.

Em 2020 O Banco Central do Brasil investigou cerca de US $170.397,00 bilhões em bens e valores ativos de pessoas físicas e jurídicas declaradamente investidos no exterior. Quanto será hoje o não declarado? 

“Eu sonego tudo o que for possível”: Como Trump, Bolsonaro também burla as leis fiscais

Do golpe de 2016 para cá houve muita bandalheira no governo e fora dele. Há os brasileiros que estão nas listas da revista Forbes, com destaque para os irmãos Marinho, cada um dos três, com seu lugar na lista.

Matéria do UOL Economia, de 2017, quando o tema foi colocado nas manchetes por mais um desses destaques, diz que o assunto aflige porque, segundo o The Boston Consulting Group diz que cerca de US$ 10 trilhões estão hoje em empresas offshore.

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Isto equivale ao PIB do Japão, do Reino Unido e da França — juntos. Equivale também a cinco vezes e meia o PIB do Brasil em 2016. E esta pode ser ainda uma estimativa conservadora.

Por isso, insistimos na questão da soberania e independência do país, valores que só se conquistam com uma luta de libertação nacional, que abomine o capitalismo e crie uma sociedade capaz de autogerir-se.

Paulo Cannabrava Filho é jornalista e diretor da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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