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Eleições 2022 e algoritmos: Esquerdas analógicas têm muito a aprender com Anitta

Cantora diz querer nos salvar das armadilhas digitais, contudo, não se vê sinais de interesse nesse sentido vindos das lideranças progressistas
Ricardo Almeida
Sul 21
Porto Alegre (RS)

Tradução:

Anitta está dando uma verdadeira aula para as esquerdas sobre a melhor estratégia nas redes sociais. Inclusive, ela já publicou algumas dicas de “como furar as bolhas” em que nos metemos… A maioria de nós segue no automático, aceitando tudo sem entender como funcionam os algoritmos e sem questionar a complexidade das tecnologias de informação e comunicação. Isso tudo me faz lembrar da minha querida avó sem entender o semáforo e do meu pai hipnotizado na frente da televisão durante o seu tempo livre, tomando um mate pela manhã e/ou um uísque à tardinha.  

Anitta diz que quer nos salvar das armadilhas digitais, mas ainda, todavia, contudo, não vejo sinais de interesse nesse sentido vindos das lideranças “analógicas” da esquerda brasileira. Elas ainda falam em TV, pois não percebem a dimensão da interatividade que cada “programa” e postagens pode alcançar na internet. 

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Bolsonaro (leia-se, Steve Bannon, ex-Cambridge Analytica) já havia utilizado um método semelhante ao de Anitta na campanha de 2018. Lembro que a esquerda caiu direitinho em várias “armadilhas” e até hoje não refletiu sobre as estratégias digitais e algorítmicas utilizadas pelos cybers-colonizadores. Uma delas é simples demais para quem raciocina: criar um fato de impacto para ampliar o alcance das suas redes sociais, com a ajuda de compartilhamentos feitos pelos aliados e também pelos afoitos adversários políticos. 

Vocês lembram que em 2018 tivemos uma grande greve de caminhoneiros, patrocinada pelas transportadoras? Pois aquela estratégia impactou tanto as famílias brasileiras que acabou permitindo a ampliação das redes de WhatsApp, etc. para a campanha do Bolsonaro. Depois eles enviaram as “instruções” e os argumentos que seriam utilizados para “atacar a petezada” e aproximar o digital do presencial, e vice-versa. Outra tática foi desconfiar das urnas eletrônicas até a véspera das eleições, pois eles queriam manter a tropa fiel em prontidão até a boca da urna.

Cantora diz querer nos salvar das armadilhas digitais, contudo, não se vê sinais de interesse nesse sentido vindos das lideranças progressistas

(Reprodução/Twitter)
Precisamos assumir que uma pessoa (dirigente ou não) com cultura analógica não será capaz de compreender a complexidade do universo digital

É importante destacar que até hoje eles surfam nestas ondas digitais criadas naquele período, que eles foram perdendo consideravelmente as ruas, enquanto muitos dos nossos seguiram no automático, divulgando estas postagens criadas única e exclusivamente para propagar o medo e manter a nossa passividade durante os períodos de disputas políticas.

Percebam que a decisão de não citar o nome do Bolsonaro nas postagens negativas foi uma estratégia que eles criaram para que circulassem somente postagens positivas sobre o “inominável” naquele momento. De quem partiu a ideia de não citar o nome de Bolsonaro? Só pode ter sido da equipe de Steve Bannon. Desde 2018 eles trabalharam em sintonia com os algoritmos e essa tática funcionou tanto que acabou sendo reproduzida por quase toda a esquerda analógica brasileira. 

É importante advertir que essa última “tática” dependerá de cada conjuntura, pois ela deve considerar o resultado das pesquisas estatísticas em curso e não somente da nossa intuição e/ou desejo individual. Para não cair neste tipo de armadilha, eu aconselho que se faça uma análise da conjuntura regional, nacional e, se possível, internacional, antes de qualquer ação política. 

Enfim, mesmo que as esquerdas não aprendam com as aulas da Anitta, acredito que “as coisas” estão mudando em função da conjuntura desfavorável ao desgoverno Bolsonaro, devido à força simbólica dos programas implementados nos governos Lula, e não pela estratégia digital das esquerdas. Percebo que ainda estamos utilizando um método tradicional de fazer política, apesar de alguns pequenos avanços no uso (intenso) de ferramentas digitais tecnológicas. 

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Devemos reconhecer, por exemplo, que ainda não conseguimos aproximar o digital do presencial (e vice-versa), pois não compreendemos que ambos são dimensões de um mesmo sistema global hiperconectado e que, portanto, precisamos superar essas dimensões binárias de mundo. Se não conseguimos elaborar um plano de comunicação que considere os algoritmos das diferentes plataformas e ferramentas digitais, cabe um agradecimento à Anitta, tanto pela importância da sua contribuição para a campanha Lula-Alckmin, mas também, e principalmente, por provocar as esquerdas (tomara que tenha efeito!) sobre o papel dos algoritmos. 

Embora a nossa luta e o entusiasmo tenham crescido consideravelmente nas redes sociais, precisamos assumir que uma pessoa (dirigente ou não) com cultura analógica não será capaz de compreender a complexidade desse universo digital-presencial. O problema não está em não dominar estas táticas digitais, mas em não reconhecer tais limitações e em não procurar ajuda para aprender o máximo possível sobre esse novo (nem tanto) mundo que tomou conta das nossas vidas.

Ricardo Almeida é consultor em Gestão de Projetos TIC e ex-Diretor do Departamento de Projetos Estratégicos do Governo Tarso Genro – RS.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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