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Cannabrava | Pesquisas indicam que a pátria está em perigo e precisa ser salva do naufrágio

Basta! É hora de trocar modelo neoliberal entreguista através do voto consciente. Eleitor precisa entender que o que está em jogo é muito mais que um governo
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

O 7 de setembro ainda ecoa nas consciências e domina a mídia que pauta a mídia. Houve um sequestro de uma festa cívica praticado pelo ocupante da Presidência da República e as Forças Armadas. Bolsonaro. O que é Bolsonaro? É o governo do Partido Militar, o governo militar de ocupação, na ocasião do bicentenário, ele utilizou a rede nacional de televisão e rádio, EBC, e, inclusive, de meios alternativos para mostrar o quão poderosos eles são. Que vergonha.

Eles demonstram esperteza ímpar. No bicentenário da independência, não pronunciaram nenhuma palavra sobre a data histórica; tanta coisa para falar e refletir sobre a verdadeira independência e só se fala no que Bolsonaro propõe. Dias seguidos a repetir a pauta.

Tivemos o centenário da Semana de Arte Moderna, marco fundamental do modernismo brasileiro, e nenhuma palavra sobre isso. Foi um movimento de soberania cultural, que forjou uma arte com raiz no solo pátrio. E foi ignorada.

Independência sem independência econômica é pura balela, enganação. Só a soberania possibilita desenvolvimento com inclusão social. Independência e soberania têm que ser as pautas principais de qualquer programa partidário eleitoral. Vamos insistir nisso, pois faltam apenas duas semanas para a eleição.


A pátria está em perigo 

A pátria está em perigo, mas para os donos do dinheiro, será “uma transição pacífica”. É o que diz o presidente do segundo maior banco privado do país, o Bradesco, Octavio de Lazari Jr. Para ele, a “democracia no Brasil é um patrimônio e está consolidada. O que falta para atrair o capital: tranquilidade institucional, respeito aos contratos, disciplina fiscal, simplificação tributária, reduzir a desigualdade, criar uma melhoria na formação do trabalhador e, sobretudo, seguir nossa vocação de produzir commodities e exportar energia limpa”.

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A declaração é sintomática, sobretudo por ser de quem é, mas também poderia ser do Roberto Setúbal, copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, afinal, eles representam o dinheiro. Dinheiro que compra tudo, inclusive uma eleição. 

Eles não ponderam que, além da mídia, o governo sequestrou também os Orçamentos, porque além do oficial, temos o Secreto. Em pleno período de campanha eleitoral, Bolsonaro liberou, no dia 5 de setembro, R$ 1,6 bilhões para emendas do relator (nome oficial do kafkiano meio extraoficial de governar) e desbloqueou mais R$ 5,6 bilhões para os deputados gastarem em seus currais eleitorais. Tudo através de Medidas Provisórias. Isso é proibido, mas quem se importa?

O governo dos militares tenta sequestrar até mesmo as funções do Tribunal Eleitoral. O jornal Folha de S. Paulo noticiou que as Forças Armadas (eu diria o governo militar de ocupação) faria a apuração paralela das eleições, em tempo real. O TSE depois negou e a Folha se corrigiu, mas quem vazou a informação para o jornal tinha qual intenção?

Tudo o que esses militares querem é gerar desconfiança e ter um pretexto para anular o pleito.

Tudo o que fazem é ilegal. Tripudiam sobre a legislação eleitoral e continuam candidatos, o inominável e o Partido Militar, agora disfarçado de PL. Tudo com a cumplicidade dos supremos ministros do STF.


O que dizem as pesquisas

Depois da exibição de força no 7 de setembro, o governo diz que tem o Data Povo para contestar as pesquisas eleitorais “mentirosas”. O último DataFolha constata que de dezembro a inícios de setembro, a diferença a favor de Lula sobre Bolsonaro baixou de 26 para 11 pontos.

Na pesquisa mais recente do Ipec/Abrapel, Lula tem 44%, Bolsonaro 36%, Ciro 8% e Tebet 5%. A soma desses dois subiu de menos de 9 para 13, o que configura um segundo turno. Muito perigoso por várias razões. 

Pesquisa Ipespe, fechada dia 12, mostra que o sequestro da festa do centenário não alterou o quadro e que, com um esforço dos democratas, desistência de Ciro ou de Tebet bastam para conseguir vencer no primeiro turno.

Já na mais recente, a Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (14), Lula saiu de 44% para 42%, enquanto Bolsonaro segue estacionado nos 34%. A diferença entre ambos é a menor desde o início da série histórica da pesquisa, iniciada em julho de 2021.


Passar a boiada

Aquela frase, “passar a boiada”, significa porteira aberta para a destruição. Realmente impressionante. Na Amazônia, tivemos um novo recorde de queimadas, 33 mil focos em agosto, contra a média histórica, de 26.299. A fumaça enevoou São Paulo e tivemos dias seguidos de lua vermelha. Isso a quase 4 mil quilômetros de distância. 

E ainda há quem defenda que essa destruição não afeta o clima. O que dizem os candidatos sobre isso? Tem que cobrar o posicionamento e não votar em candidatos do agronegócio predador. Ao invés disso, o melhor é votar em pessoas indígenas.

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Os discursos utilizam a técnica aprendida das cartilhas do nazismo. Todos os males têm um culpado e a culpa é do inimigo. O clã Bolsonaro fez rachadinhas e comprou centenas de imóveis com dinheiro vivo, mas se vende como o paladino da luta contra corrupção.

Já Lula, que visitou um apartamento que nunca foi dele, no Guarujá, é o maior corrupto da terra. O ex-juiz Sérgio Moro, traidor da pátria, ao que tudo indica, agente dos Estados Unidos, sequer foi acusado e hoje é candidato a senador. 

Como falar em democracia, em estado de direito, segurança jurídica?

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Palácio do Planalto – Flickr

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Cobrança feminina 

De maneira geral, os candidatos homens estão negligenciando as pautas femininas. As mulheres estão mais radicalizadas e organizadas que nunca, mas os partidos teimam em não preencher as cotas, pois o que temos são partidos-ônibus, você aluga em tempos de eleições. Elas querem pelo menos 30%. Uma boa pauta para se cobrar dos candidatos.

As mulheres são a maioria da população, porém a Casa Grande não percebeu, ou não quer ver a realidade. É, portanto, como uma insurgência que as mulheres ocuparam seus espaços nesta eleição

Acho que nunca houve tantas candidatas aos mais diferentes postos eletivos como o desta eleição do dia 2 de outubro.

Das 12 candidaturas registradas, temos quatro mulheres na disputa à presidência, três candidatas à vice. Isso é realmente um fato inédito neste país da Casa Grande machista escravagista, onde a misoginia chegou ao mais alto cargo da República.

  • Simone Tebet, tendo Mara Gabrilli de vice, da coligação MDB/PSDB

  • Soraya Thronicke, vice Marcos Cintra, do União Brasil

  • Sofia Manzano, vice Antonio Alves, do PCB

  • Vera Lúcia Salgado, vice Raquel Tremembé, do PSTU

  • Ana Paula, candidata a vice de Ciro Gomes, do PDT

Para o Senado, foram registradas 234 candidaturas, sendo 53 ou 22,5% mulheres, bem mais que os 17% de 2018.

Para a Câmara Federal, foram registradas número recorde de candidaturas, 10.467, sendo que das 513 vagas, 497 são candidatos à reeleição. O número de candidatas também bateu recorde, alcançando 3.596 (35%), mil a mais do que em 2018.

Assista na TV Diálogos do Sul

As candidaturas mostram um indubitável empoderamento das mulheres, mas nem tudo que reluz é ouro. Há que separar o joio do trigo. Muitas delas são produto do regime, nasceram para ser colonizadas e não estão dispostas a decretar a independência. Basta prestar atenção aos discursos e ver quem prega mudança e quem prega a permanência do status quo. Tebet, D’Ávila, Marçal, Soraya, Jefferson, têm todos o mesmo discurso privatista, entreguista, renegam a soberania nacional. Perguntem aos candidatos o que é soberania, aquela soberania que está na Constituição e eles não saberão responder.


Nacionalismo e imperialismo

Tem coisas acontecendo que são difíceis de explicar. Como é possível que um ministro medíocre de um governo genocida que arrasou o país tenha tantos seguidores, como é o caso do capitão Tarcísio de Freitas, ex-ministro da infraestrutura e candidato ao governo de São Paulo?

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Na última pesquisa Datafolha, Haddad tem 35%, Tarcísio 21% e Rodrigo, vice de Doria, tem 15%, sendo este muito mais conhecido dos paulistas pelo legado do PSDB no estado. O capitão nem paulista é, mudou para cá para ser candidato do Bolsonaro e ninguém contestou.

É preciso cobrar dos candidatos sua posição com relação às questões delicadas relacionadas à soberania nacional e estar atento para mandar para o lixo da história os neoliberais, os bilionários que entram na política para enriquecer mais ainda.

A questão do petróleo é crucial. O monopólio da Petrobras praticamente acabou em 1997, mas os sucessivos governos mantiveram a empresa e suas subsidiárias, que atuavam no ciclo completo do petróleo, da extração, transporte, refino, petroquímica e distribuidora. 

A partir de 2016, com o golpe contra Dilma, o ilegítimo Temer abriu o pré-sal para as petroleiras estrangeiras e começou com a liquidação da empresa. Objetivo seguido com pressa pelo governo militar de ocupação a partir de 2018 que assumiram com a intenção de deixar a empresa unicamente como exploradora e vendê-la na bacia das almas.

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A compreensão de que os centros de decisão do país estão manejados pelo imperialismo é fundamental para tornar o país independente e soberano. O eleitor tem que inquerir de cada candidato, a qualquer função pública, eletiva ou não, sua posição com relação a essas questões vitais para o desenvolvimento. 

Não há saída para crise nem condição para o desenvolvimento dentro do modelo neoliberal em que se impõem a ditadura do pensamento único.

Ser de esquerda não é para gerir o neoliberalismo. Neoliberalismo é isto que está aí gerido pelos militares, com Guedes e Bolsonaro: carestia e desemprego; desestatização, privatização, desnacionalização — precarização e desemprego, insegurança alimentar, fome, desalento, desesperança.

Vamos mudar isso. É possível mudar com o voto consciente. Eis a tarefa dos democratas, dos nacionalistas. Levar a verdade ao povo, fazer que o eleitor entenda que o que está em jogo é muito mais do que uma simples troca de governo. É preciso mudar.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista latino-americano e editor da Revista Diálogos do Sul.

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Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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