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Colômbia: Últimas pesquisas confirmam vitória da esquerda; direita aposta em "outsider"

Há uma adesão a uma candidatura “nem de direita, nem de esquerda” para tentar evitar vitória do Pacto Histórico, avalia analista político
Vanessa Martina-Silva
ComunicaSul
Bogotá

Tradução:

Gustavo Petro se consolida como favorito a vencer o primeiro turno, a direita uribista está desgastada e tem dificuldades de consolidação, enquanto um “outsider” surpreende e vira alternativa para a direita tradicional. Esse é o resumo das duas últimas pesquisas eleitorais divulgadas nesta sexta-feira (20) na Colômbia.

Na avaliação do pesquisador e analista político colombiano Camilo Alvarez, que conversou exclusivamente com a ComunicaSul na manhã deste sábado (21), as sondagens confirmam o caráter inédito das eleições presidenciais, que serão realizadas no domingo (29).

“A esquerda nunca ganhou em nosso país, por causa da violência, a direita populista aparece com um candidato ‘outsider’, fora dos partidos tradicionais, e a direita uribista se mostra em profunda crise, sem conseguir superar a barreira dos 25%, mesmo com toda máquina pública ativada a seu favor”, esclarece o pesquisador.

De acordo com a sondagem da empresa Invamer, Gustavo Petro, do Pacto Histórico, se consolida na dianteira das pesquisas, com 40,6% das intenções de voto, seguido pelo uribista Federico Gutiérrez, com 27,1%.

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Já o levantamento do Centro Nacional de Consultoria (CNC), realizado para a Revista SEMANA, Petro tem 41%, seguido por Gutiérrez, com 23,9% dos votos válidos.


“Centro” não se consolida

A surpresa é o empresário “outsider” Rodolfo Hernández, que aparece no terceiro lugar, com 20,9% na pesquisa Invamer e 21,9% na CNC. O autoproclamado centro político, que tentava emplacar o candidato Sérgio Fajardo, não consegue superar os 5,1% na primeira pesquisa e 4%, na segunda.

“Rodolfo já é uma surpresa. O uribismo conseguiu se consolidar no país, teve uma pausa com o Processo de Paz [levado a cabo por Juan Manuel Santos em 2016], uma dissidência, mas agora o que se vê é a consolidação de Rodolfo como uma alternativa”, avalia Alvarez.

Essa análise revela o movimento da direita para tentar evitar a vitória de Petro. Durante todo o dia, as TVs colombianas repercutiram o desempenho de Rodolfo e muitos cogitaram a possibilidade de ele ultrapassar Fico e disputar o segundo turno com Petro.

“Nós assistimos a um momento de crise do uribismo, após 22 anos na presidência e 30 anos desse modelo neoliberal-paramilitar-narcotraficante, que é o modelo Uribe. Fico tem todos os recursos financeiros, mas ainda assim não supera os 23%. (…) Ele não conseguiu ser esse candidato que queriam para manter o controle”, avalia.

Há uma adesão a uma candidatura “nem de direita, nem de esquerda” para tentar evitar vitória do Pacto Histórico, avalia analista político

Montagem: ComunicaSul com fotos da wikicommons
Fico Gutierrez e Gustavo Petro devem se enfrentar no segundo turno das eleições colombianas

Fenômeno outsider

Com relação a Rodolfo Hernández, vale a pena nos deter um pouco para compreender o fenômeno político atual do país. Alvarez explica que “sempre que há um cenário de polarização na América Latina, um outsider ganha. E, nesse caso, a aposta de outsider é Rodolfo”.

Outdoor exibe propaganda de Rodolfo Hernández, em Bogotá. Foto: ComunicaSul

Apesar de ser apresentado como “outsider” político e solução diante da polarização entre Petro e Fico, Rodolfo já foi prefeito da cidade de Bucoramanga, capital do departamento (estado) de Santander, mas os meios de comunicação preferem chamá-lo apenas de “engenheiro”, como se sua profissão fosse seu sobrenome, ocultando também o fato de que ele é empresário.

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“Ele é um empresário, que passa de 6 a 16% de uma forma impositiva para tentar chegar ao segundo turno e, assim, impedir a vitória, pela primeira vez, de um governo progressista, de esquerda.”

Isso em um cenário, lembra o analista, em que o espectro do centro não consegue se consolidar. Ele lembra que em 2018, Petro conseguiu passar para o segundo turno — quando perdeu para Iván Duque — com uma diferença de apenas 200 mil votos sobre Sérgio Fajardo.

Esse centro político tenta então repetir a fórmula, relançando Fajardo, mas ele não desponta. “ Quem atrai esse voto é Hernández, com discurso anticorrupção, populista, se colocando como ‘nem de direita, nem de esquerda’. Esse crescimento acelerado tem a ver, principalmente, com o fato de que Fico não consegue se consolidar”.


Petro versus Fico

Porém, não é viável o cenário de Hernández em um segundo turno, como almejam esses setores da elite do país. “O establishment vai tentar que Rodolfo seja seu candidato, mas na pesquisa em que ele está mais forte, aparece com 20% de votos, contra 27% de Fico. Esses sete pontos representam cerca de dois milhões de votos”.

De acordo com a pesquisa Invamer, em um eventual segundo turno, Petro vence com 52,7%, contra 44,2% de Fico. Contra Rodolfo, Petro venceria com 50% contra 47,4%. Na pesquisa da CNC, no primeiro cenário, Petro ganha de 44,2% a 24,9% e, no segundo, haveria um empate técnico de 40,5% a 40,5%.

Em conclusão, o que vai decidir essa votação serão os indecisos, diz Alvarez, e a abstenção, que pode chegar a 47% do padrão eleitoral do país. “Entre 15 e 20% dos votantes estão indecisos e devem tomar sua decisão nesta última semana”.

Acompanha as últimas notícias sobre as Eleições na Colômbia 2022

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Esta cobertura é feita pela Agência ComunicaSul graças ao apoio das seguintes entidades: da Associação dos/das Docentes da Universidade Federal de Lavras-MG, Federação Nacional dos Servidores do Poder Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe), Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas (CSA), jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Sindicato dos Bancários do Piauí; Associação dos Professores do Ensino Oficial do Ceará (APEOC), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-Sul), Sindicato dos Bancários do Amapá, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de Betim-MG, Sindicato dos Correios de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste Centro), Associação dos Professores Universitários da Bahia, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do RS (Sintrajufe-RS), Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Sindicato dos Químicos de Campinas, Osasco e Região, Sindicato dos Servidores de São Carlos, mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS), Agência Sindical, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais e centenas de contribuições individuais.

Vanessa Martina Silva é editora da Diálogos do Sul, direto de Bogotá, para ComunicaSul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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