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Foto: Flickr

Eleições: trumpistas teriam esquema para controlar EUA e governar por 100 anos

Plano inclui juntar bilhões de dólares e instalar apoiadores em postos-chave para caçar opositores e expulsar pelo menos 10 milhões de indocumentados
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O ex-presidente Donald Trump (2017-2021) diz que quando [se] ganhar a presidência outra vez, será um “autoritário” por um dia, deportará milhões de imigrantes sem documentos, imporá aliados leais em todos os níveis do governo, haverá vingança contra todos os que se atreveram a enfrentá-lo e regressará ao uso de execuções – incluindo talvez a forca ou a guilhotina – contra todo tipo de “criminosos”.

Steve Bannon, o estrategista político de Trump na Presidência, afirmou que o movimento de extrema-direita encabeçado pelo ex-presidente “poderia governar por cem anos”, segundo um novo livro de um jornalista do Washington Post.

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A deputada democrata Zoe Lofgren, uma das integrantes do comitê da câmara baixa dedicado a investigar a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 para anular as eleições, comentou ao Los Angeles Times na semana passada que Trump ameaçou perseguir, em particular, legisladores que se atreveram a investigá-lo: “Se tem a intenção de eliminar nosso sistema constitucional e começar a prender seus inimigos políticos, suponho que eu estaria nessa lista”.

Planos de fuga

Um casal comentou ao La Jornada esta semana que já elaborou um plano para fugir deste país, se Trump ganhar as eleições em novembro. “Obtivemos a qualidade de residência permanente no México e temos a intenção de mudar-nos para lá. Estamos levando a sério”, comentaram ao solicitar que não fossem identificados pelo nome.

Mais de uma dúzia de outros estadunidenses, que conversaram com o La Jornada nos últimos meses, já iniciaram o processo para obter dupla nacionalidade com países europeus ou no Canadá, para onde pensam fugir se Trump for eleito uma vez mais. 

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Outros rejeitam esse nível de preocupação e explicam que o ex-presidente sempre tem empregado retórica provocativa para manter-se de maneira constante nas primeiras páginas, televisão e outros meios de comunicação, e asseguram que muitas de suas propostas não são viáveisPor exemplo, assinalam que o governo não tem capacidade para realizar deportações massivas de indocumentados, ameaça frequente do candidato presidencial republicano, entre outras coisas.

Aprenderam com os erros

Mas Trump e seus aliados têm reiterado que aprenderam com os erros de seu primeiro mandato e agora, em preparação para seu retorno à presidência, têm uma rede de organizações civis que estão elaborando planos detalhados para assegurar que Trump conte com o pessoal capacitado, as políticas e os programas para assegurar a implementação de suas ambiciosas promessas de campanha.

Mais de 100 organizações têm somado esforços para arrecadar cerca de 2 bilhões de dólares para desenvolver a estratégia de uma transformação da extrema-direita em um governo encabeçado por Trump, reportou o colunista Thomas B. Edsall do New York Times.

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“Não é suficiente que os conservadores ganhem eleições. Se vamos resgatar o país do controle da esquerda radical, necessitamos tanto de uma agenda de governo quanto das pessoas corretas prontas para levar a cabo esta agenda no primeiro dia da próxima administração conservadora”, escreve a Heritage Foundation, uma das instituições conservadoras de análise e elaboração de propostas políticas mais influentes de Washington. A Heritage já elaborou propostas detalhadas, inclusive para os primeiros 180 dias do novo governo, e identificou as pessoas para postos-chave, tudo o que goza do endosso de outras 100 organizações conservadoras.

Mudanças judiciais

Junto com isso, uma rede de organizações especializadas em direito já está fazendo preparativos para continuar com a transformação direitista do ramo judicial do país, esforço encabeçado por Leonard Leo, co-presidente da poderosa Federalist Society, que foi chave em conseguir transformar a Suprema Corte em um bastião conservador durante o primeiro mandato de Trump.

Um terceiro elemento dessa constelação de organizações e forças conservadoras é uma rede de ex-assessores do presidente, incluindo seu ex-chefe de gabinete Mark Meadows e seu estrategista anti-imigrantes Stephen Miller, os quais estão desenvolvendo políticas para implementar uma agenda de extrema-direita.

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Por exemplo, Miller assinalou que, para deportar milhões de imigrantes, Trump conformará uma “força gigante”, incluindo tropas da Guarda Nacional, para capturar migrantes indocumentados, transportá-los a acampamentos no Texas e daí deportá-los. Perguntado sobre quantos seriam expulsos do país, Miller respondeu: “um cálculo muito conservador, diria uns 10 milhões”.

Desmentidos

Embora a campanha de Trump tenha declarado que estas propostas e agrupações não representam necessariamente as posições do ex-presidente e candidato, os planos estão provocando alarme entre especialistas.

“Estes são planos detalhados para tomar controle pleno de vários departamentos e agências federais desde o início de um governo de Trump e empregar todo o poder disponível para implementar regulamentos e planos de ação etno-nacionalistas radicais”, comentou Theda Skocpol, professora reconhecida de governo e sociologia na Universidade de Harvard, ao colunista Edsall.

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Acrescentou que estes planos são nada menos que “um preparativo para uma tomada de poder autoritário, apoiado pelo controle que Trump e os trumpistas agora têm sobre o Partido Republicano e seus aparatos”.

Represálias

Trump tem dito que empregará o FBI e o Departamento de Justiça contra seus rivais em represália por se atreverem a persegui-lo penalmente. Em outros foros, o candidato republicano tem dito que “sacará os comunistas, marxistas, fascistas e outros bandidos de esquerda radical que vivem como parasitas dentro dos confins de nosso país”.

Persiste um debate sobre se Trump tem a intenção de fazer tudo isto de verdade, ou até que grau fala sério. Vários ex-integrantes de seu gabinete – que falam de solicitações alarmantes, incluindo perseguição de adversários por agências do governo, repressão militar contra manifestantes e até ataques com mísseis contra o México, entre outras – indicaram que é capaz de todo tipo de ordens pouco tradicionais.

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Tudo isto é o que está levando alguns a contemplar fugir do seu país. Um dos que está nutrindo este temor é o próprio presidente Joe Biden, cuja estratégia eleitoral em grande parte gira em torno de gerar um voto anti-Trump em seu favor para sua reeleição.

“Acredito que os prognósticos de que Trump destruirá a democracia estão equivocados”, comentou outra analista em Washington ao La Jornada. “Mas, na verdade, não tenho certeza e não saberemos até que ele seja eleito. E, então, já poderia ser tarde demais”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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