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Fracasso de Macri e acerto político de Cristina explicam vitória de Fernández, diz sociólogo

Candidato derrotado à reeleição fez com que direitos dos pobres parecessem privilégios e privilégios fossem considerados direitos, explica Atilio Borón
Vanessa Martina-Silva
Diálogos do Sul Global
Buenos Aires

Tradução:

“Antes de tudo, é preciso levar em conta o monumental fracasso econômico do projeto neoliberal de Mauricio Macri, isso para não dizer que o projeto tinha como objetivo principalmente enriquecer os setores mais ricos e privilegiados da sociedade argentina”, avalia Atilio Borón, sociólogo, politólogo e escritor argentino, considerado um dos maiores intelectuais latino-americano da atualidade. 

Neste domingo (27), a Frente de Todos, coalizão que congregou 20 partidos e movimentos sociais elegeu como presidente Alberto Fernández e como sua vice a ex-mandatária Cristina Kirchner. A chapa vencedora obteve 48,10% dos votos contra 40,37% obtidos pelo atual presidente, Mauricio Macri. Pela lei eleitoral argentina, para vencer no primeiro turno é necessário obter mais de 45% dos votos.

A vitória se deu após quatro anos de perseguição judicial contra Cristina, que tem contra si 13 processos judiciais por denúncias de corrupção, e em meio a um processo de demonização de seu legado, tal como ocorre no Brasil com o PT e os ex-presidentes Lula e Dilma

Candidato derrotado à reeleição fez com que direitos dos pobres parecessem privilégios e privilégios fossem considerados direitos, explica Atilio Borón

Reprodução Facebook
Para Borón, Macri implementou no país modelo neoliberal que converte direitos dos trabalhadores “em privilégios que devem ser erradicados"

Diante deste cenário, Borón explica que o atual mandatário e ex-candidato à reeleição, Maurício Macri, foi o maior cabo eleitoral que a Frente de Todos poderia ter. 

Isso porque ele implementou no país um modelo neoliberal, que converte os direitos dos trabalhadores “em privilégios que devem ser erradicados”, enquanto para os ricos os privilégios são direitos, explica Borón, para quem o governo Macri foi a síntese desse modelo.

“Ele fez uma política econômica baseada no saque da riqueza do país, sua transferência para os setores de maior renda, um verdadeiro caso de capitalismo de amigos e, ao mesmo tempo [fez] encarecer e dificultou muito as condições de vida da população”.

Além da deterioração social verificada com o aumento da pobreza, do desemprego, na queda do nível de vida da população de forma geral, que ajudaram o retorno do chamado kirchnerismo, Atílio menciona a “estratégia muito inteligente” utilizada por Cristina que saiu como vice, deixando que “Fernández se encarregasse de unificar o peronismo”. 

Borón pondera que o peronismo, que é um movimento que abarca desde a esquerda até setores fascistas. Com Fernández, localizado na centro-esquerda desta força política, hoje há uma correlação de forças favorável às classes menos favorecidas e que foram tiradas da extrema pobreza durante os governos de Néstor (2003 – 2007) e Cristina Kirchner (2007-2015), explica. 

Veja a íntegra da primeira parte da entrevista com Borón:

*Vanessa Martina Silva é editora da Diálogos do Sul e integra o  Coletivo de Comunicação Colaborativa ComunicaSul, que está cobrindo as eleições na Bolívia, Argentina e Uruguai com o apoio das seguintes entidades: Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; Hora do Povo; Diálogos do Sul; SaibaMais; 6 três comunicação; Jaya Dharma Audiovisual; Fundação Perseu; Abramo; Fundação Mauricio Grabois; CTB; CUT; Adurn-Sindicato; Apeoesp; Contee; CNTE; Sinasefe-Natal; Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região; Sindsep-SP e Sinpro MG. 

A reprodução é livre, desde que citados os apoios e o autor.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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