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“Anarquistas” e “doentes”: Trump volta a defender repressão violenta contra ativistas

Inexplicavelmente o presidente dos EUA retomou a defesa de uma droga desacreditada por suas próprias autoridades sanitárias: a hidroxicloroquina
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O presidente dos EUA Donald Trump, junto com seu promotor geral, defendeu sua violenta repressão contra ativistas que ele chama de “anarquistas” e “doentes”.

Trump desobedeceu uma decisão da Suprema Corte freando seus esforços contra os “dreamers”, e continuou mentindo sobre seu manejo da pandemia nos Estados Unidos, tudo em função de sua estratégia eleitoral para resgatar sua campanha – e perguntou por que “ninguém” gosta dele.

O promotor geral, William Barr, apresentou-se nesta terça-feira diante do Comitê Judicial da Câmara de Representantes pela primeira vez  em quase um  ano, onde defendeu o emprego de forças federais em cidades como Portland. Afirmou que “o que toma lugar a cada noite em volta do tribunal (um edifício federal) não pode ser razoavelmente chamado de protesto. É, em qualquer avaliação objetiva, um assalto ao governo dos Estados Unidos”. Em outro momento, acusou que “amotinados violentos e anarquistas têm sequestrado os protestos legítimos para gerar desordem sem sentido e destruição contra vítimas inocentes”.

“O senhor está projetando temor e violência no nível nacional em promoção de objetivos políticos óbvios. Deveria dar-lhe vergonha, senhor Barr”, declarou o democrata Jerrold Nadler, presidente do comitê.

Barr estava repetindo a mensagem insistente de Trump, que reiterou por tuíte segunda-feira à noite, que os manifestantes em Portland e outros lugares “são anarquistas e agitadores doentes e transtornados… que destruirão nossas grandes cidades estadunidenses”, caso a eleição seja ganha pelo seu opositor, o candidato democrata e ex-vice-presidente Joe Biden, ao qual acusa de ser “um títere da esquerda”. Prognosticou que se isso acontecer “se derrubarão os mercados e se incendiarão as cidades. Nosso país sofreria como nunca antes”.

Inexplicavelmente o presidente dos EUA retomou a defesa de uma droga desacreditada por suas próprias autoridades sanitárias:  a hidroxicloroquina

Foto: Drew Angerer
Donald Trump y Willian Barr

Pandemia

Mais tarde, em suas renovadas entrevistas coletivas diárias sobre seu manejo da Covid-19, Trump proclamou falsamente que grande parte do país estava “livre do corona” apesar de que pelo menos 21 estados se encontram na categoria “vermelha” na qual se recomendam maiores restrições e que já foram superadas as 150 mil mortes. 

Repetiu que a pandemia, “o vírus chinês”, é culpa da China que permitiu que “saísse” para o mundo, e inexplicavelmente retomou a defesa de uma droga desacreditada por suas próprias autoridades sanitárias:  a hidroxicloroquina.

Pareceu confessar que estava com ciúmes do doutor Anthony Fauci, o especialista em doenças infecciosas mais importante do governo, lamentando que gozasse de uma maior aprovação do público do que o presidente. Queixou-se de que Fauci e outros funcionários de saúde pública são muito admirados “mas ninguém gosta de mim… Só pode ser pela minha personalidade”.  

Mas, ainda em sua entrevista coletiva dedicada à pandemia, Trump não deixou de fora os manifestantes ao afirmar, sem nenhuma evidência, que seu governo está observando um crescente contágio de Covid-19 em Portland “por causa do que está acontecendo por lá”, ao se referir aos protestos, explicando que os manifestantes são “nada menos que anarquistas e agitadores”. 

Imigrantes

Por outro lado, desafiando uma decisão da Suprema Corte, o governo de Trump anunciou que procederá com seu objetivo de desmantelar o programa de legalização temporária (DACA) para imigrantes que chegaram como menores de idade, conhecidos como Dreamers. Segundo um novo memorando de Carr, o governo procederá a eliminação do DACA em fases, primeiro bloqueando novas solicitações (afetando em torno de 300 mil pessoas), e oferecendo só uma extensão por um ano, em lugar dos dois de costume, dos prazos para os beneficiados que já estão no país. Com isso, indicam críticos, colocarão potencialmente um milhão de imigrantes em risco de deportação. 

Tudo é eleitoral

Com estas imagens de “caos urbano” em cidades com governos locais democratas (as quais figuram de maneira proeminente na publicidade eleitoral do presidente), junto com a constante ofensiva anti-imigrantes, e com sua tentativa de redefinir a batalha contra a Covid-19 de seu governo como um grande êxito que culminará com o desenvolvimento de uma vacina este ano, está todo desenhado e calculado somente em torno da pugna eleitoral. 

Diante disso, um coro cada vez mais amplo de vozes – entre elas o do veterano senador democrata do Oregon, Ron Wyden, a do procurador estatal de Wisconsin, Josh Kaul, do promotor da cidade da Filadélfia, Larry Krasner e de numerosos comentaristas- segue denunciando o que consideram como medidas “fascistas”.

Kaul disse recentemente, em resposta a notícias do possível envio de forças federais ao seu estado, que com a demonização de imigrantes, os ataques contra comunidades minoritárias, o uso da força contra manifestantes tanto em frente à Casa Branca como em Portland, “fomos testemunhas de um presidente empregando táticas fascistas”. Agregou que “não uso a frase ‘táticas fascistas’ de maneira ligeira, mas não há outra maneira mais precisa de descrever o repetido uso e incitação do racismo, da xenofobia e da violência”. 

Esse coro espera que um voto em massa expulse o presidente da Casa Branca nas eleições programadas para 3 de novembro – dentro de 98 dias. Nas pesquisas nacionais, Biden tem mantido, durante várias semanas, uma ampla vantagem – na média das sondagens nacionais essa margem está entre 9 e 10 pontos, segundo cálculos de RealClearPolitics.

De fato, se reporta que os Republicanos estão cada vez mais preocupados não só em perder seu poder na Casa Branca, mas também no Senado, com estados onde têm ganhado de maneira quase automática, de repente em jogo. 

No entanto, vale sublinhar que por ora a contenda não depende do voto pró Biden, mas sim do voto anti-Trump. Biden, para fortalecer sua candidatura – que não gera grande entusiasmo – dependerá em grande medida de quem selecionar, entre as mais de uma dúzia que está considerando, como sua companheira de chapa (já havia declarado que seria uma mulher). Nesta terça-feira informou que anunciará sua decisão na próxima semana. 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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