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Trump e Biden utilizam AMLO, Fidel e Chávez na busca do voto do eleitorado latino

Em meio a pandemia, os milhões de imigrantes latino-americanos são agora peças centrais no tabuleiro do jogo eleitoral estadunidense e podem decidir eleição
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Os imigrantes latino-americanos e caribenhos, Andrés Manuel López Obrador, Fidel Castro e Hugo Chávez são participantes na eleição nacional estadunidense, todos parte de estratégias eleitorais e propaganda das campanhas presidenciais para conquistar o voto latino. 

Os latinos são o maior setor minoritário nesta próxima eleição – com uns 32 milhões de pessoas com direito a voto, um número sem precedentes, e com 13,3% de todos os votantes segundo Pew Research Center — e tanto o republicano Donald Trump como o democrata Joe Biden estão buscando ativamente como conseguir o voto de diversas correntes dentro desse universo.

Para Trump é fundamental manter os quase 30% do voto latino que conquistou na eleição de 2016. Para Biden e os democratas, a participação massiva desse setor será fundamental para seu triunfo, particularmente em alguns estados chaves. 

Em meio a pandemia, os milhões de imigrantes latino-americanos são agora peças centrais no tabuleiro do jogo eleitoral estadunidense e podem decidir eleição

Youtube | Reprodução
A disputa pelos votos dos migrantes latinos domina a campanha nos EUA

Trump latino

A campanha de reeleição de Trump está empregando Latinos for Trump e a conta de Twitter Equipo Trump para difundir sua mensagem.

O próximo ato de Latinos for Trump é “o Dia de Ação contra o Socialismo” em 13 de agosto. Por Equipo Trump, a conta oficial bilíngue da campanha, é difundida propaganda que uma e outra vez faz referência aos “socialistas” latino-americanos que supostamente apoiam Biden, ou que são mostrados como exemplo do que desejam os democratas para os Estados Unidos.

Usando uma frase de um discurso de Biden onde ele se identifica como “progressista”, a campanha de Trump montou um mosaico de líderes como Chávez, Fidel Castro e Bernie Sanders declarando-se “progressistas”, concluindo que isso equivale a “socialismo”.

Este tipo de propaganda está dedicado às bases cubana e venezuelana-estadunidense da Flórida, estado sempre importante no mapa eleitoral no qual Trump ganhou apenas por 11% em 2016. 

Quando o senador colombiano Gustavo Petro expressou seu apoio a Biden, de imediato o Equipo Trump difundiu que um líder “socialista” e “ex-integrante de um grupo terrorista” endossou Biden.

A campanha também atacou a deputada federal Karen Bass, que figurou entre as consideradas por Biden para ser sua companheira de chapa, ao descobrir que quando jovem visitou Cuba como parte de “uma organização comunista” – a Brigada Venceremos – e que ela uma vez se referiu a Fidel Castro como “comandante em chefe”.    

Para outros setores latinos, sobretudo os de origem mexicana, no sudoeste, a campanha está empregando imagens e uma declaração de López Obrador usando frases em que afirma que Trump tratou o México “com respeito” durante sua visita à Casa Branca no início de julho.

Trump e sua equipe usaram essas imagens no mesmo dia e a campanha, reportou Axios, está planejando investir milhões para a difusão desta mensagem..

Há também spots de rádio dirigidos à comunidade mexicana, entre eles um em que se acusa os democratas de estarem queimando igrejas e “até a virgencita”.

John Pence, sobrinho do vice-presidente Mike Pence, que diz ter descoberto os perigos do socialismo quando estudou na Argentina e ensinou inglês na Nicarágua, guia os esforços do Equipo Trump com mais de 20 assessores latinos, desde empresários a religiosos, reporta The New Yorker.

Atacam Biden e agora sua nova companheira de chapa, Kamala Harris, não só como parte da “esquerda radical” parecida aos socialistas latino-americanos, mas acusando que suas políticas são “anti-hispânicas”. 

Porém, a campanha de Trump não está esquecendo de sua mensagem anti-imigrantes que ocupou destacado papel na campanha que resultou em sua eleição em 2016, e esta semana um spot de propaganda cita Biden propondo outorgar cidadania a 11 milhões de imigrantes ilegais competindo por empregos estadunidenses… benefícios de saúde, Seguro Social e Medicare”. 

Biden e os latinos

Para a campanha de Biden, a retórica e as políticas anti-imigrantes de Trump são o enfoque de sua estratégia para obter o apoio dos latinos ao reafirmar a posição tradicional democrata de que os imigrantes são parte integral do mosaico e da história estadunidense.  

Biden tem prometido promover um reforma migratória desde seu primeiro dia como presidente, incluindo proteger de imediato os chamados “dreamers”.

A campanha também enfatizará que a agora candidata à vice-presidência Harris é filha de imigrantes (pai da Jamaica, mãe da Índia).

Mas a estratégia não se limita ao assunto migratório, mas aborda o desenvolvimento socioeconômico de um setor latino que agora é o mais impactado tanto pela pandemia como pela crise econômica que ela detonou e há alguns dias a campanha apresentou um plano detalhados sobre o tema.

No entanto, em alguns lugares, como na Flórida, os estrategistas de Biden estão buscando vencer Trump pela direita.

Muitos se surpreenderam que a campanha de Biden tenha recrutado o apoio de Ana Navarro. comentarista republicana influente da CNN e Telemundo aliada com os anticastristas de Miami, cuja família fugiu da revolução sandinista em 1979 e apoiou os contra, mas anti-Trump por sua mensagem anti-imigrantes e votou contra ele..  

Agora, a equipe de Biden espera que Navarro, como outro latinos republicanos desencantados com Trump, ajudem a elegê-lo. Mas para conseguir isso, pelo menos na Flórida, está empregando uma retórica que às vezes compete com a de Trump sobre quem seria mais efetivo em confrontar os governos de Venezuela e Cuba. 

Assim, os imigrantes latino-americanos anônimos, com personalidades latino-americanas como Castro, Chávez e López Obrador, entre outros, agora são peças do tabuleiro do jogo eleitoral estadunidense em inglês e espanhol. 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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