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Em documento, democratas pedem desculpas por papel dos EUA em golpe no Chile

É a primeira vez que se promove um mea culpa oficial por atos de intervenção estadunidense no país latino-americano
Jim Cason
La Jornada
Washington

Tradução:

Legisladores progressistas encabeçados pelo senador Bernie Sanders e pela deputada Alexandria Ocasio-Cortez apresentaram uma resolução do Congresso que oferece uma desculpa ao Chile pelo papel dos Estados Unidos em apoio ao golpe militar contra um governo democraticamente eleito nesse país há 50 anos.

É a primeira vez que se promove um mea culpa oficial por atos de intervenção estadunidense no Chile. De fato, ao marcar o 50º aniversário do golpe, o governo Joe Biden só se limitou a lamentar o sucedido no Chile, mas plenamente recusou reconhecer o papel de Washington e muito menos expressar seu remorso por isso

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Portanto, a promoção da resolução legislativa é a primeira tentativa de assumir responsabilidade e lamentar o papel estadunidense nesse capítulo trágico que interrompeu a história democrática do Chile. A resolução destaca os intentos estadunidenses para evitar, sabotar e finalmente derrocar o governo de Salvador Allende e apoiar a instalação de uma junta militar que assassinou, torturou e desapareceu com milhares de pessoas, citando prévias investigações do Senado e outras entidades e o que foi revelado pela desclassificação parcial de arquivos oficiais. 

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A resolução expressa “um profundo remorso pela contribuição dos Estados Unidos para desestabilizar as instituições políticas e processos constitucionais do Chile e pela assistência dos Estados Unidos na consolidação da ditadura militar repressora do general Pinochet”.   

Agrega que uma plena prestação de contas “requer… a divulgação e desclassificação de documentos estadunidenses” que ainda permanecem secretos com relação aos eventos prévios, durante e depois do golpe militar de meio século atrás.

É a primeira vez que se promove um mea culpa oficial por atos de intervenção estadunidense no país latino-americano

Foto: MNE Chile
Augusto Pinochet e Henry Kissinger em 1976

Verdade e reconciliação

A resolução também promete que os Estados Unidos participarão com o povo chileno “nos esforços de verdade e reconciliação e continuar o compromisso bilateral compartido para fortalecer as instituições democráticas governamentais confrontadas pelas ameaças atuais e sempre mutantes contra a democracia ao redor do mundo”. 

Além de Sanders e Ocasio-Cortez, a resolução também é copatrocinada pelos senadores Tim Kaine, Jeff Merkley e Chris Murphy e os deputados federais Joaquín Castro, Greg Casar, Nydia Velázquez e Jim Himes.

11’s de setembro: quando EUA vão reconhecer as consequências do seu intervencionismo?

“Deixe-me ser claro: temos que defender a democracia aqui nos Estados Unidos e mais além”, declarou Sanders. “E isso implica que também temos que reconhecer que os Estados Unidos nem sempre tem defendido a democracia no exterior e que, de fato, às vezes tem feito o oposto”. Afirmou que para estabelecer uma relação de confiança e respeito no hemisfério americano, se requer expressar o remorso “prestar contas plenas” pela participação estadunidense no golpe no Chile e seu legado.

Ocasio-Cortez, Castro e Casar sublinharam os mesmos pontos e destacaram a necessidade de transparência sobre o papel estadunidense para poder construir relações baseadas na confiança com a América Latina.

Aprovação pendente

Cópia da resolução, que está agora na espera de um voto de aprovação em ambas as câmaras do Congresso, será apresentado pelo deputado Jamie Raskin ao presidente Gabriel Boric em Washington na sábado durante a cerimônia anual de comemoração do assassinato em Washington do ex-embaixador chileno Orlando Letelier e sua assistente estadunidense Ronni Karpen Moffitt -os quais trabalhavam no Institute for Policy Studies (IPS)- por agentes da ditadura chilena em 1976.

“Uma maioria de estadunidenses se esqueceu que o governo estadunidense apoiou um reinado de terror no Chile depois que minou o governo democraticamente eleito de Salvador Allende… o que levou a uma onda de governos autoritários na região”, assinala John Cavanagh de IPS em entrevista à La Jornada. De fato, indica que algumas das forças autoritárias que estão avançando hoje na América Latina têm relação direta com forças anti-democráticas que gozaram do apoio estadunidense no passado. Em parte por isso “é crítico que reconhecer e pedir perdão pelo papel estadunidense para poder prosseguir defendendo as democracias em todas as partes”. 

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“IPS tem um interesse especial no assunto, já que dois de nossos colegas foram assassinados por agentes do regime chileno há 47 anos”, explicou Cavanagh. “Isso o marcamos a cada ano como parte de nosso compromisso conjunto de trabalhar pela democracia tanto no Chile como nos Estados Unidos”. Agregou que “IPS continua acreditando que a melhor salvaguarda da democracia são movimentos sociais fortes que cruzam fronteiras e que são vitais para obrigar que até os melhores líderes democráticos como o presidente Boric tenham que prestar contas”. 

Cavanagh enfatizou que estes esforços conjuntos entre os Estados Unidos e o Chile são a continuação de toda uma história de cooperação popular e solidariedade internacional que agora está sendo transmitida às novas gerações e que é mais necessária do que nunca diante das ameaças das forças autoritárias em todos os lugares.

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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