Três vezes a área de Salvador (BA), 11 vezes a área de Lisboa, capital de Portugal, ou 95 mil campos de futebol. Esse foi o crescimento da área das favelas brasileiras nos últimos 36 anos, conforme levantamento divulgado esta semana pelo projeto MapBiomas Brasil.
O mapeamento, que compreende dados de 1985 a 2020, mostra ainda que as áreas urbanas dobraram: de 2,1 milhões de hectares para 4,1 milhões. O ritmo de crescimento anual (1,95%) é superior ao da população brasileira (1,45%).
Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do mapeamento, Julio Cesar Pedrassoli explica que os dados sobre o crescimento das favelas foram obtidos a partir do cruzamento de imagens de satélites com informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), tem cerca de 120 mil habitantes e é a maior favela do país
A urbanização avança principalmente sobre os biomas Amazônia (2,55% ao ano), Caatinga (2,53%) e Cerrado (2,08%). A Mata Atlântica registrou crescimento menor (1,65%), mas continua liderando em números absolutos, com 33 das 50 maiores áreas urbanizadas do país. A média nacional foi de 1,95% ao ano.
No final da década de 1980, esse ritmo chegou a quase 4% ao ano, e hoje é inferior a 1%.
“Essa média de crescimento vai se estabilizando, mas em alguns lugares ainda é acelerado. Por exemplo, no Norte e no Nordeste, que têm ritmo de urbanização maior do que as áreas mais consolidadas do Sul e do Sudeste”, explica Pedrassoli, em entrevista ao Brasil de Fato.
“No caso das capitais, onde estão as cidades maiores, o crescimento da população é maior que o da área urbana. Ou seja, existe uma densificação, uma expansão mais verticalizada, com saturação de área. Cidades médias e cidades pequenas se expandiram horizontalmente”, acrescenta, traçando uma hipótese a partir do dado levantado.
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Em detalhe
Das áreas urbanizadas em 2020, cerca de um terço (34%) eram áreas de pastagens e áreas de uso misto de agricultura e pastagem em 1985. Na região Norte, no entanto, 32% do avanço se deu sobre vegetação nativa – quase três vezes a média nacional.
O Cerrado, que detém um quinto das áreas urbanizadas do país, foi o bioma que mais perdeu vegetação nativa para a expansão urbana nos últimos 36 anos: cerca de 127 mil hectares, de um total de 388 mil hectares perdidos no país.
“Na região Centro-Oeste, pastagem e agropecuária tomaram conta. O crescimento urbano nessas áreas não é tão expressivo”, observa Pedrassoli.
“As áreas urbanizadas do Brasil são 0,5% do território brasileiro. Parece pouco, mas o Brasil é que é muito grande. E o uso agrícola é gigantesco.”
Quase 4,7% da expansão de áreas urbanizadas no período analisado tem características de informalidade, que crescem em períodos de retração do Produto Interno Bruto (PIB), segundo os pesquisadores.
Nos estados da Amazônia, a proporção máxima é quase dez vezes maior: 45% do crescimento urbano no Amazonas foi em áreas informais.
Manaus (AM), Belém (PA) e Salvador (BA) lideram o ranking de crescimento informal entre as capitais.
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