Delegações técnicas da Rússia e da Ucrânia, com a mediação dos Estados Unidos, tentavam nesta segunda-feira (24), na Arábia Saudita, superar objeções e dúvidas de ambas as partes para iniciar a trégua nos ataques contra a infraestrutura energética do inimigo e estendê-la à navegação no mar Negro. Porém, tudo indica que a reunião entre ucranianos e estadunidenses no domingo (23) se concentrou em outros temas de especial interesse para Washington, como o acordo sobre terras raras, e para Kiev, a ajuda militar e financeira.
Pelo menos, de acordo com os despachos das agências de notícias internacionais, na manhã de segunda, ao sair de uma reunião de seu gabinete na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu como certo que “em breve” será assinado o acordo sobre terras raras com a Ucrânia.
“Na verdade, o [secretário do Tesouro dos Estados Unidos] Scott [Bessent] me disse que o acordo sobre metais raros com a Ucrânia está quase pronto. Logo será assinado”, declarou Trump, segundo a agência oficial russa Tass. Já a britânica Reuters acrescentou que o magnata republicano “espera que em breve seja fechado um acordo entre Estados Unidos e Ucrânia sobre a distribuição dos lucros da extração de terras raras” no país europeu.
Segundo Trump, além da trégua energética, também estão sendo negociadas, na Arábia Saudita, “a questão territorial”, possíveis “linhas de separação” e o controle estadunidense sobre uma “grande central atômica” ucraniana, sugerindo que se trata da usina de Zaporíjia, atualmente sob domínio russo. Esse movimento faria parte de um outro entendimento que Trump gostaria de alcançar: permitir que consórcios estadunidenses adquiram ou, ao menos, administrem o sistema energético da Ucrânia.
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Nas reuniões bilaterais entre Ucrânia e Estados Unidos – uma no domingo, que durou seis horas, e outra na segunda, após o encontro com os russos – há apenas a confirmação da participação do ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, e do coronel Pavel Palis, subchefe da Presidência ucraniana.
Não se sabe se, afinal, compareceram o secretário de Estado, Marco Rubio, e o conselheiro de segurança nacional, Mike Waltz, como havia antecipado Steve Witkoff, enviado de Trump que, há poucos dias, viajou à Rússia para conversar com o presidente Vladimir Putin. O governo ucraniano não quis confirmar nem desmentir essa informação, e tampouco foram divulgadas fotos da reunião realizada no hotel Ritz-Carlton, em Riad.
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Em contraste, o nível dos representantes russos e estadunidenses que iniciaram as discussões sobre a trégua energética e a navegação no mar Negro não parece o mais adequado para resolver os temas mencionados por Trump.
Os Estados Unidos estiveram representados por Andrew Peek, funcionário do Conselho de Segurança Nacional, e Michael Anton, diretor de planejamento de políticas. Já os russos enviaram o senador Grigori Karasin, presidente do Comitê de Política Externa da Câmara Alta, e o general Serguei Beseda, assessor do diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo), ambos considerados “especialistas em Ucrânia”.
Ainda não se sabe o que foi acordado – ou o que não se conseguiu acordar – após mais de 12 horas de intensas negociações. No entanto, rumores apontam que uma declaração conjunta russo-estadunidense será divulgada em breve, pois as equipes seguem “trabalhando” no texto. Na Arábia Saudita, as conversas se estenderam até quase meia-noite.

Ataques da Ucrânia à Rússia
Enquanto isso, ainda na manhã de segunda, antes mesmo do início da reunião com os estadunidenses, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou que a Ucrânia lançou um drone contra a estação de bombeamento de petróleo Kropotkinskaya, pertencente ao Consórcio do Oleoduto do Cáspio, na região russa de Krasnodar.
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O comunicado militar informou que, na madrugada, “os sistemas de defesa antiaérea [russos] derrubaram uma aeronave não tripulada a sete quilômetros da infraestrutura energética internacional (o oleoduto que liga Tengiz, no Cazaquistão, ao porto russo de Novorossisk, no mar Negro), e seus fragmentos caíram na área da estação ferroviária Kavkazkaya”.
As forças militares russas também denunciaram que, no sábado (22), a Ucrânia atacou um campo de gás na Crimeia, e no domingo, uma estação de bombeamento de Valuika, na região de Belgorod. “Apesar de Zelensky ter declarado que aceitava a trégua energética proposta pelos Estados Unidos, seu governo continua atacando a infraestrutura energética russa – incluindo instalações internacionais – com drones e mísseis Himars fornecidos pelos Estados Unidos”, acusou o comunicado russo.
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Segundo Moscou, isso “demonstra que é impossível chegar a acordos com o regime de Kiev”.
A Ucrânia não nega os ataques. O próprio Zelensky esclareceu que tanto seu governo quanto o da Rússia consideram necessário esclarecer detalhes importantes da trégua energética de 30 dias e garantiu que declarará oficialmente o início do cessar-fogo assim que as delegações na Arábia Saudita chegarem a um consenso.
Segundo informações vazadas à imprensa ucraniana, Umerov e Palis levaram à reunião a proposta de ampliar a trégua para além das instalações energéticas, incluindo todas as infraestruturas civis, com uma lista detalhada de fábricas, hospitais e outros alvos que deveriam ser protegidos.
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