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Enrolado e enrolando, Lula lança Haddad à presidência e incendeia cenário político

Para alguns, o PT colocou o carro adiante dos bois, sem discussão com os demais parceiros que poderiam, ou deveriam compor uma frente em 2022
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o ex-ministro da Educação Fernando Haddad para ir à luta  caso ele siga impedido de concorrer à Presidência da República em 2022. Foi como uma faísca num palheiro. Incendiou o cenário político.

De um lado, dirigentes de alguns partidos manifestaram surpresa diante da extemporaneidade do fato político. Bobagem. Sempre é tempo para o combate político e candidaturas se constroem.

Para alguns, o PT colocou o carro adiante dos bois, sem discussão com os demais parceiros que poderiam, ou deveriam, compor uma frente em 2022. Outros questionam se o que vai valer é um nome ou um programa para compor uma frente de esquerda para disputar a eleição.

Flávio Dino, do PCdoB, e governador do Maranhão, e Guilherme Boulos, presidenciável do Psol, coincidem em defender a legitimidade de qualquer partido lançar candidatos e cobram qual será o programa e a aliança para derrotar Bolsonaro.

João Doria, governador de São Paulo e candidato do PSDB à Presidência, comenta que a decisão do PT e a vitória de Bolsonaro na eleição para as mesas da Câmara e do Senado anteciparam o debate eleitoral de 2022 o que força o PSDB a se posicionar de maneira clara e contundente.

De outro lado, dirigentes do PT dizendo que não foi bem assim, que o propósito é colocar o bloco na rua para travar o bom combate, que a prioridade é mobilizar o povo na rua e lá na frente discutir o nome. 

A presidenta da sigla, Gleisi Hoffmann, fez um pronunciamento tentando colocar panos quentes sobre a ferida, mas o que valeu foi a entrevista que Haddad deu à noite à CNN. Confirmou que aceitou ser candidato caso Lula seja novamente impedido de concorrer. Antes, arrematou, vamos discutir economia e saúde que são os problemas mais graves a resolver.

Como disse uma amiga querida, o PT sequer faz ainda um balanço público de seus imensos acertos, seus enganos políticos e uma análise clara de seu alijamento do poder. Tampouco tem um projeto claro para vencer o Bolsonaro e a rejeição criada anti PT.

São vozes de militantes. Outro amigo, mais radical, está se desfiliando: Chega!

Para alguns, o PT colocou o carro adiante dos bois, sem discussão com os demais parceiros que poderiam, ou deveriam compor uma frente em 2022

Pt.org
Haddad e Lula

Reinvenção e luta

O momento é de reinvenção e luta. Estamos com dois anos pela frente, é tempo de reconstruir os partidos, desenvolver intenso trabalho de massa, organizar o povo para os embates que virão. Claro que isso se faz melhor tendo um candidato e um programa mínimo para ser colocado. Construir candidaturas, por que não? O PDT vem fazendo isso com legitimidade há mais de um ano. Ciro Gomes até publicou em livro o seu programa.

Com relação a isso, só tenho a observar a falta de percepção de que estamos em guerra. Não se trata de um processo eleitoral estrito censo, mas sim de uma Operação de Guerra e a esquerda não está preparada para isso.

Com relação ao lançamento da candidatura do Haddad, o que me chamou a atenção, a bem da verdade, me deixou indignado, foi Lula dizer que pode estar impedido de concorrer.

Lula candidato é o correto.

Está aceitando o veredito do Moro? Lula foi vítima de um complô que envolveu legislativo, judiciário, e forças armadas, vai se entregar ou vai lutar?

Pelo amor aos nossos deuses! Lula, saia da defensiva e assuma o protagonismo que se espera do líder que você é.

A sua eleição em 2018 foi roubada. Já não há dúvida sobre a fraude eleitoral.

Assuma que você continua candidato em quaisquer circunstâncias, e saia pelo Brasil e pelo mundo a denunciar a ditadura de um governo espúrio, ilegítimo, e a pedir apoio à sua candidatura. Vai ser aplaudido em cada aeroporto que desembarcar. Tem que continuar lutando para que se faça Justiça.

A Justiça não é justa? A luta é justa e é o que importa.

O líder tem que ser proativo. Sair na frente e se manter na frente, na ofensiva.

Enfrentar o antilulismo e o antipetismo de peito aberto, provocando a mídia e os demais partidos com propostas programáticas, identificando o inimigo. Aliás, Lula já identificou o inimigo. Tem que levantar a cabeça e sair pelo mundo e pelo Brasil denunciando a ingerência dos Estados Unidos e que por isso mesmo é candidato.

Candidato para recuperar a independência e a soberania do país.

Está claro para todos que Lula foi “o cara” mais investigado em toda essa Operação Lava Jato. Não só ele pessoalmente, mas toda sua família. Perscrutaram tudo e encontraram nada.

Ao contrário, a cada dia se somam provas de que os investigadores estavam agindo por dinheiro e em conluio com uma potência estrangeira. Não há como ignorar o conluio comprovado na troca de mensagens entre juízes e procuradores. Conluio que envolve inclusive a família Marinho e a Rede Globo.

Juristas estão se movendo para que os procuradores que cometeram crime sejam demitidos sumariamente. Jeferson Miola, coordenador do 5º Fórum Social Mundial, acrescenta que a Lava Jata é o maior esquema de corrupção do mundo. Não se conhece precedente histórico de processo sistemático e sistêmico de corrupção do sistema de Justiça de um país como o promovido pela Lava Jato na perseguição a Lula e ao PT. Recomendo que vejam também o documentário do Luis Nassif sobre a Lava Jato.

Tampouco se pode aceitar o argumento de ilicitude na obtenção dos diálogos entre os operadores. O ilícito foi a Operação, desde seu início, conduzida com objetivo explícito de evitar a candidatura petista e em conivência com Estados Unidos. São agentes públicos, obrigados a agir com correção.

Como se trata de uma Operação de Guerra, o país é vítima de uma agressão por uma potência estrangeira. Mais que ilícita, é crime de traição à pátria. Justifica tratar como herói qualquer cidadão que revele um crime de traição à pátria.
Saia da defensiva, Lula!

Estar na ofensiva é ser candidato. Não é correto colocar o Haddad para fazer o que cabe a você fazer, presidente.

O que cabe ao seu partido, ao PT, é seguir o conselho do José Genoíno, retomar o trabalho de massa e preparar o povo para romper com a institucionalidade.

Ninguém em sã consciência pode ser contra Lula continuar candidato. É uma reparação à toda a nação que foi ludibriada, roubada, impedida de escolher entre os candidatos. Só mesmo ele não querendo, mas aí já é outra coisa.

Por isso, reiteramos que impeachment de Bolsonaro não resolve. O governo e as maldades continuam e vão achar falta das baboseiras diversionistas diárias. Temos que colocar bandeiras de luta que tenham sentido para mobilizar a Sociedade civil e a massa popular. A prioridade da hora é Vacina para Todos, Auxilio Emergencial para todos os necessitados e derrubar a junta militar que usurpou o poder.

Há elemento suficiente para exigir do Supremo a anulação da eleição de 2018. Precisam de muita coragem para isso, coragem que só pode vir do povo mobilizado.

Por isso reiteramos a necessidade de uma Frente de Salvação Nacional. Derrubar o governo, de forma que assuma um Comitê de Salvação Nacional que administre a crise sanitária e econômica e prepare a transição para novas eleições em que Lula possa disputar em igualdade de condições com os demais.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista e editor da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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