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Entidade denuncia Israel por possível roubo de órgãos palestinos e pede investigação

Euro-Med Human Rights Monitor ressalta que Estado sionista retém dezenas de corpos, muitos dos quais são devolvidos sem córneas e outros organismos
Redação El Salto
El Salto
Madri

Tradução:

* Atualizado em 30 de janeiro de 2024 às 18h45.

Uma comissão de investigação internacional e independente é o que pede a organização Euro-Med Human Rights Monitor, para revelar o que faz Israel com dezenas de corpos retidos. A entidade de direitos humanos, com sede em Genebra, afirma contar com documentação sobre o confisco de numerosos corpos no Hospital Al Shifa e no Hospital Indonésio, durante os ataques e invasão perpetrados contra ambos os complexos sanitários nas últimas semanas.

Os soldados israelenses também estariam retendo os corpos sem vida de deslocados palestinos assassinados quando fugiam para o Sul, pelo suposto corredor seguro, atacado múltiplas vezes por fogo israelense. O comitê Internacional da Cruz Vermelha é o encarregado de transportar os corpos palestinos para o Sul para que possam ser enterrados, depois de Israel entregá-los; no entanto, são muitos os que ainda permanecem em mãos das forças armadas deste país.

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Foi neste contexto que a Euro-Med Monitor manifestou sua preocupação com a possibilidade de que Israel esteja roubando órgãos das vítimas do genocídio. Para tanto baseia-se em informes de profissionais médicos que puderam examinar alguns corpos depois de entregues. Estes profissionais, argumenta a organização, teriam detectado o desaparecimento de cócleas e córneas, assim como de fígados, rins e corações.

Médicos do Al Shifa afirmaram que os indícios de subtração de órgãos foram numerosos; os médicos citados pela Euro-Med Rights, procedentes do Hospital Al Shifa, destacam que as autópsias forenses não bastam para determinar se os órgãos foram roubados, e lamentam que os bombardeios e intensos ataques, junto ao fluxo incessante de feridos, tenham impossibilitado levar a cabo análises integrais dos cadáveres; não obstante, os indícios de subtração de órgãos foram numerosos.

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A Euro-Med, em novembro de 2023, afirmou basear suas suspeitas nos seguintes precedentes: o estado israelense “já retem os restos de pelo menos 145 palestinos em suas morgues e uns 255 em seu ‘Cemitério de números’, próximo à fronteira com a Jordânia e inacessível ao público, assim como 75 pessoas desaparecidas que não foram identificadas por Israel”. A organização denunciou ainda que as Forças de Defesa israelenses armazenariam os corpos sem vida de palestinos abatidos em uma espécie de fossas comuns em zonas militares.

Euro-Med Human Rights Monitor ressalta que Estado sionista retém dezenas de corpos, muitos dos quais são devolvidos sem córneas e outros organismos

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Captura de vídeo do momento em que dezenas de palestinos são enterrados em uma vala comum em Khan Yunis




Dificuldades

Euro-Med Human Rights Monitor conta com um informe prévio em que denunciava que as autoridades israelenses não estariam mantendo os cadáveres de pessoas palestinas na temperatura adequada para fazer com que o cheiro incomodasse, dificultando ainda possíveis análises forenses. O grupo de direitos humanos, com presença em distintos países do Mediterrâneo, e uma sede nos Territórios Ocupados, vai mais além: indica que o Governo teria legalizado a retenção de corpos palestinos e o roubo de seus órgãos, referindo-se à sentença da Corte Suprema israelense de 2019 que permite às autoridades militares enterrar corpos temporariamente no citado “Cemitério de Números”. 

“Houve informes em anos recentes sobre o uso ilegal dos corpos palestinos retidos por Israel, incluindo o roubo de órgãos e seu uso em laboratórios de faculdades de medicina israelenses”.

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No mesmo sentido, já em 2021, o Parlamento israelense aprovou legislação que permitia a retenção de cadáveres palestinos por parte tanto do exército como da polícia. “Houve informes em anos recentes sobre o uso ilegal dos corpos palestinos retidos por Israel, incluindo o roubo de órgãos e seu uso em laboratórios de faculdades de medicina israelenses”, afirmam.

Neste sentido, recordam o livro Over Their Dead Bodies (Sobre seus cadáveres), em que a médica israelense Meira Weiss documentava como órgãos de corpos de palestinas e palestinos eram usados para pesquisa, ou transplantados para pacientes israelenses. A organização também mostra a admissão do antigo diretor do Instituto de Medicina Forense Abu Kabir em Israel, Yehuda Hess, de que teriam sido roubados tecidos e órgãos de palestinos mortos, sem o conhecimento de seus familiares. Por último, indicam uma investigação de 2008 realizada pela CNN, em que se mencionava Israel como um ponto central no mercado global de órgãos. 

Euro-Med Rights Monitor denuncia que Israel é o único país que retem os corpos daqueles que mata, violando o direito internacional, e especificamente a Quarta Convenção de Genebra que obriga as partes em conflito a proteger os corpos e proíbe sua mutilação.  A organização lembra que a não entrega dos corpos a suas famílias e impedir que sejam enterrados dignamente poderia constituir um castigo coletivo, contrário à legalidade internacional.

Redação El Salto
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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