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“Erradicar armas nucleares é um trabalho de todos", conclama sobrevivente de Hiroshima

Sadao Yamamoto, de 91 anos, exorta que tanto EUA e países do G7, quanto China e Rússia cooperem para o fim dessa ameaça global
Arturo Sánchez Jiménez
La Jornada
Hiroshima

Tradução:

Nesta segunda-feira, o relógio do Museu Memorial da Paz de Hiroshima aponta que passaram 28 mil 413 horas desde o primeiro bombardeiro nuclear da história e 613 desde o último ensaio nuclear no mundo. 

O desejo de Sadao Yamamoto, de 91 anos e sobrevivente do bombardeio atômico lançado por Estados Unidos sobre esta cidade em 6 de agosto de 1945, é que “depois de visitar nosso museu, que mostra a realidade do que passou quando explodiu a bomba atômica, Joe Biden e os líderes do G7 compreendam que nunca mais devem ser usadas armas nucleares”. 

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A 77 anos do expulsão de “Little Boy”, lançada pelo bombardeiro Enola Gay às 8:15 da manhã e que desatou um inferno que matou cerca de 70 mil nesse dia e outras 70 mil antes que terminasse aquele ano, para Yamamoto e outros hibakusha – como chamam localmente os sobreviventes dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki – resulta preocupante que o recrudescimento da ameaça nuclear com as maiores potências atômicas e do mundo enfrentadas pela guerra na Ucrânia.

A visita que o mandatário estadunidense e outros líderes do G7 realizaram ao memorial onde se recorda as vítimas de bombardeio nuclear, é importante, mas insuficiente, responde Yamamoto à La Jornada. “A erradicação das armas nucleares é um trabalho de todos e para que seja uma realidade a Rússia e a China devem cooperar”, afirma. 

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Yamamoto é um dos últimos sobreviventes que ainda podem narrar de viva voz o que sucedeu naquele dia. “Vimos que um avião sobrevoava a cidade, mas pensamos que era mais um voo de reconhecimento. De repente lançou a bomba e uma onda expansiva de ventos abrasivos consumiu tudo”, recorda. 

Yasuko Kondo, de 82 anos e que era uma menina de quatro quando Hiroshima foi bombardeada, narra em uma reunião com imprensa estrangeira que nas suas lembranças sobrevivem vívidas as imagens que viu naquele dia: pessoas com pele e carne queimadas que caiam aos pedaços, cadáveres desmembrados, incêndios, uma chuva negra que as pessoas bebiam sem saber que arrastavam resíduos radioativos. “Nunca mais deveria haver novos hibakushas como nós. As armas nucleares devem ser eliminadas”. E agrega que deseja que “a gente da Ucrânia e da Rússia possa viver em paz”. 

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“O mundo não deve esquecer a capacidade destrutiva destas armas, porque enquanto continuarem existindo, uma detonação poderia trazer a qualquer pessoa no mundo as mesmas consequências que viveu a gente de Hiroshima”, afirma Toshihiro Toya, subdiretor do Museu Memorial da Paz. 

O museu, que foi renovado em 2019, expõe a tragédia do ponto de vista das vítimas. “nós costumamos usar a expressão “hibakusha no jissō” (“a verdade das vítimas do bombardeio atômico”, ou seja, a verdade sobre o horror que se desenvolveu aquele dia sob o fungo atômico”.

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A mostra inclui fotografias tomadas nas ruas de Hiroshima poucos minutos depois da explosão, roupa de crianças que morreram por queimaduras, testemunhos de pais que viram morrer suas famílias, objetos de metal que se fundiram pelas temperaturas de até 4 mil graus centígrados que a bomba causa em um amplo raio. 

Yamamoto e Kondo narram que depois do bombardeio chegaram aos Estados Unidos, mas já não mais. “Tens que perdoar. Se não o fizeres, nunca terás paz. E o que necessitamos é paz para poder viver”, assegura a senhora Kondo. 

Sadao Yamamoto, de 91 anos, exorta que tanto EUA e países do G7, quanto China e Rússia cooperem para o fim dessa ameaça global

Bomba em Hiroshima matou cerca de 70 mil nesse dia e outras 70 mil antes que terminasse aquele ano

Biden faz promessas

A ofensiva diplomática do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, dominou a terceira e última jornada da cúpula do Grupo dos Sete (G7) celebrado nesta cidade, onde o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assegurou que o ucraniano lhe deu sua palavra de que não empregará os caças F-16 de fabricação estadunidense para atacar objetivos em território russo. 

Biden e Zelenski tiveram uma reunião bilateral à margem da cúpula, na que o bloco de potências impôs novas sanções contra a Rússia. “Estados Unidos continuam ajudando a Ucrânia a se defender, a responder e recuperar-se”, disse Biden no encontro com seu par europeu, no qual anunciou um novo pacote de ajuda, estimado em 375 milhões de dólares. 

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Vladimir Putin, presidente da Rússia, “não romperá nossa determinação de apoiar a Ucrânia”, sustentou Biden.  

Mais tarde, em uma entrevista coletiva, o mandatário estadunidense se referiu ao anunciar que fez este fim de semana de que seu país está disposto a treinar Pilatos ucranianos na operação dos caças F-16. “Tenho a garantia de Zelenski de que não os usará para ir adiante e mover-se contra a Rússia em seu território. Outra coisa é se as tropas russas entram em território da Ucrânia”, disse.

Relações EUA x China

Biden externou também que as relações entre Washington e Pequim deveriam começar a “descongelar-se em breve”. Depois de que Washington derrubou este ano um globo chinês, presumidamente espião.

Questionado sobre por que não está em funcionamento uma linha de comunicação direta prevista entre Estados Unidos e China, Biden expressou: “Tens razão, deveríamos ter uma linha direta aberta. Na conferência de Bali, é o que havíamos acordado com o presidente Xi e eu que íamos fazer e reunir-nos”. 

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“E então, esse estúpido globo que levava o equivalente a dois vagões de carga de material de espionagem sobrevoou os Estados Unidos”, agregou. “Foi derrubado e tudo mudou em termos de diálogo. Creio que vereis como isso começa a descongelar-se em breve”. 

Zelenski chegou de improviso à cúpula na tarde de sábado (20) à bordo de uma aeronave oficial da França para participar pessoalmente da cúpula, onde estava previsto que sua intervenção fosse virtual. Sentou-se à mesa com os integrantes do G7 e teve reuniões bilaterais com distintos mandatários, entre outros, com Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, com quem não se havia encontrado no que vai da guerra. 

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Buscou sustentar um encontro com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, outro dos convidados ao conclave, mas não conseguiu. O ucraniano afirmou em uma entrevista coletiva que a reunião não se concretizou por problemas de agenda, enquanto fontes consultadas disseram que Lula eludiu encontrar-se com ele. 

“O G7 reafirmou nosso compromisso de continuar nosso firme apoio à Ucrânia em qualquer aspecto”, disse o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, ao concluir a cúpula. Em uma entrevista coletiva, assegurou que “os esforços unilaterais por mudar o status quo não serão aceitos pelo G7”;

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No contexto da cúpula, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que é tempo de reformar o Conselho de Segurança, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. 

Questionado em uma conferência, o português declarou que estas instituições refletem as relações de poder de 1945 e que é indispensável uma mudança para pô-las em sintonia “com a realidade de hoje”.

Arturo Sánchez Jiménez | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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