Pesquisar
Pesquisar

Escândalo envolvendo senador dos EUA pode impactar sanções contra Cuba; entenda

Robert Menendez tem grande influência sobre o governo de Joe Biden e, junto de sua esposa, enfrenta acusação por corrupção
Jim Cason
La Jornada
Washington

Tradução:

O senador Robert Menendez, o democrata mais poderoso, encarregado de assuntos de política externa no Congresso, recusou-se nesta segunda-feira (25) a renunciar a seu posto no Congresso, reiterando sua inocência apesar de uma acusação criminal federal por corrupção contra ele e sua esposa, sendo que as provas incluem pacotes de dinheiro de centenas de milhares de dólares escondidos em roupas, caixas e closets por toda sua casa em Nova Jersey, além de lingotes de ouro diretamente vinculados a empresários que obtiveram favores políticos do deputado cubano-estadunidense.

O governador de Nova Jersey, Phil Murphy e quase toda a cúpula política democrata deste estado quase imediatamente apelaram à renúncia de seu colega, enquanto Menendez, seguindo regras da câmara alta, já teve que abandonar seu posto como presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado.  

Justiça dos EUA blinda farmacêutica bilionária acusada de alimentar epidemia de fentanil

Apesar da por ora espetacular queda do senador cubano-estadunidense, entre as primeiras dúvidas nos circuitos políticos é se o principal defensor democrata do bloqueio contra Cuba e outras políticas para promover uma mudança de regime na ilha poderia levar a uma guinada na política em relação a Havana.

“Não creio que mudará muito, sua equipe ainda permanece ali e o resto dos democratas continuam intimidados por ele (quanto à relação bilateral)” comentou uma assessora legislativa no Senado contatada por La Jornada.  

Continua após o banner

O senador cubano-estadunidense por Nova Jersey exerceu enorme influência sobre políticas estadunidenses relacionadas a Cuba e o hemisfério americano. Uma e outra vez, quando se interrogam funcionários do governo de Joe Biden sobre porque não foi anulada a inclusão de Cuba, por ordem do governo de Donald Trump, na lista oficial de países que patrocinam o “terrorismo”, ou restauradas as políticas de abertura com Cuba realizadas durante o governo de Barack Obama (quando Biden era o vice-presidente) a resposta repetida foi: pela oposição do senador democrata Menendez.

Robert Menendez tem grande influência sobre o governo de Joe Biden e, junto de sua esposa, enfrenta acusação por corrupção

Foto: Mark C. Olsen – New Jersey National Guard/Flickr
Robert Menendez reconheceu as acusações, mas insiste que é inocente

Espaço para mudanças

No entanto, outros acreditam que o escândalo de Menendez talvez abra um pouco a porta para uma mudança porque “dá ao governo de Biden mais espaço para fazer mudanças em sua política para Cuba, mas creio que é muito cedo até para especular”, comentou outro assessor legislativo contatado por La Jornada.

“Ainda que funcionários do Conselho de Segurança Nacional (da Casa Branca) e do Departamento de Estado tenham culpado privadamente o senador por limitar o que poderiam fazer, na prática demonstraram um mínimo interesse em restaurar muitas das modestas aberturas obtidas no governo de Obama, e nenhum interesse em abordar os fundamentos do embargo”, comentou Fulton Armstrong, que foi Oficial de Inteligência Nacional para a América Latina durante o governo de George W.Bush e ex assessor do Comitê de Relações Exteriores.  Em entrevista a La Jornada, Armstrong acrescentou que “se Menendez permanecer no Senado, estes funcionários continuarão subordinados a ele assim como outros senadores da câmara alta e baixa do Congresso sobre estes temas”.

Nos EUA, debate de políticas contra Fentanil é regado a ataques contra México, China e Biden

No passado, Menendez criticou algumas ações do governo de Andrés Manuel López Obrador, por exemplo emitindo uma declaração em fevereiro deste ano em que afirma: “repudiamos as repetidas tentativas do Presidente López Obrador de sabotar as instituições democráticas do México”.

Continua após o banner

Também questionou o compromisso do governo vizinho de abordar a crise do fentanil. Mas ao mesmo tempo, Menendez foi uma voz clara contra as propostas de alguns de seus colegas republicanos de empregar forças militares estadunidenses contra o México e foi co-patrocinador do projeto de lei mais ambicioso dos últimos 4 anos para uma reforma migratória integral que incluía uma via de legalização de 11 milhões de indocumentados, em sua maioria mexicanos.

Acusações

As acusações criminais contra Menendez, que conseguiu escapar de outro processo judicial também por corrupção há cinco anos, mostram como o senador utilizou seus postos de liderança para autorizar a venda de armas para a ditadura militar no Egito, proteger empresários em Nova Jersey e pressionar promotores para limitarem-se ao tocar processos legais contra algumas de suas amizades.  

Em 2018, segundo a acusação federal, depois que o senador conseguiu a aprovação de uma venda de armas de 100 milhões de dólares ao regime do Egito, enviou uma mensagem de texto a sua então noiva (que pouco depois seria sua esposa) para pedir-lhe que informasse seu amigo, o empresário egípcio-estadunidense Wale Hana, do fato. Hana, ao receber a mensagem, enviou textos a dois funcionários egípcios para transmitir-lhes as boas notícias.

Continua após o banner

Menendez se tornaria um poderoso promotor da ditadura militar no Egito, e também do negócio de Hana que se dedicava à certificação de carnes Halal exportadas para o Egito. Vários dos lingotes de ouro que seriam descobertos na casa dos Menendez por investigadores federais tinham números que indicam que foram comprados por Hana.

A acusação também afirma que Menendez secretamente redigiu o texto de uma carta que seria enviada pelo governo egípcio a todos os outros senadores solicitando que o Congresso levantasse sua ordem de interromper um envio de equipamento militar estadunidense avaliado em 300 milhões de dólares para o Egito – o envio fora suspenso devido ao golpe militar naquele país, que levou o novo governo ao poder e provocou denúncias de violações de direitos humanos.

Alguns dos subornos, alega-se, foram pagos à esposa do senador, Nadine Menendez, disfarçados de “compensação” por seus supostos serviços em uma consultoria inexistente, pagos sobre a hipoteca para sua casa ou empréstimo para um conversível Mercedes Benz que as autoridades localizaram na casa dos acusados.

Reconhecimento

Em uma longa conferência de imprensa em inglês e espanhol nesta segunda-feira, Menendez reconheceu a severidade da acusação contra ele mas insistiu, como já o fizera desde sexta-feira, quando o escândalo veio à luz pela primeira vez, que é inocente. Respondendo a perguntas sobre as origens dos quase 500 mil dólares em dinheiro que as autoridades encontraram em diferentes partes de sua casa, Menendez insistiu que tudo provinha de seus recursos legais e tentou defender-se com sua suposta história traumática em Cuba: “por 30 anos, retirei milhares de dólares em dinheiro de minha conta pessoal, que mantive para emergências e pela história de minha família enfrentando confiscos em Cuba”, disse.

Mas, como relataram meios de comunicação aqui, a família Menendez emigrou para os Estados Unidos em 1953, anos antes da revolução cubana, e ele nasceu na cidade de Nova York. Mais ainda, a acusação indica que alguns dos pacotes de dinheiro têm impressões digitais ou provas de DNA de uma das pessoas acusadas de tentar subornar o senador, ou de seu chofer, pondo em dúvida que tenham sido fundos retirados de suas contas bancárias pessoais.

Os detalhes da acusação provocaram alguns conselhos: “Teria pensado que isto era óbvio, mas aparentemente não é: se você está aceitando subornos na forma de lingotes de ouro, imagina-se que os limpe bem”, comentou o ex-assessor do Senado Matt Duss, que agora é assessor sênior no Center for International Policy en Washington.

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

LEIA tAMBÉM

Prancheta 55
Reino Unido decide expulsar mais de 50 mil pessoas solicitantes de asilo para Ruanda
Palestina-EUA-Israel
EUA tentam se safar! Israel usa, sim, armas estadunidenses para matar palestinos em Gaza
Bandeira-Geórgia
Geórgia: lei sobre “agentes estrangeiros” aumenta tensão entre governo e oposição
Design sem nome - 1
Mortes, prisões e espionagem: jornalista palestina escancara ‘apartheid’ de Israel