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EUA: Após debate entre vice-candidatos, liderança de Biden aumenta em estados-chave

Últimas ações de Trump e sua equipe não estão ajudando a se salvar do que se converteu repentinamente em um campanha em apuros
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O primeiro e único debate vice-presidencial foi um ensaio para os dois possíveis substitutos em chefe já que são os segundos dos dois candidatos presidenciais mais velhos em enfrentar-se em uma eleição na história do país – um dos quais está contagiado pela Covid-19 – mas o impacto deste ato será mínimo em uma contenda que entra na reta final onde o barco eleitoral de Donald Trump está afundando, por ora. 

O vice-presidente Mike Pence enfrentou sua tarefa de tentar resgatar uma campanha que de repente está correndo risco de perder setores chaves, entre eles os de terceira idade e das mulheres. Para sua desafiadora, a senadora democrata Kamala Harris, a tarefa era demonstrar que está preparada para assumir o posto presidencial se algo suceder a Joe Biden, que seria o presidente mais velho ao iniciar seu mandato, no caso de ganhar. 

A senadora, ex-promotora e a primeira mulher de cor (sua mãe é da Índia e seu pai da Jamaica) se concentrou no manejo da pandemia por Pence e seu chefe declarando no início que “é o maior fracasso de qualquer presidência em nossa história”. 

Pence defendeu as decisões de Trump para realizar a “maior mobilização desde a Segunda Guerra Mundial” para combater a Covid e assegurou que sempre disseram a verdade ao povo.    

A senadora ofereceu seu currículo e experiência, e seu compromisso com a defesa das pessoas comuns, incluindo sua participação em protestos e iniciativas contra o racismo sistêmico, reformas do sistema de justiça, e condenou a negativa de Trump de denunciar os supremacistas brancos. 

Últimas ações de Trump e sua equipe não estão ajudando a se salvar do que se converteu repentinamente em um campanha em apuros

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O primeiro e único debate vice-presidencial foi um ensaio para os dois possíveis substitutos em chefe.

Pence elogiou as conquistas “históricas” do governo de Trump e acusou sua opositora de ser “radical”, defendeu o sistema de justiça, denunciou a violência dos manifestantes e negou que este seja um país racista. 

O debate abordou superficialmente os temas da economia, mudança climática, Suprema Corte, o direito ao aborto e o processo eleitoral – tema em que Pence de novo reiterou suspeitas de que os democratas estão promovendo a fraude. Também se abordou brevemente a China, a Rússia e o Oriente Médio, e o México só foi referência quando Harris recordou exemplos de racismo e xenofobia de Trump. 

Foi um debate muito mais “normal” que o primeiro debate presidencial caótico, com um Pence mascarado, com seu estilo sereno, sua hostilidade fundamentalista ao buscar apresentar a Harris como uma ameaça da esquerda. Harris, por sua parte, reprovou a falta de transparência pessoal e a liderança política do governo atual, sublinhando revelações recentes de que Trump deve mais de 400 milhões de dólares mas ainda não se sabe a quem, e que não pagou impostos.

Mas o tema da pandemia esteve onipresente com um presidente contagiado de Covid e o número de contagiados do circuito presidencial elevando-se a pelo menos 18, com muitos mais de quarentena, inclusive o supremo mando militar. A democrata Nancy Pelosi, presidenta da câmara baixa comentou que “a Casa Branca é atualmente o lugar mais perigoso do país”, pelo contágio atual. 

Poucas horas antes do debate, o presidente emitiu um vídeo por Twitter na qual declarou que se sentia “perfeito” ao superar a doença com a combinação de drogas experimentais às quais qualificou como “uma cura”, e prometeu que proximamente estarão disponíveis para todos os que as requeiram sem custo – algo que especialistas em fármacos dizem que é impossível a curto prazo – e que talvez ainda antes da eleição, se não imediatamente despois, estará disponível uma vacina. Concluiu que a “China tem a culpa” do vírus e ameaçou que esse país “pagará caro” pelo que fez ao mundo.

O presidente iniciou seu dia com quase meia centena de tuítes, retomando sua obsessão de que a investigação oficial sobre a mão russa na eleição de 2016 foi na verdade uma conspiração dos democratas para derrocá-lo. Declarou que seu opositor, o vice-presidente Joe Biden, Barack Obama, Hillary Clinton e outros mais encabeçaram esse “complô traiçoeiro” e que “a Biden não se deveria permitir estar em campanha”. Em outro, agregou que “foram por um Golpe [de Estado]. Quase destruíram nosso país”, e sugeriu que os conspiradores deveriam ser presos e que os meios são parte do complô. 

Enquanto isso, em uma operação obviamente realizada para fins eleitorais, as autoridades migratórias anunciaram que realizaram 128 prisões em jurisdições que se declararam “santuário” na Califórnia, incluindo Los Angeles, San Diego e São Francisco, no que o governo afirmou que é só a fase inicial do operativo.

Falando nisso, um rascunho do informe do Inspetar Geral do Departamento de Justiça obtido pelo New York Times inclui conversas internas sobre operações anti-imigrantes em 2018, nas quais o primeiro procurador geral de Trump, Jeff Sessions, ordena aos seus fiscais na zona fronteiriça com o México que “necessitamos tirar-lhes as crianças” e o subprocurador Rod Rosenstein afirma que não importavam suas idades, ao levar a cabo a política de “tolerância zero” que incluiu a separação forçada de menores de seus familiares imigrantes.

Mas o tom semi-histérico de Trump sobre o “complô” contra ele, junto com seus ataques contra a integridade do processo eleitoral, declarando de antemão uma fraude eleitoral se não ganhar, o manejo irresponsável e enganoso da pandemia, o tema anti-imigrantes e nas últimas 48 horas um manejo errático sobre a política econômica ao frear negociações de um pacote de estímulo econômico que terá consequências imediatas para milhões, não estão ajudando Trump a salvar-se do que se converteu repentinamente em um campanha em apuros. 

Todos os dias, novas pesquisas mostram que a liderança de Biden está aumentando nacionalmente e em estados-chave. Nesta quarta-feira (7), novas pesquisas confirmam vantagens crescentes entre os prováveis eleitores na Pensilvânia, Flórida, Iowa e Nevada. Os indicadores atuais mostram uma mudança dramática com um setor-chave: em 2016, Trump venceu os idosos por 7 pontos, mas pesquisas recentes indicam que Biden está ganhando esse setor por mais de 21 pontos – em parte explicado pelos idosos, efeitos da pandemia neste setor, o mais vulnerável.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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