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Imagem: tprzem / Pixabay

EUA fabricaram paramilitarismo na Colômbia e hoje usam mercenários pelo mundo

Estratégia dos EUA com paramilitarismo na Colômbia foi criada para exterminar “comunistas” e teve tanto êxito que Washington decidiu utilizar os esquadrões em ações internacionais
Elena Freedman
Resumen LatinoAmericano
Bogotá

Tradução:

Ana Corbisier

Yahir Klein, primeiro instrutor do que seriam as Autodefesas Unidas da Colômbia e hoje chamado de Clã do Golfo, ou como eles gostam de dizer, Exército Gaitanista da Colômbia, disse uma vez, e com naturalidade: “Tudo o que os Estados Unidos não podem fazer, porque é proibido intervir em assuntos de governos estrangeiros, faz, claro que faz, mas por meio de outros. Atuei com licença e permissão na Colômbia”. Naquele momento, Klein, junto com Tzadaka Abraham e Teddy Melnik, foi contratado pelo “Cartel de Medellín com a mediação de Yitzhak Shoshani, representante na Colômbia da indústria militar sionista e representante da Hal Cal, empresa contratada pelo Ministério da Defesa de Israel” (Peñaranda, 2024).

O apoio foi mútuo, um tipo de intercâmbio. Em 1982, o Batalhão Colômbia marchou para o Sinai como parte da Força Multinacional e de Observadores, junto com os Estados Unidos, França, Reino Unido e outros países. Com um discurso de “manter a paz” (a paz para os israelenses e, em menor medida, para os egípcios), sua tarefa consistia em estabelecer a segurança perimétrica no campo norte da zona C do Sinai (cerca de 4.400 km²) e proteger as instalações do quartel-general da Força Multinacional de Paz e Observadores (MFO). Segundo o general Sergio Mantilla, em entrevista ao jornal El Tiempo, a Colômbia teve 12 mil soldados na região do Sinai nos primeiros 29 anos de presença na área (Lima, 2013). A última nota publicada na mídia hegemônica foi no final de dezembro de 2023, anunciando uma mudança de comando nessa força, aos 41 anos de sua presença ali, já em meio ao genocídio israelense contra a Palestina. Até hoje, o Batalhão Colômbia se mantém ativo.

O triângulo entre Estados Unidos-Israel-Colômbia foi orientador, financiador, capacitador e provedor de apoio logístico para o ressurgimento do paramilitarismo nos anos 1980, mas o vetor Estados Unidos-paramilitarismo é mais antigo. Renán Vega Cantor lembra: “No ano de 1962 veio uma missão militar (dos Estados Unidos) à Colômbia que fez uma série de recomendações: uma das principais foi a de criar grupos paramilitares para matar todos aqueles denominados naquele momento como ‘comunistas’, o que incluía dirigentes sindicais, camponeses, estudantes, qualquer um que tivesse uma posição crítica em relação ao establishment (Cantor, Renán Vega Cantor: “Estamos no terceiro ciclo de uma guerra que nunca terminou”, 2022).

Vega Cantor enfatiza que os governos dos Estados Unidos avaliaram de maneira muito positiva essa estratégia, que apagou a fronteira entre o legal e o ilegal, o público e o privado, o nacional e o internacional. O paramilitarismo tornou-se tão central para a estratégia militar contra-insurgente “colombiana” que, em 2001, a Human Rights Watch retomou a frase usada por nacionais em todo o país para nomear o paramilitarismo: “A sexta divisão”. Os testemunhos reunidos por essa instituição de direitos humanos enfatizaram que o exército colombiano, formalmente, tinha cinco divisões, mas, na realidade, o paramilitarismo era uma sexta divisão. Os Estados Unidos consideraram-no tão exitoso que o transformaram em um eixo de sua atuação internacional.

Desde então, há um longo e amplo histórico de colaboração de paramilitares colombianos em projetos impulsionados e/ou apoiados pelos Estados Unidos em diferentes partes do mundo. Sua participação foi documentada em lugares tão remotos como Iêmen ou Ucrânia e tão próximos como México, Honduras, Panamá, Brasil, Equador e Peru.

Laços neoliberais: empresas de mercenários preferem colombianos

Em 2014, um artigo do New York Times revelou a participação de um contingente de colombianos contratados pelos Emirados Árabes Unidos, descrito pelo assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, Richard Clarke, como “o melhor aliado contra o terrorismo no Golfo (Pérsico)”. Segundo o Times, o formato original desse contingente foi administrado por uma empresa privada vinculada a Erik Prince, fundador da mais conhecida empresa de mercenários, Blackwater Worldwide, mas posteriormente foi transferido para o governo emiradense. “Os mercenários são uma opção atraente para os países ricos que desejam fazer a guerra, mas cujos cidadãos não querem lutar”, disse Sean McFate, autor de O Mercenário Moderno. “A indústria militar e privada já é global”. Ele acrescentou que os Estados Unidos “legitimaram” a indústria com sua dependência de contratistas no Iraque e no Afeganistão durante mais de uma década de guerra. “Mercenários da América Latina são um sinal do futuro”. Segundo o Times, os Emirados Árabes Unidos recrutavam os colombianos com especial esmero por sua experiência em guerra contrainsurgente (Mazzetti, 2015).

Ainda que os mercenários tenham existido ao longo da história militar da humanidade, as Companhias Militares e de Segurança Privadas (CMSP) são fruto de um processo de institucionalização dos mercenários, acompanhado de novas lógicas neoliberais. “Calcula-se que no mundo existam 300 mil companhias, tanto militares como de segurança, e que termina sendo difícil distingui-las na prática” (Rendón, 2015).

Algumas dessas empresas começaram a estreitar relações no país nos anos 1980, mas suas operações na Colômbia se multiplicaram no contexto do nascimento do Plano Colômbia. “Apenas no ano passado (2002), essas companhias receberam mais de 150 milhões de dólares em pagamentos por operações no país. Ou seja, quase 50% dos 370 milhões que os EUA destinaram à Colômbia durante 2002 para financiar operações militares e policiais caíram em suas mãos” (Maseri, 2003). As empresas que receberam múltiplos e generosos contratos incluíram Lockheed-Martin, Military Professional Resources Incorporated e Irinc Inc. (Rendón, 2015).

“As companhias mencionadas e analisadas correspondem às Military Consultant Firms e às Military Support Firms, que estão ligadas à segurança e atuam fora do conflito e do combate direto, o que não quer dizer que não intervenham, enquanto a Spearhead corresponde às chamadas Military Provider Firms, que treinam e facilitam diretamente as operações no campo de combate. As CMSP e os atores não estatais dentro do conflito colombiano, incluindo pessoas, grupos ilegais e multinacionais, fazem parte do conflito e contratam por diferentes razões. Da mesma forma, Dyncorp, Lockheed-Martin, Telford, DRS, entre outras, concentraram seus esforços em treinar, formar e fornecer todos os seus equipamentos para o fortalecimento e o aperfeiçoamento das capacidades dos soldados, da estrutura hierárquica e das capacidades tecnológicas e logísticas de toda a Força Pública” (Rendón, 2015).

Seguramente, essas relações foram importantes ao buscar colombianos para integrar as redes internacionais que levaram ex-militares como Germán Alejandro Rivera García e seus 26 compatriotas a torturar e matar o presidente do Haiti, Jovenel Moïse, em 2021. Segundo a esposa de Rivera García, ele foi contratado por uma empresa chamada CTU Security para realizar essa tarefa. “O ex-militar conhecia vários integrantes dessa companhia há cerca de dez anos, pois, em sua atividade no Exército, cruzou com eles em exercícios de treinamento” (Mejía, 2023).

Laços atuais: Mercenários colombianos na Ucrânia

Os mercenários colombianos que lutam ao lado das tropas ucranianas, a favor da Otan, têm chamado a atenção da imprensa internacional. Sabe-se que são ex-militares atraídos por “um bom pagamento”, mas que também são motivados por “convicções contra o comunismo”, em referência à Rússia, sem compreender as dinâmicas políticas atuais desse país.

Como afirma Cristian Galindo, jornalista da Sputnik Mundo: “Essas opiniões também podem se basear em pensamentos radicais associados aos grupos paramilitares de extrema-direita colombiana, o que se alinha muito bem com o nazismo ucraniano. O paramilitarismo na Colômbia está fortemente vinculado a uma corrente política também neonazista, que é o ‘uribismo’, razão pela qual podemos observar uma articulação ideológica entre neonazistas da Ucrânia e da Colômbia”, detalhou o signatário do acordo de paz e porta-voz nos diálogos de Havana, Andrés París. (Galindo, 2023)

Neste caso, as contratações não são feitas por meio de uma empresa privada, mas diretamente pela Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, uma unidade militar ucraniana criada a pedido do presidente Zelenski em fevereiro de 2022.

Laços invisíveis: paramilitares a serviço dos latifundiários

Diferente foi a participação dos paramilitares colombianos em Honduras no contexto do golpe de Estado de 2009. O grupo de trabalho da ONU sobre o uso de mercenários afirmou que “informações disponíveis até o momento” sugerem que proprietários de terras contrataram 40 ex-integrantes das Autodefesas Unidas da Colômbia como guardas. “Eles foram recrutados por proprietários de terras em Honduras tanto para sua proteção pessoal quanto para a de suas propriedades”.

O documento acrescenta que algumas fontes de informação “mencionam a existência de um grupo de 120 paramilitares de vários países” da América Latina “para apoiar o golpe de Estado” e prevenir “atos de violência” (Mundo, 2009). Segundo Juan López, líder social e defensor de seu território em Tocoa, Honduras, em uma conversa dias antes de seu assassinato, em 14 de setembro último, “tem-se sustentado que a Corporação Dinant e outros consórcios empresariais que participaram do golpe de Estado de 2009 trouxeram colombianos, chilenos e israelenses, conseguindo isso por meio de relações entre governos” (López, 2024).

Laços vizinhos: paramilitares para derrubar o governo venezuelano

Em 1998, como parte de seu trabalho promocional do Plano Colômbia nos Estados Unidos, o já falecido senador Paul Coverdell anunciou que “para controlar a Venezuela é necessário ocupar militarmente a Colômbia” (USB, 2012). Era claro que controlar o território com as maiores reservas petrolíferas do mundo, 18% das reservas do planeta, estava alinhado ao conceito de segurança nacional dos Estados Unidos.

Naquele mesmo ano, Hugo Chávez venceu as eleições presidenciais, e a ascensão da Revolução Bolivariana alterou a geopolítica das Américas. Além do desejo de controlar os recursos naturais da Venezuela, havia a intenção de derrubar o governo que promovia a construção de uma verdadeira soberania.

Das muitas tentativas de magnicídio contra Hugo Chávez e, posteriormente, contra Nicolás Maduro, a maioria envolveu grupos de paramilitares colombianos. O caso da Operação Daktari (2004) foi um dos primeiros. Dois anos após o fracassado golpe de Estado no país vizinho, 153 paramilitares colombianos foram detidos por tentativa de magnicídio. A investigação revelou que o chefe da operação, o “Comandante Lucas”, era colaborador direto do ex-líder das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), Salvatore Mancuso.

Em 2019, durante o concerto “Venezuela Live Aid”, que, mais do que um evento artístico-cultural, fazia parte de uma operação político-militar contra o governo bolivariano, Juan Guaidó, então “autoproclamado presidente” e principal figura da oposição pró-imperialista, foi fotografado ao lado de conhecidos líderes da Banda Rastrojo na fronteira de Cúcuta.

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O caso mais emblemático foi a Operação Gedeão, em maio de 2020, outra tentativa fracassada contra Nicolás Maduro, cujo objetivo era capturá-lo e entregá-lo aos Estados Unidos. O escândalo foi tão grande que se tornou impossível encobri-lo. O então procurador, Francisco Barbosa, um homem alinhado às motivações ideológicas por trás da operação, foi forçado a se pronunciar e agir: “Com o objetivo de capturar membros do Governo de Nicolás Maduro, toda a operação foi planejada na cidade de Bogotá” (Telesur, 2021).

Jordan Goudreau, ex-boina verde com experiência no Iraque e no Afeganistão, proprietário da empresa Silvercorp e conhecedor da região por ter prestado serviços de “segurança” no Venezuela Live Aid, foi convidado a Bogotá, onde a ação foi planejada. Posteriormente, ele e Cliver Alcalá, venezuelano radicado na Colômbia e opositor da revolução bolivariana da qual um dia fez parte, deslocaram-se com o grupo recrutado para realizar o treinamento militar em Maicao, município costeiro de La Guajira.

Duas lanchas se aproximaram da costa de La Guaira, na Venezuela. Uma delas conseguiu desembarcar na praia, onde era esperada por um grupo de pescadores, milicianos e policiais que capturaram os criminosos – colombianos, venezuelanos e estadunidenses. Outros participantes da Operação Gedeão morreram na tentativa.

O escândalo mais recente envolvendo o paramilitarismo e os grupos opositores, apoiados pelos Estados Unidos, ocorreu no prelúdio das eleições de julho passado. As Autodefesas Conquistadores da Serra Nevada (ACSN) chegaram ao país vizinho para realizar sabotagens à infraestrutura e gerar caos, buscando deslegitimar o processo eleitoral. Em um comunicado, relataram que foram convidados por setores da extrema-direita venezuelana, que contataram suas unidades no departamento de La Guajira para articular um plano de desestabilização contra Maduro (Periferia Prensa, 2024).

Laços ineludíveis: Bases militares dos Estados Unidos

Em todas essas histórias, uma pergunta ineludível é: qual é a relação das bases militares estadunidenses com o paramilitarismo colombiano, dentro e fora das fronteiras?

Desde 2009, apesar de uma decisão contrária da Corte Constitucional da Colômbia, os Estados Unidos mantêm sete bases militares em território colombiano, resultado de um convênio assinado pelos então presidentes Álvaro Uribe e Barack Obama. O convênio buscava dar continuidade ao Plano Colômbia, que se anunciava como um tipo de “Plano Marshall” para o país, mas cujo objetivo contra-insurgente era evidente.

O acordo, assinado em 2009, foi justificado com o argumento de combater o narcotráfico e o terrorismo, entendido como contra-insurgência. O primeiro objetivo é questionável, já que há múltiplas evidências em diferentes países, incluindo México, Panamá, El Salvador, Nicarágua e Venezuela, sobre a participação da CIA no tráfico de drogas. Além disso, em 2001, a revista Semana revelou que a empresa DynCorp, contratada pelos Estados Unidos para realizar fumigações de cultivos ilícitos na Colômbia, estava traficando heroína para uma base militar estadunidense na Flórida (Semana, 2001).

O acordo estipula: “O Governo da Colômbia, em conformidade com sua legislação interna, cooperará com os Estados Unidos para levar a cabo atividades mutuamente acordadas no âmbito do presente acordo e continuará permitindo o acesso e uso das instalações da Base Aérea Germán Olano Moreno, Palanquero; da Base Aérea Alberto Pawells Rodríguez, Malambo; do Forte Militar de Tolemaida, Nilo; do Forte Militar Larandia, Florencia; da Base Aérea Capitán Luis Fernando Gómez Niño, Apiay; da Base Naval ARC Bolívar, em Cartagena; e da Base Naval ARC Málaga, em Bahía Málaga; além de permitir o acesso e uso de outras instalações e localizações acordadas pelas Partes ou suas Partes Operativas” (Texto do acordo militar entre Colômbia e Estados Unidos, 2009). O convênio tinha uma duração inicial de dez anos, prorrogáveis.

Segundo os Estados Unidos, não há nenhuma base militar sua na Colômbia. “O que há são bases colombianas com uma presença quase constante de pessoal militar e contratistas estadunidenses”, disse à AFP Adam Isacson, diretor do Programa de Monitoramento de Defesa da Oficina de Washington para Assuntos Latino-Americanos (WOLA). “Em nenhuma base na Colômbia há um comandante estadunidense, nem se iça a bandeira dos Estados Unidos”, acrescentou (AFP, 2018). Essa classificação surrealista de “bases e quase bases” permite uma forte presença militar e sustenta uma política negacionista.

Vega Cantor discorda

“…não são sete. São entre 40 e 50 bases militares… Estamos falando de localizações geoestratégicas diretamente manejadas por pessoal dos EUA. Então, é importante dizer uma coisa: quando se falava das famosas sete bases, que levaram à assinatura de um acordo vergonhoso, em 30 de outubro de 2009, entre Colômbia e EUA, acontece que isso foi posteriormente revogado, em termos legais, pelas cortes colombianas. E, a partir daí, na Colômbia diz-se que não há bases militares dos EUA. Isso é um sofisma, porque a Colômbia é um país que cultiva as formas, especialmente as formas jurídicas. Assim, supõe-se que o que juridicamente não existe, na realidade não existe” (Cantor, 2021).

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Apesar da decisão da Corte Constitucional contrária ao acordo, ele foi mantido, com o então presidente Santos argumentando que a decisão não era retroativa. Contudo, 15 anos depois, não se sabe se o acordo foi prorrogado ou se a situação se mantém apenas por inércia.

Qual é a relação dessa presença militar estadunidense com a estratégia paramilitar dentro e fora da Colômbia? É possível que, compartilhando os mesmos objetivos, as mesmas relações e os mesmos espaços geográficos, não haja nenhum vínculo? Por que há tanto silêncio sobre algo tão transcendental?

São perguntas muito difíceis de responder, precisamente porque a estratégia paramilitar tem em sua essência a fusão do legal e do ilegal, do nacional e do internacional, da esfera privada e da esfera pública. Contudo, neste momento histórico, em que o paramilitarismo está se reconfigurando no nível nacional, sendo a força armada cuja presença mais aumentou nos últimos anos, e em que a privatização do intervencionismo militar continua em ascensão, essas perguntas precisam de respostas.

O fundo do quadro

O que têm em comum todas as gestas militares que contam com o apoio de militares e/ou ex-militares ou paramilitares colombianos? Em 100% dos casos, essa participação ocorre em favor de forças apoiadas, política e/ou militarmente, pelo governo dos Estados Unidos. E, em quase todos os casos, realizam-se em lugares onde está em jogo o controle de recursos naturais como terra, petróleo e gás.

Vega Cantor explica a relação entre o deslocamento do exército colombiano e os projetos de exploração de recursos naturais no país:

No território colombiano, de norte a sul, há o que aqui se chama de “batalhões mineiro-energéticos e infraestruturais”, e este é um dado de 2015, já desatualizado, porque aqui é difícil conseguir informações atualizadas devido ao que isso representa. Em 2015, 82 mil militares estavam alocados nesses batalhões. 82 mil militares: um terço das Forças Armadas do exército colombiano era utilizado em batalhões mineiro-energéticos de norte a sul.

E o que fazem esses batalhões mineiro-energéticos? Pois bem, estão na entrada de uma refinaria, na entrada de uma mina de carvão, na entrada de uma exploração de ouro, de cobre, em um ponto fundamental de infraestrutura viária, em uma ponte, etc. (Cantor, 2021).

Poderíamos fazer um mapa similar com o deslocamento de forças paramilitares colombianas a nível internacional. No Oriente Médio, encontra-se o centro da disputa por recursos petrolíferos. As repúblicas de Donetsk e Lugansk eram o coração industrial e mineiro da Ucrânia antes de estabelecerem sua autonomia; possuem cerca de 15% das jazidas de lítio conhecidas no mundo, ao mesmo tempo que representam a fronteira entre a Europa, controlada pela Otan, e a Rússia, que contrapõe a hegemonia dos Estados Unidos. Honduras pode parecer um país menos interessante para a geopolítica, mas seus latifundiários queriam proteger a todo custo seus monocultivos de palma africana diante de um processo de recuperação de terras em uma zona onde os donos dessas terras férteis, a empresa processadora de óleo de palma e os narcotraficantes se confundem em um único quadro. O caso da Venezuela, com as maiores reservas de petróleo do mundo, é parte desse insidioso mapa, e seu exemplo de poder popular e anti-imperialismo a transformou em um “perigo” para a segurança nacional dos Estados Unidos. O caso do Haiti é mais difícil de localizar nesse mapa, mas é importante recordar que a primeira invasão dos Estados Unidos a essa ilha, em 1914, foi a pedido dos banqueiros de Wall Street.

E, claro, em algum lugar desse quadro estão as incontáveis vítimas do paramilitarismo. Homens e mulheres que pagaram o preço de sua rebeldia contra a injustiça ou que simplesmente estavam no lugar errado no momento errado. É por elas e eles, e pelos que poderiam evitar um desfecho cruel no futuro, que devemos responder às perguntas em aberto e desmontar a máquina de morte.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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